sexta-feira, 30 de maio de 2008

Louvre, 30 de maio de 2008
Uma carta para outra pessoa:

sinto sua falta quase sempre quando você não está comigo. principalmente quando estou só. hoje, em particular, senti sua falta. porque fui a uma espécie de meca pra mim, e você não estava comigo. talvez até estivesse lá, mas não estava comigo.

caminhei devagar por aquele universo, por cada sala, sem pressa de nada. sem a urgência de ver tudo ou saber tudo. mas respirando aquilo, degustando os detalhes que sugavam meu olhar paciente e contemplativo. e meu andar calmo e observador. nesses momentos, de cada detalhe vivido e guardado, da coisa única que só eu olhava, senti sua falta. na curva de um músculo perfeito, na ponta de um nariz, nas asas do calcanhar, no bico de pena da poesia, em cada deusa, em cada mulher triste, em cada sentimento esculpido, de mármore ou de bronze, senti sua falta.

e senti sua falta também nos pincéis. nos cristos crucificados, nos santos flechados, nas madonas, nas reginas, nos retratos. e principalmente nas luzes, em cada ponto de luz de cada tela em fuga. sentei diante de uma ópera lotada e senti sua falta. fiquei lá sentada, durante longos minutos, só sentindo sua falta. olhando e sentindo a sua falta.

na biblioteca do napoleão e na sala de jantar. nos lustres, nos tetos pintados, nos anjos dourados, na lareira, nos leões, nas cortinas e nas janelas. em tudo, a sua falta.

aqui do lado de fora ainda é dia, mesmo na noite. há um sol lindo, num céu misterioso, e um vento sedutor. sentada agora em frente ao chafariz de sonhos e raios - e com a torre dos desejos ao fundo -, contemplo a sua falta. é tudo o que posso fazer. sentir e contemplar a sua falta.

porque eu não sei quem você é.

me acha?

(estou aqui, no oposto da pirâmide)

merci

sexta-feira, 23 de maio de 2008

sábado, 17 de maio de 2008

há uma saudade que corta.
e essa esperança pregada no muro.
numa localidade da cidade.
numa rua por onde alguém passa
e cruza com seu outro que é o mesmo de si.
e os dois imaginam um futuro girassol.
talvez isso verdadeiramente se desse.
não fosse o muro.
(não fosse o muro)
.