domingo, 25 de junho de 2006

A história passa e pode me levar

Cê sabe que as canções são todas feitas pra você
E vivo porque acredito nesse nosso doido amor

Não vê que tá errado,
TÁ ERRADO ME QUERER QUANDO CONVÉM

E se eu não estou enganado acho que você me ama também

O dia amanheceu chovendo e a saudade me contém
O céu já tá estrelado e tá cansado de zelar pelo meu bem
Vem logo que esse trem já tá na hora, tá na hora de partir
E eu já tô molhado, tô molhado de esperar você aqui

Amor eu gosto tanto, eu amo, amo tanto o seu olhar

Andei por esse mundo louco, doido, solto com sede de amar

Igual a um beija-flor, que beija flor, de flor em flor eu quis beijar

POR ISSO NÃO DEMORA
QUE A HISTÓRIA PASSA E PODE ME LEVAR

E EU NÃO QUERO IR,
não posso ir pra lado algum
enquanto não voltar
NÃO QUERO QUE ISSO AQUI DENTRO DE MIM
VÁ EMBORA E TOME OUTRO LUGAR

Talvez a vida mude e nossa estrada pode se cruzar
AMOR, MEU GRANDE AMOR...
Estou sentindo que está chegando a hora de dormir

Outro lugar, Milton Nascimento, Elder Costa

quinta-feira, 22 de junho de 2006

O título: Fôlego!

Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.

Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.

Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.

Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro. (...)

O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! (...)

Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa. (...)


A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho.

Pertencer (trecho), Clarice Lispector

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Não é

podia ser lindo
mas não é
podia ser claro
podia ser brando

podia ser tranquilo
mas não é
podia ser dia de sol
podia ser chuva boa
podia ser arco-íris
podia ser brisa
mas não é

podia ser alegria
podia ser sonho bom

podia ser aquele domingo
aquela segunda-feira
feriado
mas não é

podia ser alado

podia ser uma escolha
podia ser diferente
podia ser a gente
mas não é

podia ser eu
podia ser Deus
podia ser tudo verdade
tudo mentira
podia ser tudo água
podia ser nada

podia ser a saída
a entrada
a despedida
a chegada
podia ser encerrada

a vida

mas não é

domingo, 11 de junho de 2006

eu posso morrer
de repente
você também
pode morrer
de repente

e o tempo perdido...
não volta

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Nem que seja uma outra versão...

Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim

Vamos acordar
Hoje tem um sol diferente no céu
Gargalhando no seu carrossel
Gritando nada é tão triste assim

É tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos

Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou

E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou

Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos
Tudo Novo de Novo, Moska
...