quarta-feira, 31 de março de 2010

da série Recordar é Viver - 20.04.2003

Procuro alguém que tenha olhos que me olhem fundo.
Alguém que tenha pensamentos comigo. E palavras comigo também.
Procuro alguém que segure muito a minha mão. No cinema, no caminho.
Alguém que adore fazer carinho nas costas e que goste de colo.
Procuro alguém com quem eu converse até amanhecer o dia.
Alguém que durma ao meu lado sorrindo, sem hora.
Procuro alguém que cante alto, ria, pule e brinque igual criança.
Alguém que grite de alegria à toa, só por estarmos lá.
Procuro alguém que almoce comigo em família. E que participe.
Alguém para quem eu leve o jantar, as flores, os detalhes.
Procuro alguém que tenha o que dizer nas conversas ao redor da mesa.
Alguém que dê risada das piadas e que conte outras.
Procuro alguém que tenha detalhes nossos como tesouros.
Alguém que queira ir aos novos lugares, que corra riscos.
Procure alguém que goste de teatro, e de cinema, e de carinho.
Alguém que ame coisas pequenas. Alguém que tenha Deus.
Procuro alguém que me traga de volta as vontades.
Alguém que me provoque, me motive, me acompanhe.
Procuro alguém que queira abraço no frio e carnaval no calor.
Alguém que vá comigo. Alguém que me leve para onde quiser ir.
Procuro alguém que saiba receber e que dê sem cobranças bobas.
Alguém que saiba que não precisa cobrar. Porque há amor.
Procuro alguém que tenha segurança mas que precise de mim também.
Alguém que tope ir a todo tipo de peça. Alguém que me faça fazer exercícios.
Procuro alguém que me telefone no fim do dia e me conte como foi.
Alguém que escute com graça o que eu tenha pra contar.
Procuro alguém que imagine coisas boas, que compartilhe idéias e histórias.
Alguém que não ache nada bobo demais. E que ache tudo bobo e divertido!
Procuro alguém que seja simples, mas com ousadia e ar condicionado no verão.
Alguém que coma pastel na feira - de queijo, de carne, de palmito e de camarão.
Procuro alguém que ache gostoso ir ao supermercado comigo.
Alguém que se arrisque na cozinha e que me ensine a não usar tanto sal.
Procuro alguém que compre Contigo! sem culpa e que assista a Friends.
Alguém que compartilhe meu fascínio por Clarice. E que também a ame.
Procuro alguém que finja não ter para de repente ter o susto de ter!
Alguém que leia, que procure, que insista, que questione, que responda.
Procuro alguém com força e com delicadeza.
Procuro alguém com saudade.
Procuro alguém com silêncio e com discursos.
Procuro alguém com tempo.
Procuro alguém sem tempo.

(é você que eu sempre procuro)

terça-feira, 30 de março de 2010

recado

Se é pra ir vamos juntos
Se não é já não tô nem aqui


Recado, Gonzaguinha

segunda-feira, 29 de março de 2010

por que separado é tudo junto e tudo junto é separado?

mudar é sempre fecundo.
quem muda, melhora.
a vida é exatamente mudar.

Armando Nogueira, † 2010


domingo, 28 de março de 2010

como eu!

Românticos são poucos Românticos são loucos Desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro É o paraíso

Românticos são lindos Românticos são limpos E pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha E sem juízo


São tipos populares Que vivem pelos bares
E mesmo certos Vão pedir perdão
Que passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro De amar sem medo De outra desilusão

Romântico É uma espécie em extinção!

Românticos são poucos Românticos são loucos
Como eu!


Românticos, Vander Lee

quinta-feira, 25 de março de 2010


Existe todos os dias uma coisa que falta e que me atormenta.

Camille Claudel, em carta para Rodin - 1886


PS: Surreal.
Descobri por acaso que escrevi essa mesma frase no dia 16.03.2003.
Será que estou parada no tempo? ou andando em círculos?

#veryweird

quarta-feira, 24 de março de 2010

das cafonices que dizem tudo

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia...

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha...



Guilherme Arantes

segunda-feira, 22 de março de 2010


no breu de hoje
sinto que
o tempo da cura
tornou
a tristeza normal


de novo, altar particular, maria gadu

domingo, 21 de março de 2010


e são tantas marcas
que já fazem parte
do que eu sou agora


Herbert Vianna

quinta-feira, 18 de março de 2010

tão longe quanto eu possa ver

Depois, que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós


Altar Particular, Maria Gadu

sexta-feira, 12 de março de 2010

Comida

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. (...)

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta (...)

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão.

Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


trecho de Os Três Mal-Amados, de João Cabral de Melo Neto

quarta-feira, 10 de março de 2010

maisumaterçamaisumaquartamaisumavez

eu queria ter uma bomba
um flit paralisante qualquer


cazuza