quarta-feira, 1 de junho de 2005

O Grande Teatro do Mundo
Amor, todo mundo sabe, é uma coisa que não se explica. Como explicar, então, esse meu amor pelo teatro? Que, mais do que qualquer outro amor que tenho ou tive - ou terei -, permanece em mim desde que me lembro de existir, desde que me lembro de amar. Meu primeiro amor, esta é que é a verdade: o teatro. Talvez eu tenha amado minha mãe antes, afinal mãe a gente ama antes mesmo de se saber gente. Mas que eu me lembre, amo o teatro primeiro. E eu sei, mais do que tudo o que já aprendi na vida, que esse amor me faz valer cada minuto que passo acordada - e cada minuto que passo sonhando. Mas há dias, como hoje, que esse sentimento é tão latente que me assusta, me faz ter um certo medo de ser louca. Louca mesmo, de internar no hospício. De tanto amor.

Fui à abertura da exposição do Grande Teatro Tupi.

Por que não nasci em 1930, meu Deus? Por que não cresci brincando na rua da Fernanda Montenegro, e então seríamos amigas e, juntas, faríamos parte do jovem grupo de atores que começou a dar existência à tv. Fazendo teatro, claro. Por que, afinal, minha família não morou na casa ao lado de onde vivia Manoel Carlos, de quem eu seria inseparável, e com quem passaria tardes e mais tardes na adolescência lendo Machado de Assis e José de Alencar, e mais tarde Dostoiewski, Goethe, Zola... E com quem, aos 20 e poucos anos, eu iria aprender a decorar textos maravilhosos, e a encená-los incansavelmente. E quem, depois, iria me fazer entender como é possível adaptar para o teatro obras como Madame Bovary e Noites Brancas.

Mas por que, mesmo não tendo passado por nada disso, eu tenho a sorte de imaginar, de me emocionar, de desejar que permaneça vivo, que ainda aconteça, que nunca seja esquecido? Porque eu amo o teatro. E isso só quem sabe como é pode entender.

"O Grande Teatro foi o nosso grande laboratório de ofício. Nosso material de trabalho foi formado por uns 400 textos da melhor literatura brasileira e estrangeira. Foram nove anos de aprendizado literário, interpretativo. Foram, talvez, os melhores anos das nossas vidas. (...) nos alimentava do que de melhor um intérprete pode desejar como matéria-prima de ação dramática. O Grande Teatro além de nos formar, comprovadamente formou também, platéias para o teatro e para a literatura."
Fernanda Montenegro

"Tínhamos todos nós pouco mais de 20 anos; alguns, nem tanto; e ninguém com mais de 30. Vivíamos uma radiante juventude e exalávamos uma farta Esperança. Com o tempo, a juventude se foi, mas a Esperança permanece até hoje."
Manoel Carlos

E eu, que tenho pouco mais de 20 anos, não mais de 30, e farta Esperança... qual será o meu Grande Teatro?