sábado, 3 de agosto de 2002

Essa Mulher

Ana Terra



De manhã cedo, essa senhora se conforma

Bota a mesa, tira o pó,

lava a roupa, seca os olhos

Ah, como essa santa não se esquece

De pedir pelas mulheres,

pelos filhos, pelo pão

Depois sorri meio sem graça e abraça

Aquele homem, aquele mundo

que a faz assim feliz.



De tardezinha, essa menina se namora

Se enfeita, se decora,

sabe tudo, não faz mal

Ah, como essa coisa é tão bonita

Ser cantora, ser artista,

isso tudo é muito bom

E chora tanto de prazer e de agonia

De algum dia, qualquer dia,

entender de ser feliz.

De madrugada, essa mulher

faz tanto estrago

Tira a roupa, faz a cama,

vira a mesa, seca o bar

Ah, como essa louca se esquece

Quantos homens enlouquece

nessa boca, nesse chão



Depois parece que acha graça e agradece

Ao destino, aquilo tudo

que a faz tão infeliz.

Essa menina, essa mulher, essa senhora

Em que esbarro a toda hora

No espelho casual

É feita de sombra e tanta luz

De tanta lama e tanta cruz

Que acha tudo natural


Nenhum comentário: