sábado, 21 de fevereiro de 2004

Homem primata.

Homem que mata.




Ela é brasileira. Sempre viveu na cidade, com conforto, agitação, mil amigos e mil irmãos, tios e sobrinhos.

Ele é argentino. Sempre viveu no campo, sozinho. Planta soja, colhe, dorme, acorda e não gasta um tostão.

Ela largou tudo pra se casar com Ele e ir viver lá, na fazenda, transformando a vida, longe de tudo.

Elinha nasceu. Ela começou a se encher daquele fim de mundo, da solidão, da falta de família e de tudo.

Ele é burro e não entende que para fazê-la ficar e feliz, precisa deixar que Ela venha ao Brasil quando quiser.

Mas "não deixa". (Como é que pode, meu Deus?)

Como se alguém fosse dono de alguém. Como se Ela fosse prisioneira, e Elinha, uma coisa que a Ele pertence.

Este mês, Ela o convenceu de que precisava vir. Ele veio junto, claro. E Elinha também, logicamente.

Elinha, radiante, não parou de bincar com os primos, as tias, os avós... numa alegria cheia de gente que nunca vê.

Tão diferente de lá, onde não há ninguém, nem nada, nem coisa nenhuma... Onde vivem só. Só.

Ela veio pra ficar um mês. Ele, egoísta, precisa voltar antes. Para pressioná-la, disse que levaria Elinha.

Ela, boa demais, não quis briga e deixou Ele ir. Avisou, no entanto: tenha certeza pois isso vai te custar caro.

Mesmo assim, Ele foi com Elinha. Tirou a menina de um ano da casa dos avós, dos primos, dos tios, que moram longe.

E levou Elinha de volta pra fazenda, no meio do nada, sem ningu?m. E sem Ela, a m?e, que ficou com a fam?lia.

Ele desrespeitou todo mundo, inconseqüente, imaturo, burro. Muito muito burro.

Terminando de destruir o que, na minha opinião, já está além do tempo regulamentar. Burro. Burro. Burro.

Ela está aqui. Ele e Elinha lá.

Não dá nem pra conceber uma coisa dessas.



Ela é minha irmã.

Ele, o marido. Tomara que futuro ex.

Elinha é a criança mais linda e maravilhosa do mundo. Como a mãe.



Não, ninguém pode acreditar que Ele levou a Sofia embora.

Tomara que minha irmã não demore pra vir embora de uma vez.



Ele é muito burro.

Que raiva dele, Meu Deus, que raiva.