quarta-feira, 23 de maio de 2007

A importância de High School Musical e o começo de algo novo

As crianças gritavam, choravam, esperneavam, abraçavam os pais com uma mistura de desespero e alegria. Qualquer insinuação - mesmo que singela - da presença deles nas redondezas era motivo para histeria generalizada. Coisa que eu, particularmente, não via desde o show do Menudo, nos anos 80, ou desde a adoração setentina por John Travolta e Olivia Newton-John, em Grease. Coisa que se parece com o fascínio histérico nos vídeos antigos de fãs dos Beatles. Fanáticos, apaixonados, loucos, delirantes. Foi lindo. E assim, o show do mais novo fenômeno da Disney me mostrou, na platéia, o começo de algo novo – the start of something new.

“Eles não tinham ídolos da geração deles”, me disse uma mãe que acompanhava a filha de 12 anos ao show. “As crianças adoravam Shakira, Latino, funk carioca. Já estava na hora de ter alguém que dissesse algo de bom para os nossos filhos.”

Nada contra Shakira, Latino ou funk, mas as cinquenta mil pessoas que lotaram o estádio do Morumbi parecem concordar que Troy, Gabriella, Ryan e Sharpay – a mais adorada entre os personagens do musical – têm mais coisas boas a dizer do que os outros. “No High School eles cantam letras sem bobagem, dançam, estudam, fazem esporte, fazem arte, se divertem, namoram, convivem com a família... tudo que a gente quer que nossos filhos façam”, disse outra mãe. Tudo que eu quero que meus sobrinhos sejam.

Ter ídolos é importante em qualquer momento da vida. Mais ainda na infância e na adolescência, quando a gente está criando identidade, descobrindo onde se encaixa. O ídolo é um espelho ou um objetivo. É o caso de amor, o ideal, o sonho que motiva, que inspira, que dá exemplo e, às vezes, que dá razão para a vida em uma fase de tantas dúvidas e questionamentos.

Na platéia de High School Musical ninguém questionava nada. Para quê? Aquele era o único momento da vida inteira. Não estou exagerando. Aquelas crianças fariam qualquer coisa para estar lá. Qualquer coisa. Grandes, pequenas, ricas, pobres, educadas ou não, lindas ou apenas bonitas – porque criança feia não há -, simpáticas e desinibidas ou tímidas e recatadas, todas no auge da paixão: aquelas crianças fariam qualquer coisa para estar lá.

As mães, elegantes ou não, jovens ou nem tanto, satisfeitas ou mal-humoradas com a aglomeração de gente, sabiam que os filhos morreriam se perdessem aquilo. Por isso levaram os pequenos, sem reclamar e também sem fazer perguntas. E pais, e tias, e tios, primas, irmãos, até avôs e avós - todos em um turbilhão coletivo, a magia que se cria quando algo de bom está por vir. É romântico, mas é preciso ser assim. É disso que precisam as crianças, os adolescentes, os adultos. De romance, de mágica, de menos chatice e rigidez, de novidade boa.

Essa é a importância de High School Musical. Trazer algo de novo – ainda que seja velho. Trazer o velho que se perdeu e que, por isso, é novo de novo. Transformar o futuro. Transformar as crianças que se tornam adultos antes do tempo em crianças outra vez. Eles não tinham ídolos deles, agora têm. E a importância desses ídolos, difícil de acreditar para quem é rebelde, é muito maior do que o próprio sucesso. As crianças que amam, gritam e choram, sabem.

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