sábado, 30 de junho de 2007

Quer dizer que prostituta merece apanhar?

Eles disseram que bateram na moça porque acharam que ela era prostituta.
Então quer dizer que prostituta merece apanhar?
E tudo bem?

Eu apanho e tudo bem.

Apanho das pessoas que amo.
E tudo bem.

Apanho da vida,
do dia,
da noite.
Apanho do sono e tudo bem.

Eu apanho no trabalho,
apanho no ensaio,
apanho no restaurante
e tudo bem.

Eu apanho das pessoas que amo.
E tudo bem.

Eu apanho em casa,
apanho na rua,
apanho por bilhete
e tudo bem.

Eu apanho quando me levanto,
apanho quando caio,
apanho quando espero...
e tudo bem.

Eu apanho das pessoas que amo.
E tudo bem.

Eu apanho porque existo.
Apanho porque quero.
Apanho porque não quero.
Eu apanho porque tudo bem.

Eu apanho das pessoas que amo,
por engano.

E tudo bem.

terça-feira, 26 de junho de 2007

De como a vida pode pregar peças ou brincar com a gente em uma data
vinteeseisdejunho
dedoismileseis - ou sete?
A
M A
R
E L
I
N H
A
vinteeseisdejunho
dedoismilesete - ou seis?

sábado, 23 de junho de 2007

Poema de sexta
(a tati, minha instrutora literária, que mandou, aqui pro meu quarto)

Tu me deixas aqui ou partes comigo?
Estou dentro de ti ou é que me chamas?
Vives única em mim ou encontro o mundo em ti,
contigo?

A ordem das coisas em que te amo,
onde começa ou acaba?
Agora está o silêncio aposentado
na rosa do ar
e uma árvore perto trina entre os pássaros
para sombrear teu sonho ou é meu sonho?

É esta uma prisão ou acaso o vasto céu
começa aqui onde teus pés
tocam juntos a terra, ou é a lua?

De pronto entro na luz que já habito
e meus olhos se encontram com tua testa.
Busco sair de ti e te levo dentro
de mim, sem encontrar-te.
Sem como, onde ou quando.

Cego na luz com meu olhar aberto
a tanta multidão de ti que ando
extraviado na noite na metade do dia.

Issac Felipe Azofeifa, o maior poeta da Costa Rica

domingo, 17 de junho de 2007

Poema de domingo
(a nana, minha sobrinha, que fez, aqui no meu quarto)

Macacos
Macaquinhos
Bem temperadinhos
Um pra cá
Outro pra lá
Um amarelo
Outro no chinelo

sábado, 16 de junho de 2007

I
Fantasia: As Duas Escolas Literárias
Foi Assim, Divino, Encantado, Lindo.
Faz Anos Do Encontro, Lembra?
Ficou Ali, Dentro E Longe.
Ficou Aqui, Distante E Leal.
Ficou Aconchegado Direitinho. E Lacrado.
Foi Assim, Dantesco, Ecumênico, Literal.
Filhas, Amigas, Doentes E Loucas.
Faz Amar, De Estranha Longevidade.
(Faz Amor, De Estonteante Luxúria.)
Falamos, Andamos, Dividimos Estórias Livres.
Ficamos Acordadas, Doces, Efêmeras, Leves.
Finalmente A Dor Encontra Lacuna.

terça-feira, 12 de junho de 2007

notas do dia
do meu pai para a minha mãe, no cartãozinho do presente:
"Com todo o meu amôr (sic)
para a minha velha e eterna namorada"
da carolina:
"felish douze do seish"
do lex luthor:
"não tente ferir aquilo que não pode matar"

sábado, 9 de junho de 2007

em entrevista a clarice
se me pedissem um quadro da solidão,
eu escolheria a fotografia de um teatro vazio
bibi

Emudecedor
Em visita a Clarice, no Museu da Lígua Portuguesa,
descobri que, de tudo, o que ela mais gostava era de ser a mãe de Paulo e de Pedro.
Em visita a mim mesma, no silêncio do palco - um dos quartos da minha casa -
descobri que o que eu mais gostaria de ser não serei.
Em visita à noite, no frio do espaço entre o nada e o que vem depois,
descobri que tudo pode piorar. Muito.
Portanto, não espere a minha visita.
Entreviste o espelho.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Não Por Acaso
Devolva-me os laços, meu amor.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Dos cem-menores-contos do século
Do momento-menor-menina da minha vida
De sentir-me-menos
QUATRO LETRAS
Nada
Raimundo Carrero
Quando acordou,
o dinossauro ainda estava lá.
Augusto Moterroso
Ali, deitada, divagou:
se fosse eu,
teria escolhido lírios.
Adriana Falcão
FIM
Corpos se separam.
Ofegantes ainda.
E distantes para sempre.
Alberto Guzik
PODE
Você pode morrer
a qualquer momento.
André Sant'Anna
- Morreu de quê?
- Gastou-se.
Eugênia Menezes
ÁPICE
Diz que é pueril!
Mas depois tudo foi morrendo.
João Paulo Cuenca
ATRIZ NO DIVÃ
- Doutor, o senhor
já me viu representar?
- Fora daqui?
Livia Garcia-Roza
- Mulher, como estás gorda!
- É... tô comendo o pão
que o Diabo amassou.
Maria Pereira de Albuquerque
LAST BLUES
Não espalho,
mas ando triste pra caralho.
Mário Bortolotto
Quando dei por mim,
já havia esse cárcere.
Ronaldo Cagiano
CONFISSÃO
- Fui me confessar ao mar.
- O que ele disse?
- Nada.
Lygia Fagundes Telles
ADEUS
Então disse:
- Viver era isso?
E fechou lentamente os olhos.
Miguel Sanches Neto