domingo, 25 de dezembro de 2005

papai noel
vê se você tem
a felicidade
pra você me dar

eu pensei que todo mundo
fosse filho de papai noel

já faz tempo que eu pedi
mas o meu papai noel não vem
com certeza já morreu
ou então felicidade é brinquedo que não tem
Da série "Recordar é viver"

Novembro de 2003

Que será?
Que será isso de dia, noite, luz, escuridão?
Que será?

Que será que me acorda, me faz dormir, me dá fome, me dá raiva, que será?
Que será isso de amar e desamar e nem saber se ama ou se desama de amar...?
Que será isso de se-querer e não se-poder? Não se-poder não porque não se-é-permitido - ainda que também não se-seja - mas não se-poder de não-se-conseguir, não-se-suportar, não-se-entender-mais... Que será?

Que será isso de sentir e não saber, e saber que sente mas não saber sentir?
Que será essa areia movediça?
Será desenho animado?
Ou será desenho desanimado? Borrão, sujeira, tinta preta... que será?

Que será isso que é à revelia das vontades?
Uma vontade contra a vontade. Uma desvontade de querer querer.
Mas que será que se quer? Que será esse querer sem saber querer?

Que será que é palco, que será que é vida, que será que é tempo?
Que será preciso pra precisar?
Que será preciso pra esperar?

Que será que falta? Ou que nunca vai completar?
Que será de tudo que não será?

Sera Sera Serador.

sábado, 24 de dezembro de 2005

Noite infeliz...
Noite infeliz...

Ó Senhor,
Deus de amor...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Curtas

Passarinhas
Não há passarinho, ela disse.
Não há passarinho no ar.
De repente eles todos ficaram no chão.
A gente perdeu o olhar.
Caiu, se espatifou.
Não há passarinho.
Passou.

Saias
As pernas de fora
O vazio de dentro
A demora
As pernas de dentro
Indo embora
Agora

Cinco
Será que
em algum
continente
ela ainda vai
me amar?

Sono
Sonhei com você e acordei chorando.
Não te liguei,
passei a manhã pensando.
E me deu preguiça de ficar triste.

Pressa
Tanta coisa te interessa.
Mas eu, nem tanto assim.
Fim.

Isca
Ainda tento
te pescar.

Palco
Vazio.

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

A carta

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
dementes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de ama-me,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

(Quero, Drummond)
(2004)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Billie, Madeleine and I
I'll look around
Until I've found someone
Who laughs like you
I know somewhere
Spring must fill the air
With sweetness just as rare
As the flower
That you gave me to wear
I look around
And when I've found someone
Who laughs like you
I'll know this love
I'm dreaming of
Won't be the old love
I always knew
(George Cory / Douglass Cross)
Sin amor, no hay nada

É sempre assim e a gente não cansa de tentar. Começa, alegra, entristece, acaba. Tem um monte de sofrimento até acostumar à ausência. Daí vira qualquer coisa, às vezes bem longe, às vezes médio, às vezes perto mas com alguma estranheza. Às vezes, nada.

É sempre assim o amor. E a gente não cansa. Afinal, o que é que sobra? Bom, tem a família, é verdade, as crianças, principalmente. Mas cada um tem o seu caminho. Estamos juntos mas não sempre, mas esse junto de que estou falando. E aí, o que sobra?

Nada.

Por isso que vai, começa, acaba, sofre... e depois a gente começa tudo de novo. Claro que é melhor não acabar. Mas acaba...

E ainda que eu fale todas as línguas e conheça toda a ciência, sem amor, eu não sou nada.

Então vamos lá. Começar tudo de novo...
Valsinha

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra dançar
E então ela se fez bonita com há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
epois o dois deram-se os braços com há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhanca toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Chico Buarque e Vinicius de Moraes

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

O Porvir

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

Adiamento, Álvaro de Campos

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Secret

Segredo: do Lat. secretu, s. m., - aquilo que se quer cuidadosamente ocultar ou se não deve dizer; aquilo que não está divulgado; mistério; o que se diz ao ouvido de alguém; confidência; discrição; lugar oculto; esconderijo; recesso; prisão rigorosa em que se está incomunicável; meio particular para se obter certo resultado; mola oculta ou jogo de movimentos para se abrir um cofre, etc.; a parte mais difícil de uma arte, ciência, etc.; sigilo a que estão obrigadas certas pessoas no exercício da sua profissão.

