quinta-feira, 29 de setembro de 2011

haikai de um beijo meu

para velar te
o sono que ha de vir
para te dormir

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

haikai do coração que ancorei nela

no infinito
da minha miséria
é sempre você

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

recompensa injusta

se a gente faz a coisa certa, não deveria ficar tudo bem?
tudo bem pra todo mundo, tudo bem todo dia?
não deveria haver mais alegria?

em vez do buraco no peito, não era pra haver um alento?
tudo bem pra gente, tudo bem pro outro?
não era pra haver mais conforto?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

enfeite

a resposta é uma pedra de jade:
seu medo é da verdade.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

a pessoa que ninguém conhece

que será esse medo que você sente
sem razão presente que faça temer?

que será essa vida que você inventa
que em vez de proteger acorrenta?

que será esse ciclo que você repete
que transforma em seu carrasco quem se mete?

que será essa coisa em você sem nome
que sem querer consome a bondade do seu amor?

que será esse estranho profundo
que esconde você do mundo mas massacra quem tenta te amar?

(perguntas que dia a dia permito em mim morrer
com a tristeza infantil do meu fracasso em responder)

domingo, 11 de setembro de 2011

dia cisne negro

as cicatrizes
sempre elas
no corpo em relevo
pra gente sentir e lembrar mesmo 
quando já devia ter esquecido.
as cicatrizes de você que vinha 
para o que desse e viesse comigo.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

somos só estatísticas, anyway

Em cada cem pessoas, aquelas que sempre sabem mais: cinquenta e duas.
Inseguras de cada passo: quase todo o resto.
Prontas a ajudar, desde que não demore muito: quarenta e nove.
Sempre boas, porque não podem ser de outra maneira: quatro – bem, talvez cinco.
Capazes de admirar sem invejar: dezoito.
Levadas ao erro pela juventude (que passa): sessenta, mais ou menos.
Aqueles com quem é bom não se meter: quarenta e quatro.
Vivem com medo constante de alguma coisa ou de alguém: setenta e sete.
Capazes de felicidade: vinte e alguns, no máximo.
Inofensivos sozinhos, selvagens em multidões: mais da metade, por certo.
Cruéis, quando forçados pelas circunstâncias: é melhor não saber nem aproximadamente.
Peritos em prever: não muitos mais que os peritos em adivinhar.
Tiram da vida nada além de coisas: trinta (mas eu gostaria de estar errada).
Dobrados de dor, sem uma lanterna na escuridão: oitenta e três, mais cedo ou mais tarde.
Aqueles que são justos: uns trinta e cinco. Mas se for difícil de entender, Três.
Dignos de simpatia: noventa e nove. Mortais: cem em cem – um número que não tem variado.

Wislawa Szymborska, poeta polonesa
(mais uma extraordinãria que minha professora Tati Fadel me apresentou)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

um trecho de visão

Na sombra de um templo, meu amigo me apontou um cego.
Meu amigo disse: "Este homem é um sábio".
Aproximamos, e perguntei: "Desde quando o senhor é cego?"
"Desde que nasci."
"Eu sou um astrônomo", comentei.
"Eu também", o cego respondeu. E, colocando a mão em seu peito, disse: "Passo a vida observando os muitos sóis e estrelas que se movem dentro de mim".


10/5/1916 - Gibran Kahlil Gibran, poeta libanês

ela espera uma menina, eu espero ela

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz

Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
e quando o meu coração
Se inflama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém (será?)
Porém eu não sei viver sem
E fim


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

de quando nos reencontramos nessa madrugada de setembro


Re-Declaração de Romance
por Wallace Stevens

A noite nada sabe dos cantos da noite
É o que é como eu sou o que sou:
E em percebendo isto percebo-me melhor

E percebo-te melhor. Só nós dois podemos trocar
Um no outro o que cada um tem para dar.
Só nós dois somos um, não tu e a noite,

Nem a noite e eu, mas tu e eu, sozinhos,
Tão sozinhos, tão profundamente nós mesmos,
Tão para lá das casuais solidões,

Que a noite é apenas um fundo para nós,
Supremamente…

domingo, 4 de setembro de 2011

primavera


o bom filho à casa torna