segunda-feira, 30 de julho de 2007

medrosa

eu sou muito medrosa
cínica covarde
sonsa injusta

eu não sei fazer justiça
não sei como faz justiça
eu não tenho coragem de enfrentar nada

tenho que enfrentar a violência e a grosseria
e ir à luta pelo pão de cada dia
sou advogada de defesa e salva-vidas

eu não tenho coragem de enfrentar nada
eu não tenho coragem de enfrentar nada
eu não tenho coragem de enfrentar nada

Entrevista com Stela do Patrocínio

sábado, 28 de julho de 2007

vinte e sete do sete de dois mil e sete

meu dia passou
nunca passado

meu amor acabou
nunca acabado

26 de julho de 2007


quarta-feira, 25 de julho de 2007

As Pensadoras
Nenhuma outra paixão poderia excitar-me agora. Outros buscam prazer na avareza, na ambição, nas demandas e disputas. A mim, só o amor me interessaria. Devolver-me-ia o cuidado com minha pessoa, a vigilância, a jovialidade; faria com que os tristes sestros da velhice não me desfigurassem; e sem dúvida me induziria a estudos úteis e louváveis que me tornariam mais querido; libertaria meu espírito do desespero e da falta de confiança em seus meios; afastarme-ia de mil pensamentos aborrecidos, de mil melancólicos desgostos que a ociosidade e a falta de saúde provocam; e, pelo menos em sonho, aqueceria este sangue que a natureza começa a abandonar, sustentaria esta cabeça que se inclina, distenderia estes nervos e outorgaria um pouco de vigor e alegria de viver a este pobre homem que caminha a grandes passos para a ruína. Compreendo porém muito bem que o amor não se recupera; por fraqueza e experiência nosso gosto se faz mais exigente e requintado; e tanto mais queremos selecionar quanto menos possibilidades temos de ser aceitos. Reconhecendo nossos próprios defeitos, tornamo-nos mais desconfiados e tímidos. Nada pode assegurar-nos que sejamos amados (...) Envergonho-me, mesmo, de sua companhia, pois nada tenho a mostrar-lhe senão a minha miséria.
Michel de Montaigne, Ensaios, Livro Terceiro, Capítulo V

terça-feira, 24 de julho de 2007

quem sabe o fim da história
lágrimas e chuva
molham o vidro da janela
mas ninguém me vê
kid abelha
vou, vou feliz!
não sei, não dá, certo é que não está.
e olhe bem que aquilo é muito mulher!
Corina

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Capítulo 7

Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.

Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua.


Rayuela, Julio Cortázar
PS: Cortázar escribió una novela, Rayuela, que se podía leer de dos maneras. Si se colocaban los capítulos en el orden fijado por la numeración tradicional, salía un historia. Y salía otra si se seguía un itinerario alternativo.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

a fragilidade da vida

uma chuva
uma gota de água
um segundo

uma escolha
um dia do mês
um vôo

um deslocamento
uma hora do dia
uma derrapada

um susto
uma lista de amores
uma certeza

uma tristeza
um sentimento de impotência
um choro

um fogo
um medo de verdade
uma dor

vida
pisca
morte

terça-feira, 17 de julho de 2007

amor ela não outra não ela amor

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.

Corridinho, Adélia Prado

domingo, 15 de julho de 2007

Um dia eu te disse como ia ser e foi

Ela vinha pensando
Todos os dias
Em como a vida pode ser
Extraordinária

Não pelos fatos
Mas pelos desejos
Pelas incríveis vontades
Que acontecem

Ela vinha sentindo
Todos os dias
O gosto sensível
De se conseguir o que se quer

Não pelos fatos
Mas pelos desejos
Pelas incríveis vontades
Que enlouquecem

sexta-feira, 13 de julho de 2007

II
Folclore: A Diva Está Lá
Fazia, Assim, Décadas... Era Lenda.
Ficava Anos Distante... Era Lenda.
Faltava Achar Direção E Lugar.
Fiz A Diabólica Escalada. Ludibriei.
Fui Assassina, Digamos. E Leviana.
Fui Arrogante, Dissimulada E Literal.
Foi Assustador Demais. Extremo. Lacônico.
Foi Ação Divina, Esclareço Logo.
Fiquei Atônita, Desnorteada, Enlouquecida. Levitei.
Fingi. Admito. Desviei Enquanto Levava...
Fingi, Admito. Devo Estar Louca.
Façamos Amor. Definitivamente Estou Louca.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Mágica