Há segredos que salvam e outros que matam. Há os que matam devagar e os que fulminam. Há os que são perdoados e os que não tem perdão. Há os inocentes e os cruéis. Há os necessários, talvez.

Hoje, assim, por acaso, abri o dicionário e caí lá: segredo. Estive, então, pensando sobre a palavra. E sobre o ato. Ato de segredar e o de guardar segredo. A conclusão a que cheguei não conto. Vou guardar para mim.

Será que a necessidade do segredo aparece quando alguma coisa está faltando? Uma emoção, uma distração, uma ilusão... Será que o segredo do outro deve ser mais bem guardado do que os próprios. Será que segredo de dois é segredo ainda?

Quem acredita que hoje, com a possibilidade de comunicação do jeito que está... quem acredita que ainda se guardem segredos? Guarda-se de uns, mas não de todos. Pensa-se que guarda-se de uns. Mas...

Cuidado.
Se tiver segredos, melhor não tê-los contados.
Melhor não tê-los escritos.
Mas, melhor mesmo é não tê-los.

Something's comin' over
something's comin' over
something's comin' over me
My baby's got a secret

domingo, 27 de novembro de 2005

Descobri Madeleine Peyroux.
My new friend.

Dance Me To The End Of Love
Madeleine Peyroux


Dance me to your beauty with a burning violin

Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Te ver e não te querer
É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer
É insuportável, é dor incrível
É como mergulhar num rio e não se molhar / É como não morrer de frio no gelo polar / É ter o estômago vazio e não almoçar / É ver o céu se abrir no estilo e não se animar / É como esperar o prato e não salivar / Sentir apertar o sapato e não descalçar / É ver alguém feliz de fato sem alguém pra amar / É como procurar no mato estrela do mar / É como não sentir calor em Cuiabá / Ou como no Arpoador não ver o mar / É como não morrer de raiva com a política / Ignorar que a tarde vai vadia e mítica / É como ver televisão e não dormir / Ver um bichano pelo chão e não sorrir / É como não provar o nectar de um lindo amor / Depois que o coração detecta a mais fina flor
Te ver, Skank

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Ditadura

Não consigo mais
Por que sou obrigada a ficar aqui?

Não quero mais falar.
Não quero mais ouvir.
Não quero mais ter tempo pra nada.

Que tortura, meu Deus.

Deus?
Por favor.
Faz alguma coisa.

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

É possível estar mal e pensar direito?

Uma das questões mais interessantes da psicologia das últimas décadas é a seguinte: em que medida o sofrimento psíquico de um sujeito deve ser relacionado com um defeito de sua percepção e de seu entendimento do mundo? Obviamente, a pergunta é relevante só quando o sofrimento é uma condição severa e duradoura.

Tomemos, por exemplo, a depressão, um estado patológico que, em princípio, não nos torna delirantes nem alucinados. "Ser" depressivo (diferentemente de "estar" deprimido) significa passar, ao longo da vida, por vários episódios de depressão profunda e sofrer de uma constante dificuldade em encontrar a vontade de viver.

Pois bem, será que ser depressivo implica (como causa ou como efeito) um erro de percepção e de pensamento? Qualquer terapeuta gostaria que fosse assim: bastaria corrigir o erro e, com isso, quem sabe a depressão fosse "curada". Se você é depressivo e enxerga o mundo como a brincadeira sádica de um deus maléfico, talvez você seja vítima dessa visão "errada". Ao corrigi-la com as palavras certas, a gente transformaria seu humor de vez, faria de você outra pessoa. Mas sobra a pergunta: será mesmo que, por você ser depressivo, sua percepção do mundo está errada?

Em 1979, foi publicada uma experiência (Abramson e Alloy, "Journal of Experimental Psychology", vol. 108, nº 4), na qual dois grupos de sujeitos (os deprimidos e os "saudáveis") deviam descobrir se suas ações tinham ou não alguma influência sobre uma lâmpada que, de fato, se acendia e se apagava ao acaso. Os não-deprimidos, apesar dos desacertos, concluíram que suas ações eram eficazes. Os deprimidos concluíram (corretamente) que suas ações não tinham eficácia nenhuma e que não havia como fazer a cabeça da maldita lâmpada.

Para alguns críticos, a experiência demonstrava apenas o pessimismo dos deprimidos. Mas resta que, no caso, a conclusão dos deprimidos foi certeira; portanto caberia salientar o extravagante otimismo que extraviou os não-deprimidos e constatar o realismo dos deprimidos. Aliás, a questão levantada pela experiência de 79 entrou para a história da psicologia como problema do "realismo depressivo" (há novas experiências publicadas no recente vol. 134 do "Journal of Experimental Psychology").

O interesse desse debate não é só clínico. Acaba de sair um livro imperdível, "Lincoln's Melancholy: How Depression Challenged a President and Fueled His Greatness" (A Melancolia de Lincoln: como a depressão desafiou um presidente e alimentou sua grandeza), de Joshua Wolf Shenk. Shenk se baseia nos relatos dos que foram próximos de Abraham Lincoln para confirmar que ele foi clinicamente deprimido durante a vida toda. Logo, o autor se pergunta se essa depressão grave e crônica constituiu um impedimento ou se, ao contrário, foi uma vantagem na conduta do presidente americano durante a Guerra de Secessão. Ora, Shenk argumenta de maneira convincente que a depressão de Lincoln foi responsável por suas qualidades de estadista.

A seguir, alguns exemplos:
1) A depressão clínica é sempre acompanhada por um intenso processo de pensamento: reavaliação contínua da realidade, dúvidas sobre a ação certa, exame constante de consciência e por aí vai. Esse processo leva o sujeito a um conhecimento especial das contradições de sua própria alma e da dos outros. Na vida pública, isso permite negociar sem desprezo pela parte adversa.

2) O deprimido que ultrapassa suas crises sem sucumbir tem, em regra, a coragem e a capacidade de encontrar motivações sem recorrer a grandes princípios (o que pediria um entusiasmo que é impossível na depressão). Lincoln, embora convencido de que a abolição da escravatura fosse moralmente correta, nunca invocou a certeza de que Deus estaria do seu lado, mas alegava (inclusive por escrito) que, quanto a Deus, cada lado podia considerá-lo seu aliado. É uma outra qualidade crucial para a vida pública, a não ser que a gente prefira entregar as rédeas do governo a iluminados e fundamentalistas.

3) A adversidade, para o deprimido, é, por assim dizer, natural (nada existe sem antagonismo). Deparar-se com oposição e derrota é, para ele, uma travessia normal. O resultado é a perse- verança.

Recentemente, uma psiquiatra (Kay Redfield Jamison, "Touched with Fire: Manic Depressive Illness and the Artistic Temperament", Tocados pelo Fogo: a doença maníaco-depressiva e o temperamento artístico) mostrou que uma cura apressada da depressão nos privaria de inúmeros talentos artísticos e literários. Shenk estende o mesmo princípio a uma figura política; ele mostra que, no caso de Lincoln, a depressão não foi "uma falha de caráter que desqualificaria a liderança de um sujeito". Longe de comprometer o pensamento e as decisões do presidente, ela foi o traço de caráter que fez dele o estadista lúcido e necessário num momento sombrio da história de seu país.

Em suma, muitas aventuras dolorosas da mente são partes da subjetividade de quem sofre e, às vezes, partes irrenunciáveis, cuja "cura" deixaria o mundo mais pobre e mais estúpido.


Contardo Calligaris, Ilustrada, Folha de S.Paulo, 29 de setembro de 2005

terça-feira, 18 de outubro de 2005

em quanto

eu me entrego
de novo
a isso que não sei o nome
mas que sabe o meu

mar não é
mas é sal
sol não é
mas é mal

vem de um bem que foi embora
e demora
demora
demora a passar

eu me entrego
de novo
a todo sofrimento
de todo o sentimento

é quase uma indecência
de tanta desvontade
saudade sempre é
saudade

eu me nego
a gastar a voz em vão
no chão
minhas palavras dormem

dorme comigo
dor
dor
dor

dorme e cansa
antes que eu canse
Essa Dor

É uma dor que mata.
Mata um tanto de mim que não volta.
Mata e volta pra matar de novo.

Como foi que eu deixei essa dor voltar?

É uma dor do corpo inteiro
Por dentro da cabeça
Por dentro lá de dentro
Por dentro.

E fora não sobra nada
Uma cara esforçada
Uma voz machucada
Nenhuma estrada.

Como foi que eu deixei?

Serve pra nada esse monte de estudo
Esse monte de escudo
Esse monte de espada
Serve pra nada esse tempo de vida
Tanto amor, serve nada.

