domingo, 11 de setembro de 2005

Meu despertador é o rádio. Estava programado para tocar às 8h. Deixo sempre na CBN. Porque jornalista é assim, meio viciado, e precisa acordar já sabendo o que está acontecendo no mundo. E quando a CBN começou a falar na minha cabeça, o que estava acontecendo no mundo era história. HISTÓRIA.

A primeira notícia era de acidente. Avião bate em uma das torres do World Trade Center em Nova York. Sempre enrolo uma meia hora antes de levantar. Naquela manhã, levantei imediatamente com aquela notícia entrando na minha cabeça acordando, corri pra sala, liguei a tv. O Nascimento já estava lá, ao vivo - como ficaria por mais nove hores ininterruptas. E aquele prédio pegando fogo. De repente: outro avião bate em outra torre, e confirma-se: terrorismo. Bate desesperadamente na porta do quanto dos meus pais, coisa que só faço em situações ímpares. Aquela era, definitivamente A situação ímpar. "Mãe, pelo amor de Deus vem ver isso porque eu não posso ver sozinha". Ela veio. E viu a terrível História sendo feita diante dos nossos olhos descrentes. Corri, me troquei, fui pra tv em tempo recorde. Entrei em disparada e parecia que o tempo tinha congelado. Estava tudo irreconhecível, desde a entrada, até as escadas e a redação. Parecia que ninguém sabia pra onde ir, a quem recorrer em busca de notícias. Ninguém acreditava naquilo. Nós, que vivíamos de notícias, não acreditávamos naquilo. De repente: uma das torres começa a desabafar. O silêncio naquela redação foi uma das coisas mais ensurdecedoras e perturbadoras que já presenciei. O Nascimento, entre palavras solteiras, mudo também, sem ar. Choros disfarçados completavam o silêncio chocante. Aos poucos, alguém ameaçava um movimento ou esboçava uma atitude... e outro silêncio. Outra torre desabando. Definitivamente não dava pra não chorar... de nervoso, de tristeza, de choque, de silêncio.

Por mais que eu tenha as palavras e que consiga impregnar meus sentimentos nesse texto, não posso descrever o que se passou naquela redação naquele 11 de setembro. Como em tantas situações, só quem estava lá sabe o que vivemos, ali, no meio de gente que ajuda a fazer alguns dos maiores telejornais do planeta, e que nunca tinha visto nada como aquela tragédia. Os olhares se cruzavam mudos, perplexos, incapazes de palavra, mas cheios das mesmas emoções e das mesmas perguntas. Aquele silêncio, meu Deus, eu nunca vou esquecer. A gente sabia, ah, sabia, que estávamos presenciando, de dentro da notícia, um dos maiores e mais tristes acontecimentos da história do mundo. E até hoje, nada chegou perto do que foi aquela manhã e os dias que se seguiram. Estar numa redação de jornalismo naquele dia foi uma das coisas mais indescritíveis que já vivenciei.

Ninguém conseguia ir embora da redação. Porque parecia que ali, onde a notícia chega primeiro, estávamos mais dentro, mais presentes... fazíamos mais parte de tudo. Eu fiquei lá até quase raiar o dia seguinte. E ainda não acreditava. Aquele silêncio não saía da minha cabeça e dos meus ouvidos. Até hoje quando lembro, páro por um instante, como se o relógio atrasasse sempre naquele segundo do silêncio.

À parte a tristeza diante de tudo, foi incrível. Uma emoção INCRÍVEL naquela redação.

E o silêncio permanece...

Nenhum comentário: