quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Por Elise
Assisti a um dos espetáculos mais tocantes da minha vida. Por Elise.
Se tentasse dizer dele aqui, seria crime meu.
Grupo Espanca. Uh, e como espanca! Mas com uma delicadeza...
Delicadeza daquelas de que o mundo anda esquecido.
De tanta proteção... de tanto distanciamento... de tanto abacate.
Veja que eu até queria falar um pouco do que senti. Mas me dói.
Porque não sai o que eu sinto. Sai só o que as palavras dizem.
Mas é pouco. Tão pouco. Que é realmente criminoso tentar.

Cuidado com o que você planta no mundo.
Por Mim.

Nos vemos no Japão... se um dia a gente chegar lá.


Por Mim
Tenho pensado muito no TEMPO. Cheguei à conclusão de que é só o que existe, o Tempo. A vida é o Tempo. Afinal, o que é que se faz aqui? Passa-se o tempo. Nada mais. A diferença entre um é outro é COMO se passa esse tempo. Só. E não acho que se trata de uma questão de inteligência, de coragem, de sabedoria, ou de fé. Acho que a questão é simplesmente a CONDIÇÃO. Quem tem condição, passa de uns jeitos; quem não tem, de outro. Outro, sim. Só um. Quem não tem condição passa como dá. Às vezes até com alegria, é verdade. Mas custa a passar. Já quem tem oportunidades, passa melhor, bem melhor. Passa com entretenimento, momentos fantásticos, sensações sempre novas e ousadas. Ao mesmo tempo, podemos inverter tudo. Porque às vezes p tempo de quem tem muitas chances, passa tão ocupado em abrir mais chances, que nem se vê. E os outros curtem... mesmo que for com banho de chafaris e pelada na rua. Ah, sei lá. Só sei que a vida é simplesmente passar o tempo. Porque um dia acaba mesmo, pra todo mundo igual. E mesmo se tiver alguma coisa depois, e daí? Vai ser só mais um tempo pra passar. Não, não é uma visão pessimista de tudo. Muito pelo contrário. Depois que me dei conta disso, tenho tentado passar bons tempos enquanto tenho tempo... pra passar bem. Sem essa encheção que a vida quase obriga.
...

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Deus
(Clarice)

Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte?
Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude.
Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando da minha própria força. Sou forte mas também sou destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais.
De repente
Não mais que de repente
A música ficou triste

Que presentes te daria
Uma estrela vã do firmamento
Pra iluminar o vão do pensamento
Pra iluminar o vão do pensamento

Uma TV na garantia
Árvores plantadas no cimento
E o meu perfume na rosa dos ventos
E o meu perfume na rosa dos ventos
E o meu perfume na rosa dos ventos

Um novo ritmo
Cartas de amor com frente e verso
E meu percurso nesse universo
E meu percurso nesse universo
E meu percurso nesse universo

Nas horas sem fim
Em que a dor não tem mais cabimento
É no teu prumo que eu me oriento
É no teu prumo que eu me oriento
É no teu prumo que eu me oriento

Catedrais de alvenaria
Senhas pra não mais perder a vez
Casa, comida e um milhão por mês
Casa, comida e um milhão por mês
Casa, comida e um milhão por mês

domingo, 11 de setembro de 2005

Meu despertador é o rádio. Estava programado para tocar às 8h. Deixo sempre na CBN. Porque jornalista é assim, meio viciado, e precisa acordar já sabendo o que está acontecendo no mundo. E quando a CBN começou a falar na minha cabeça, o que estava acontecendo no mundo era história. HISTÓRIA.

A primeira notícia era de acidente. Avião bate em uma das torres do World Trade Center em Nova York. Sempre enrolo uma meia hora antes de levantar. Naquela manhã, levantei imediatamente com aquela notícia entrando na minha cabeça acordando, corri pra sala, liguei a tv. O Nascimento já estava lá, ao vivo - como ficaria por mais nove hores ininterruptas. E aquele prédio pegando fogo. De repente: outro avião bate em outra torre, e confirma-se: terrorismo. Bate desesperadamente na porta do quanto dos meus pais, coisa que só faço em situações ímpares. Aquela era, definitivamente A situação ímpar. "Mãe, pelo amor de Deus vem ver isso porque eu não posso ver sozinha". Ela veio. E viu a terrível História sendo feita diante dos nossos olhos descrentes. Corri, me troquei, fui pra tv em tempo recorde. Entrei em disparada e parecia que o tempo tinha congelado. Estava tudo irreconhecível, desde a entrada, até as escadas e a redação. Parecia que ninguém sabia pra onde ir, a quem recorrer em busca de notícias. Ninguém acreditava naquilo. Nós, que vivíamos de notícias, não acreditávamos naquilo. De repente: uma das torres começa a desabafar. O silêncio naquela redação foi uma das coisas mais ensurdecedoras e perturbadoras que já presenciei. O Nascimento, entre palavras solteiras, mudo também, sem ar. Choros disfarçados completavam o silêncio chocante. Aos poucos, alguém ameaçava um movimento ou esboçava uma atitude... e outro silêncio. Outra torre desabando. Definitivamente não dava pra não chorar... de nervoso, de tristeza, de choque, de silêncio.

Por mais que eu tenha as palavras e que consiga impregnar meus sentimentos nesse texto, não posso descrever o que se passou naquela redação naquele 11 de setembro. Como em tantas situações, só quem estava lá sabe o que vivemos, ali, no meio de gente que ajuda a fazer alguns dos maiores telejornais do planeta, e que nunca tinha visto nada como aquela tragédia. Os olhares se cruzavam mudos, perplexos, incapazes de palavra, mas cheios das mesmas emoções e das mesmas perguntas. Aquele silêncio, meu Deus, eu nunca vou esquecer. A gente sabia, ah, sabia, que estávamos presenciando, de dentro da notícia, um dos maiores e mais tristes acontecimentos da história do mundo. E até hoje, nada chegou perto do que foi aquela manhã e os dias que se seguiram. Estar numa redação de jornalismo naquele dia foi uma das coisas mais indescritíveis que já vivenciei.

Ninguém conseguia ir embora da redação. Porque parecia que ali, onde a notícia chega primeiro, estávamos mais dentro, mais presentes... fazíamos mais parte de tudo. Eu fiquei lá até quase raiar o dia seguinte. E ainda não acreditava. Aquele silêncio não saía da minha cabeça e dos meus ouvidos. Até hoje quando lembro, páro por um instante, como se o relógio atrasasse sempre naquele segundo do silêncio.

À parte a tristeza diante de tudo, foi incrível. Uma emoção INCRÍVEL naquela redação.

E o silêncio permanece...