Se acaba assim mesmo a alegria
Nem com todo o abraço
Nem com todo laço
Basta a ventania
Pedaço.

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

New Play in LA

another break-up song
another break-up song
this one is mine
the most pathetic its kind
this one is for the girl who's left behind

another break-up song
you breath and sing alone
if you've heard this one before
love is there and then it's gone

(...)
she is moving on

and I'm still flipping in this fresh war

(...)
the door has been opened
you don't just shut it
you simply walk away
something is always gonna stay

(a try to write down) Another Break-up Song, from Lori Scarlett
in The Break-up Notebook


"On stage at the Center gala, while we all held in our tummies beneath our body shapers and enjoyed our traditional formal gala dinner of chicken and wild rice, we were treated to a preview of the rock musical, The Break Up Notebook, adapted from playwright Patricia Cotter's hilarious, poignant play about the emotional aftermath of a girl's divorce. When I saw the play two years ago, it struck a cord with me as I watched the leads, one played by Jane Lynch, known to most of us as the manipulative lawyer and seductress of pregnant Tina on The L Word, act out the histrionics, heartache and recovery following the two-and-a-half-year life cycle of a girl's relationship. The scenes were all too familiar to those in my own life, as I had just experienced my own romantic split, after two-and-a-half-years."

domingo, 16 de outubro de 2005

Vai, vê se me esquece
tira meu nome da lista de telefone
vai ver que o mundo anda tão bem
mesmo eu sem você
você sem ninguém
Eu vou por aí
vai se livra de mim
vai ver que é mesmo assim
Não tem nada de mágoa
o caminho da água também é cheio de pedras
E o rio não pára
mas não tem nada de rio, de água, de pedra
Não tem explicação
não tem nada não
Eu vou por aí
vai se livra de mim
vai ver que é mesmo assim
Eu vou seguir a luz dos faróis, que me lembram seus olhos
Vai ver que eles podem me ajudar a ver
que não há de ser nada
que não há de ser nada
Eu vou por aí, eu vou por aí
Pior de tudo é que a gente ainda vai se ver
ando em ruas que não sei o nome pra me perder
Pior de tudo é que a gente ainda vai se ver
ando em ruas que não sei o nome
pra me perder
Vê Se Me Esquece, Ana Carolina
Voltou.

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Uma idéia de morte.
Passou.
Pode voltar.

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

nada de novo

um vazio na cabeça
um universo pra percorrer
um espaço indefinido
e é tudo uma questão de tempo
mil vontades
mil faltas
mil coisas impossíveis
por enquanto
certas palavras que já não dizem nada
certos gestos que já não existem
certos erros
que se repetem
quem vai?
quem vem?
quem fica parado?
quem?

é como não existir mais porque tanto faz. os poucos que lembram, lembram pouco. os outros morrem. os que vivem nem sabem pra quê. a não ser aqueles que têm filhos. ou, por outra, aquelas. para essas é claro. claro que eu digo é de luz. deram à luz. e então elas têm mais razão, sabe. eu não tenho. não terei. ás vezes penso: que pena. às vezes, que bom. afinal, para quê? ah, pra ter motivo do resto do tempo não vale. então nem quero mais tempo. não faço questão. cansei de fazer questão só. só que eu digo é de solidão mesmo. não de gente. gente há. mas de razão. não é que eu não tenha. é que não há. a não ser... bem... já falei sobre os filhos.

fora isso, estou rodeada de livros. muitos ainda me falta ler. mas mesmo que eu leia. e daí? talvez eu prefira não fazê-lo, não lê-lo, não pensá-lo, não nada. ainda não sei bem. só talvez.

fora isso, estou rodeada de tédio. muito me faltava fazer, mas já nem ligo. é que pouco importa, sabe. porque não se chega a lugar nenhum mesmo. é só uma questão de tempo. e de como ele passa. se bem, bem. se mal, chato.

então vá ao teatro.
vá ao cinema.
vá fazer o que é bom pra você.

eu sei lá.

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Vai acabar! Corra!!

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Por Elise
Assisti a um dos espetáculos mais tocantes da minha vida. Por Elise.
Se tentasse dizer dele aqui, seria crime meu.
Grupo Espanca. Uh, e como espanca! Mas com uma delicadeza...
Delicadeza daquelas de que o mundo anda esquecido.
De tanta proteção... de tanto distanciamento... de tanto abacate.
Veja que eu até queria falar um pouco do que senti. Mas me dói.
Porque não sai o que eu sinto. Sai só o que as palavras dizem.
Mas é pouco. Tão pouco. Que é realmente criminoso tentar.

Cuidado com o que você planta no mundo.
Por Mim.

Nos vemos no Japão... se um dia a gente chegar lá.


Por Mim
Tenho pensado muito no TEMPO. Cheguei à conclusão de que é só o que existe, o Tempo. A vida é o Tempo. Afinal, o que é que se faz aqui? Passa-se o tempo. Nada mais. A diferença entre um é outro é COMO se passa esse tempo. Só. E não acho que se trata de uma questão de inteligência, de coragem, de sabedoria, ou de fé. Acho que a questão é simplesmente a CONDIÇÃO. Quem tem condição, passa de uns jeitos; quem não tem, de outro. Outro, sim. Só um. Quem não tem condição passa como dá. Às vezes até com alegria, é verdade. Mas custa a passar. Já quem tem oportunidades, passa melhor, bem melhor. Passa com entretenimento, momentos fantásticos, sensações sempre novas e ousadas. Ao mesmo tempo, podemos inverter tudo. Porque às vezes p tempo de quem tem muitas chances, passa tão ocupado em abrir mais chances, que nem se vê. E os outros curtem... mesmo que for com banho de chafaris e pelada na rua. Ah, sei lá. Só sei que a vida é simplesmente passar o tempo. Porque um dia acaba mesmo, pra todo mundo igual. E mesmo se tiver alguma coisa depois, e daí? Vai ser só mais um tempo pra passar. Não, não é uma visão pessimista de tudo. Muito pelo contrário. Depois que me dei conta disso, tenho tentado passar bons tempos enquanto tenho tempo... pra passar bem. Sem essa encheção que a vida quase obriga.
...

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Deus
(Clarice)

Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte?
Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude.
Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando da minha própria força. Sou forte mas também sou destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais.
De repente
Não mais que de repente
A música ficou triste

Que presentes te daria
Uma estrela vã do firmamento
Pra iluminar o vão do pensamento
Pra iluminar o vão do pensamento

Uma TV na garantia
Árvores plantadas no cimento
E o meu perfume na rosa dos ventos
E o meu perfume na rosa dos ventos
E o meu perfume na rosa dos ventos

Um novo ritmo
Cartas de amor com frente e verso
E meu percurso nesse universo
E meu percurso nesse universo
E meu percurso nesse universo

Nas horas sem fim
Em que a dor não tem mais cabimento
É no teu prumo que eu me oriento
É no teu prumo que eu me oriento
É no teu prumo que eu me oriento

Catedrais de alvenaria
Senhas pra não mais perder a vez
Casa, comida e um milhão por mês
Casa, comida e um milhão por mês
Casa, comida e um milhão por mês

domingo, 11 de setembro de 2005

Meu despertador é o rádio. Estava programado para tocar às 8h. Deixo sempre na CBN. Porque jornalista é assim, meio viciado, e precisa acordar já sabendo o que está acontecendo no mundo. E quando a CBN começou a falar na minha cabeça, o que estava acontecendo no mundo era história. HISTÓRIA.

A primeira notícia era de acidente. Avião bate em uma das torres do World Trade Center em Nova York. Sempre enrolo uma meia hora antes de levantar. Naquela manhã, levantei imediatamente com aquela notícia entrando na minha cabeça acordando, corri pra sala, liguei a tv. O Nascimento já estava lá, ao vivo - como ficaria por mais nove hores ininterruptas. E aquele prédio pegando fogo. De repente: outro avião bate em outra torre, e confirma-se: terrorismo. Bate desesperadamente na porta do quanto dos meus pais, coisa que só faço em situações ímpares. Aquela era, definitivamente A situação ímpar. "Mãe, pelo amor de Deus vem ver isso porque eu não posso ver sozinha". Ela veio. E viu a terrível História sendo feita diante dos nossos olhos descrentes. Corri, me troquei, fui pra tv em tempo recorde. Entrei em disparada e parecia que o tempo tinha congelado. Estava tudo irreconhecível, desde a entrada, até as escadas e a redação. Parecia que ninguém sabia pra onde ir, a quem recorrer em busca de notícias. Ninguém acreditava naquilo. Nós, que vivíamos de notícias, não acreditávamos naquilo. De repente: uma das torres começa a desabafar. O silêncio naquela redação foi uma das coisas mais ensurdecedoras e perturbadoras que já presenciei. O Nascimento, entre palavras solteiras, mudo também, sem ar. Choros disfarçados completavam o silêncio chocante. Aos poucos, alguém ameaçava um movimento ou esboçava uma atitude... e outro silêncio. Outra torre desabando. Definitivamente não dava pra não chorar... de nervoso, de tristeza, de choque, de silêncio.

Por mais que eu tenha as palavras e que consiga impregnar meus sentimentos nesse texto, não posso descrever o que se passou naquela redação naquele 11 de setembro. Como em tantas situações, só quem estava lá sabe o que vivemos, ali, no meio de gente que ajuda a fazer alguns dos maiores telejornais do planeta, e que nunca tinha visto nada como aquela tragédia. Os olhares se cruzavam mudos, perplexos, incapazes de palavra, mas cheios das mesmas emoções e das mesmas perguntas. Aquele silêncio, meu Deus, eu nunca vou esquecer. A gente sabia, ah, sabia, que estávamos presenciando, de dentro da notícia, um dos maiores e mais tristes acontecimentos da história do mundo. E até hoje, nada chegou perto do que foi aquela manhã e os dias que se seguiram. Estar numa redação de jornalismo naquele dia foi uma das coisas mais indescritíveis que já vivenciei.

Ninguém conseguia ir embora da redação. Porque parecia que ali, onde a notícia chega primeiro, estávamos mais dentro, mais presentes... fazíamos mais parte de tudo. Eu fiquei lá até quase raiar o dia seguinte. E ainda não acreditava. Aquele silêncio não saía da minha cabeça e dos meus ouvidos. Até hoje quando lembro, páro por um instante, como se o relógio atrasasse sempre naquele segundo do silêncio.

À parte a tristeza diante de tudo, foi incrível. Uma emoção INCRÍVEL naquela redação.

E o silêncio permanece...

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Milágrimas

em caso de dor ponha gelo mude o corte de cabelo mude como modelo vá ao cinema dê um sorriso ainda que amarelo esqueça seu cotovelo se amargo foi já ter sido troque já esse vestido troque o padrão do tecido saia do sério deixe os critérios siga todos os sentidos faça fazer sentido

a cada mil lágrimas sai um milagre

em caso de tristeza vire a mesa coma só a sobremesa coma somente a cereja jogue para cima faça cena cante as rimas de um poema sofra penas viva apenas sendo só fissura ou loucura quem sabe casando cura ninguém sabe o que procura faça uma novena reze o terço caia fora do contexto invente seu endereço

a cada mil lágrimas sai um milagre

mas se apesar de banal chorar for inevitável sinta o gosto do sal do sal do sal sinta o gosto do sal gota a gota, uma a uma duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre

a cada mil lágrimas sai um milagre a cada mil lágrimas...

[Mil lágrimas, Itamar Assumpção e Alice Ruiz]

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

LUZES

Teus olhos, meu amor, minha luz.
Esses dias em que não te vejo, não passam, não existem.
Teus olhos, ah que dia escuro sem te ver.

Como posso te amar tanto sem te ver?
E te ver e te amar mais?
Teus olhos.

Pensei em escrever um pouco pra hora passar logo, que quando estou sem você não quero o tempo. Quero tudo, meu amor. Quero a vida ao seu lado. Que mesmo metade é tanto. Metade de mim é o que sou , a outra metade é nós. A metade que não pode te ter, eu temo, perder. A metade outra será... tudo.

Clarice nova que você me deu ocupa as noites até o dia e o seu bom dia.

A menina não dorme porque não tem sono. E existe qualquer outra razão para não dormir? Não é preocupação, nem angústia, nem ansiedade, nem medo, nem falta de amor - é falta de sono, ué. Senão ela teria dor de cabeça, mas dormiria. Acordaria procupada, mas dormiria. Teria pesadelos, mas dormiria. Se não dorme, é porque sono não há. Mas dinheiro há, doutor, dinheiro há! E quem disse que o sono se compra? Até amor se compra. Mas sono? Como é que faz? De noite na cama, eu fico pensando, se você me ama, e quando. Alô, telefonista, me ligue com o Nelson, por favor. Vamos montar aí um textinho que ele escreveu e eu não entendi um negócio. Afinal, quem é a Luci?? Luci in the sky with diamonds. De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar, se você não dorme de noite? Ai, ai, ai. Isso não vai acabar bem. O caso é que...

Senhores, o nosso tempo acabou. Por favor, depositem seus votos na urna e permaneçam em silêncio. Por que, afinal, o voto é obrigatório? Se nem dormir é obrigatório, por que votar é? Se dormir a gente quer e não pode... vê-se lá que incoerência. Votar que um monte de gente não quer... tem que.

Clarice, por favor, atenda. Alô? Como vai, querida? Bem, eu sei que devo estar incomodando seu sono eterno, mas o caso é que... eu... não durmo. E... bem, desculpe, mas você tem um pouco de culpa, sim, porque escreveu tanto... e... eu... leio. Assim, sabe, vou lendo. E não durmo mais. Bem, eu gostaria que você viesse aqui, me contar umas histórias. Novas, de preferência, mas se não for, tudo bem. A luz aqui é fraca, mas me avise um dia antes e mando dar um jeito. Oh, obrigada, e traga seu chapéu de palha, bem, há pernilongos e não quero importunar seu sono. Já o meu... não há. Não, não há. O que há é um vácuo na escuridão. Obrigada. Até logo.

Bom dia. Nove e meia? Oh, posso dormir mais meia hora. Se preciso estar lá às onze, preciso sair às dez vinte, portanto tenho que acordar às nove e cinquenta, no máximo. Oh, posso dormir mais vint... zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.

Às vezes a gente tem mil cérebros.
E Joana Careca, uma coisa a menos na cabeça para se preocupar.
...

quarta-feira, 10 de agosto de 2005



Minha namorada tem segredos
Tem nos olhos mil brinquedos
De magoar o meu amor
Minha namorada, muito amada
Não entende quase nada
Nunca vem de madrugada
Procurar por onde estou
É preciso, ó doce namorada
Seguirmos firmes na estrada
Que leva nenhuma dor
Minha doce e triste namorada
Minha amada, idolatrada
Salva, salva o nosso amor

Nenhuma Dor, Caetano Veloso

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Minha Mãe Especial
Não tive um aniversário INfeliz.
Tive um dia bom, bonito, cheio de esperança e especial.
Porque a minha mãe é especial demais. E cheia de esperança.
Apesar de tudo, de todas os abismos intransponíveis por enquanto e de coisas desejadas e impossíveis ainda, minha mãe é única, linda, amada e a pessoa mais importante da minha vida.
Ela sabe disso. E não me abandona.
Te amo.

terça-feira, 26 de julho de 2005

Mãe,

tem sido tão difícil. Queria que você pudesse entender o quanto me dói tudo isso. Eu acredito que você entenda um pouco mas não sei se sabe como eu realmente me sinto, e como é difícil pra mim. Eu sei que não posso te pedir mais do que você pode me dar, mas às vezes eu penso que é tão pouco... Perto do amor que eu tenho por você e da importância que você tem pra mim, é tão pouco te pedir pra simplesmente conviver comigo, na minha diferença, uma, duas vezes por ano. Que será isso? Quanto? Vinte, quarenta dias na sua vida inteira? Por que não pode ser?

É meu aniversário é é tão triste não poder ter todas as pessoas que eu amo juntas. Todas as pessoas importantes pra mim. Pra que ficar aqui... nesse acorda, trabalha, come, dorme, se no fim o mais importante não posso mais ter, que é todo mundo junto. Eu não quero, mãe, ficar um pouco aqui e um pouco lá. Não quero. Porque isso é chato, é triste. Eu detesto ficar longe de você, e tenho me esforçado demais pra diminuir a nossa distância... mas como é que eu vou conseguir isso? Não posso fazer do jeito que você quer... simplesmente não consigo, não acontece, não tem funcionado pra mim... Mas viver longe de você tanto tempo também não funciona.

O que é que a gente vai fazer, hein? Sempre é você que me dá as respostas e se você não tem resposta pra tudo isso, o que é que eu faço?

Eu tô triste, não consigo parar de chorar. Só porque chorar é o que a gente faz quando sente dor. Fico pensando em quantos anos mais ainda vou te ter ao meu lado e é tão insuportável imaginar quanto desse tempo eu te perco porque você não me entende e eu não consigo te fazer entender. Talvez entenda, mas neste caso entender não basta, não é?

Ai, mãe, o que é que a gente faz?

