domingo, 27 de maio de 2007

A Revolução e A Borboleta

Quanto mais longe
mais longe
O tempo se bifurca

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Uma experiência

Talvez seja uma das experiências humanas e animais mais importantes. A de pedir socorro e, por pura bondade e compreensão do outro, o socorro ser dado. Talvez valha a pena ter nascido para que um dia mudamente se implore e mudamente se receba. Eu já pedi socorro. E não me foi negado.

Senti-me então como se eu fosse um tigre perigoso com uma flecha cravada na carne, e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem lhe tiraria a dor. E então uma pessoa tivesse sentido que um tigre ferido é apenas tão perigoso como uma criança. E aproximando-se da fera, sem medo de tocá-la, tivesse arrancado com cuidado a flecha fincada.

E o tigre? Não, certas coisas nem pessoas nem animais podem agradecer. Então eu, o tigre, dei umas voltas vagarosas em frente à pessoa, hesitei, lambi uma das patas e depois, como não é a palavra o que tem importância, afastei-me silenciosamente.

Clarice

quarta-feira, 23 de maio de 2007

A importância de High School Musical e o começo de algo novo

As crianças gritavam, choravam, esperneavam, abraçavam os pais com uma mistura de desespero e alegria. Qualquer insinuação - mesmo que singela - da presença deles nas redondezas era motivo para histeria generalizada. Coisa que eu, particularmente, não via desde o show do Menudo, nos anos 80, ou desde a adoração setentina por John Travolta e Olivia Newton-John, em Grease. Coisa que se parece com o fascínio histérico nos vídeos antigos de fãs dos Beatles. Fanáticos, apaixonados, loucos, delirantes. Foi lindo. E assim, o show do mais novo fenômeno da Disney me mostrou, na platéia, o começo de algo novo – the start of something new.

“Eles não tinham ídolos da geração deles”, me disse uma mãe que acompanhava a filha de 12 anos ao show. “As crianças adoravam Shakira, Latino, funk carioca. Já estava na hora de ter alguém que dissesse algo de bom para os nossos filhos.”

Nada contra Shakira, Latino ou funk, mas as cinquenta mil pessoas que lotaram o estádio do Morumbi parecem concordar que Troy, Gabriella, Ryan e Sharpay – a mais adorada entre os personagens do musical – têm mais coisas boas a dizer do que os outros. “No High School eles cantam letras sem bobagem, dançam, estudam, fazem esporte, fazem arte, se divertem, namoram, convivem com a família... tudo que a gente quer que nossos filhos façam”, disse outra mãe. Tudo que eu quero que meus sobrinhos sejam.

Ter ídolos é importante em qualquer momento da vida. Mais ainda na infância e na adolescência, quando a gente está criando identidade, descobrindo onde se encaixa. O ídolo é um espelho ou um objetivo. É o caso de amor, o ideal, o sonho que motiva, que inspira, que dá exemplo e, às vezes, que dá razão para a vida em uma fase de tantas dúvidas e questionamentos.

Na platéia de High School Musical ninguém questionava nada. Para quê? Aquele era o único momento da vida inteira. Não estou exagerando. Aquelas crianças fariam qualquer coisa para estar lá. Qualquer coisa. Grandes, pequenas, ricas, pobres, educadas ou não, lindas ou apenas bonitas – porque criança feia não há -, simpáticas e desinibidas ou tímidas e recatadas, todas no auge da paixão: aquelas crianças fariam qualquer coisa para estar lá.

As mães, elegantes ou não, jovens ou nem tanto, satisfeitas ou mal-humoradas com a aglomeração de gente, sabiam que os filhos morreriam se perdessem aquilo. Por isso levaram os pequenos, sem reclamar e também sem fazer perguntas. E pais, e tias, e tios, primas, irmãos, até avôs e avós - todos em um turbilhão coletivo, a magia que se cria quando algo de bom está por vir. É romântico, mas é preciso ser assim. É disso que precisam as crianças, os adolescentes, os adultos. De romance, de mágica, de menos chatice e rigidez, de novidade boa.

Essa é a importância de High School Musical. Trazer algo de novo – ainda que seja velho. Trazer o velho que se perdeu e que, por isso, é novo de novo. Transformar o futuro. Transformar as crianças que se tornam adultos antes do tempo em crianças outra vez. Eles não tinham ídolos deles, agora têm. E a importância desses ídolos, difícil de acreditar para quem é rebelde, é muito maior do que o próprio sucesso. As crianças que amam, gritam e choram, sabem.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

O verbo perdido no câncer

Existe um câncer dentro de mim.
Dentro do câncer, nada.

Uma camada é de alívio.
A outra é de solidão.

Existe uma emoção
inacabada.

Existe um câncer dentro do nada.
É uma facada, e um carinho.

Um caminho no meio da pedra.
Petra, Joana, Fedra.

Existe um câncer dentro do sonho.
Um cisto medonho, de morte.

Existe um câncer na sorte.
Um jogo vendido.

Existe um soldado rendido.
Uma guerra em que eu não vou entrar.

Depois do câncer,
existe um lugar.

Existe um câncer dentro de mim.
E ainda não sei o que fazer com ele.

Talvez amar.

sábado, 5 de maio de 2007

qual queres

qualquer coisa que eu escreva vai ser a mesma
qualquer sentimento que eu tenha vai ser o mesmo
qualquer escritora que eu ame... não! vai ser a mesma

qualquer mês
qualquer caneta
qualquer repetição

qualquer macaco
qualquer cansaço
qualquer canção

qualquer pessoa que eu ame vai ser a mesma

qualquer destino que eu tenha
qualquer alegria que venha
qualquer solidão

qualquer desejo que falte vai ser o mesmo
qualquer vontade que bate vai ser a mesma
qualquer saudade que mate vai ser a mesma

qualquer cachorro que late
qualquer dia que eu espere
qualquer palavra que fere

qualqueres

qualquer noite que eu esqueça vai ser a mesma
qualquer novidade que eu conheça vai ser a mesma
qualquer segunda que amanheça
qualquer terça
qualquer quarto
qualquer oitava que eu alcance
qualquer melodia que eu dance

qualquer casa que eu avance
vai ser a mesma

a rainha está perdida
Toda idéia é válida

tive uma
te dar um beijo

uma idéia
uma vontade
um impulso
um desejo

uma melodia que vai colar na sua cabeça
não esqueça
não esqueça
deixa