segunda-feira, 24 de junho de 2019

quando o medo se distrai

ah, como somos felizes quando o medo se distrai. esses dias livres, essas horas sem angústia, o tempo preenchido da conversa infinita, do abraço, da alegria, dessa certeza insistente. como somos leves quando os algozes adormecem, quando a insegurança relaxa, quando a canoa desliza. como somos águas claras quando a areia se ajeita no fundo. como somos águas calmas quando ninguém precisa nadar contra a correnteza. como somos água, quando não há medo, quando ele se distrai... Ele, o medo de morrer na terceira margem do rio.

domingo, 16 de junho de 2019

sobre a dor dos sonhos desistidos

tenho tido pesadelos
acordo triste, machucada
passo as noites acuada e com frio
e desperto nesse vazio
de tantas manhãs doloridas

mas o que me dói
não são as noites mal dormidas
nem os pesadelos medonhos
o que dói são os sonhos
desistidos numa madrugada só

sábado, 15 de junho de 2019

Acordei de um coma, devo entrar em outro

Não há como evitar. Aconteceu. É um caminho sem volta. Só há cura depois do coma. Se eu pudesse desejar, queria que viesse assim: sono profundo, silêncio absoluto, ignorância total. Se eu pudesse desejar como passar por esse momento inevitável de pausa, eu queria muito que fosse de olhos fechados, com o coração pausado e a respiração tranquila. Na vida real, eu sei, costuma ser bem mais difícil do que isso. Só espero acordar viva.  

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Eu adoeci

Tá muito difícil. Tá difícil demais. Eu não tô conseguindo.

Quero acreditar que adoeci e que posso me curar. Quero ver a saída, mas agora não enxergo nada. Estou cega de dor. Tão rapidamente aquelas certezas que me encheram os olhos e a vida de beleza, se perderam por lá, mas eu já estava entregue e, então, me perdi. Estou perdida, completamente. Entrei nesse caminho tortuoso de mãos entrelaçadas, mas as perdi, e fiquei profundamente perdida. Quero achar a saída, mas agora não acho nada. Não consigo amenizar essa angústia, essa ansiedade, essa sensação diária de vazio e perda que me adoeceu. Eu adoeci de fé, adoeci de desejo, adoeci de espera, de insegurança, de esperança. Eu adoeci desse futuro que me abriu um universo inimaginável e maravilhoso, mas que se desfez muito antes de ser. Na mesma velocidade com que veio, se foi. Talvez nunca tenha existido de fato. Foi um rompante, um engano, uma ilusão. Eu adoeci dessa ilusão. Quero ter saída, mas agora não tenho nada. Estou cega de desilusão.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

a namorada que eu queria

Todo dia 12 de junho 
eu queria querer
tirar uma foto
com a minha namorada.

Todo dia 12 de junho
eu queria amar
publicar mil fotos
com a minha namorada.

Todo dia 12 de junho
eu queria morrer de alegria
na conversa e no vinho
com a minha namorada.

Todo dia 12 de junho
eu queria desejar 
fazer amor sem fim
com a minha namorada.

Todo dia 12 de junho
eu queria enlouquecer
fazendo amor sem fim
com a minha namorada.

Todo dia 12 de junho
eu queria voar de sonhar
sonhos incríveis
com a minha namorada.

Todo dia 12 de junho
eu queria dormir feliz
grudada e encaixada
na minha namorada.

Todo dia 
eu queria que fosse
12 de junho
se eu tiver
uma namorada
que eu queira
que eu deseje
e que eu ame
todo dia.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

E.T. phone home

eu guardo
coisas
pelas casas
onde estou
para decorar
um dia
uma casa
onde eu
seja

eu guardo
coisas
que talvez
morram
comigo
sem nunca
ter tido
uma casa
para ser

eu guardo
coisas
em mim
como se
assim
eu seja
sempre
alguém
em casa

domingo, 2 de junho de 2019

como é gostosa a noite 
quando amanhã vou acordar no seu sorriso

rede para a queda não há
cabo de aço para o salto não há
tubo de oxigênio para o mergulho não há

mas se fico ancorada no cais, sou eu que não existo