um dia mágico.
outro dia mágico.

mágica.

como é que eu te explico?
não explico.

mágica.

não sei o que é que tem aqui dentro.
não sei o que é que tem aqui dentro.
não sei o que é que tem aqui dentro.
não sei o que é que tem aqui dentro.

luz.

eu tava tomando
claridade e luz.

quando o sol penetra no dia
dá um dia de sol muito belo.

obrigada.
eu tenho que te agradecer por esses dias.
e por todos os dias antes desses quando eu nem sabia deles.

obrigada pela chegada.
por cada instante.
obrigada por cada detalhe.
por cada pessoa.
obrigada pela família.
obrigada pela luz.
obrigada um dia.
obrigada outro dia.

quando no escuro fizeram poça pra pegar a luz.

pois.
pois.
pois.
pois.

e a claridade.

eu de tantas palavras hoje não tenho.
ontem não tive.
hoje não tenho.
amanhã, depois, nunca terei as palavras.

mas o olhar.
cada olhar.
obrigada por cada olhar.

pelo chão a gente não pode ficar.
claridade e luz.

obrigada por cada acontecimento.
e por cada não-acontecimento.
obrigada porque a gente é luz.
claridade e luz.

o futuro eu queria ser feliz.

entende?
pois.

obrigada pela mágica.

um dia mágico.
outro dia mágico.

como é que a gente dorme depois disso?
me diz.

eu não sei como é que pode formar uma cabeça.
não sei o que é que tem aqui dentro.
mas é mágica.

mágica.

terça-feira, 10 de julho de 2007

A manhã

Amanheci sem dia
Como se amanhecer fosse noite
Amanheço ainda noite
Quase sempre

Amanheci tardia
Como se demorar fosse sorte
Amanheço pouco ainda
Quase nada

Amanhecemos longe
Como se o espaço fosse enorme
Amanheçamos mais
Amanhã cedo

Amanhecer sem medo
Como se a saída fosse essa
Amanhecerá talvez sempre
De amanhã em diante

domingo, 1 de julho de 2007

All

so i think it's all over
i guess i'm perfectly covered
there is al

if it's possible
as soon as possible

when i'm crying at night
here comes al

he will look into my eyes
he will say i'm beautiful
he will say i'm the one
i'm the only one

if it's possible
please as soon as possible

al, estela cassilatti
Est...

...ela chorava
e eu
não podia fazer nada

...ela chorava
ali na minha frente
e eu...

...ela chorava
e me partia o coração
mas eu não podia fazer nada

...ela chorava
e nem sabia
que eu, ali...

...ela chorava
e me doía profundamente
mas eu não podia... nada

...ela chorava
tanto
e eu...

...ela chorava
e eu morria por dentro
tão impotente diante de tudo

...ela chorava
mas
por quê?

...ela chorava
e eu nem sabia por quê
e eu nem sei

...ela chorava
e é horrível
não ser ninguém nessa hora

...ela chorava
e eu não sou ninguém
e eu nem sei por quê

...ela chorava
e eu permanecia calada
na minha insignificância

...ela chorava
e talvez
eu pudesse ajudar

...ela chorava
mas
eu nem sei onde ela está agora

...ela chorava
e chorava
e chorava

...ela chorava
e me pediu desculpas
desculpa eu, por te amar e não poder fazer nada.