Pra que aniversário? Eu, que gostava tanto... Desde que te contei tudo isso, nunca mais tive esse dia feliz. Porque aniversário é com a mãe que a gente faz. É com a mãe que a gente combina, organiza, convida as pessoas queridas. Pelo menos pra mim, é só assim que vale. Mas eu não posso mais fazer isso com você. Tenho que me dividir, tenho que ficar pela metade. E assim eu não quero, não gosto, não me importa...

Mãe, eu sou metade todos esses anos que você não me quer mais inteira. Essa minha vida dividida é tão chata, tão triste. Não me importa que a gente consiga levar as coisas assim, dividas. Porque eu não posso ser feliz assim. Eu sei que talvez você também não possa ser feliz nem assim nem do jeito que eu te peço. Mas, então, meu Deus, o que é que a gente faz?

Será que é mesmo tão difícil pra você? Será que não poderia ser mais simples se você, pelo menos, tentasse. Tenta, por favor. Um dia, uma tarde, uma hora... Tenta, mãe. Eu te juro que é simples. Nós somos pessoas, pessoas comuns, iguais a todo mundo. Não é difícil conviver com a gente. Eu continuo sendo eu, sejá lá quem esteja ao meu lado. Por que é tão insuportável pra você? Tanta psicologia, mãe, e não dá pra conviver com isso? Por favor, fica feliz e me deixa ser feliz perto de você. Porque longe eu não vou conseguir ser feliz nunca. Longe eu estou partida, quebrada, dilacerada, tão infeliz. Você não vê? Eu sei que vê. Eu também te vejo. Por isso te peço: tenta.

Eu vou, eu volto, eu tento me convencer de que tudo bem, de que eu posso ir levando, mas eu não posso.

Tenta, por favor. Eu não aguento mais viver assim. Não vale a pena, sabe.
Não vale a pena.

Infeliz aniversário pra mim. Mais uma vez, mais um ano...
Até quando?

Ai, que triste que é isso, meu Deus.

terça-feira, 5 de julho de 2005

Nada no mundo é pior do que o fim do amor
Tem a morte, eu sei, mas não é pior. Tem dores físicas, guerra, miséria... mas, tudo isso é tão pior que pior, que nem pior é. Portanto nada no mundo é pior do que o fim do amor.

Fim do amor, não sei bem se é quando um não gosta mais, se é quando os dois não gostam mais ou se é, simplesmente, quando ninguém mais é capaz de manter a força do carinho que sente. Ou que não sente. Ou que não sabe. Fim do amor é, talvez, a incapacidade de um de confiar no outro. E a incapacidade do outro de não gerar desconfiança. Ainda que a razão não exista, nem os motivos, nem coisa nenhuma. Ainda que de verdade não exista nada de errado. O fim do amor é quando pessoas se separam, quando abortam a vida em comum, quando deixam de partilhar cada dia. Fim do amor é ser um de novo depois de já ter esquecido como é (ser um). Fim do amor é ter coragem de começar tudo de novo, mesmo sabendo que, de novo, depois de um tempo, vai ser tudo igual de novo. Acho que o fim do amor é a maior burrice.


I came here to let you know
The letting go
Has taken place
I have held the winter's son
Become one
Set my pace


Isn't that what we wanted all along
Freedom like a stone
But I can say goodbye
Now that the passion's died
Still it comes so slow
The letting go

Piece by piece I take apart
This complicated heart
And I hope to find
Something I can prove is real
I can feel is truth
I can say is mine

That's all I ever wanted to be
The closer that I got
The further I could see
But when lovers change
And the night feels strange
We choose our road
The letting go

I came here to let you know
The letting go
Has taken place

The Letting Go, Melissa Etheridge

quarta-feira, 1 de junho de 2005

O Grande Teatro do Mundo
Amor, todo mundo sabe, é uma coisa que não se explica. Como explicar, então, esse meu amor pelo teatro? Que, mais do que qualquer outro amor que tenho ou tive - ou terei -, permanece em mim desde que me lembro de existir, desde que me lembro de amar. Meu primeiro amor, esta é que é a verdade: o teatro. Talvez eu tenha amado minha mãe antes, afinal mãe a gente ama antes mesmo de se saber gente. Mas que eu me lembre, amo o teatro primeiro. E eu sei, mais do que tudo o que já aprendi na vida, que esse amor me faz valer cada minuto que passo acordada - e cada minuto que passo sonhando. Mas há dias, como hoje, que esse sentimento é tão latente que me assusta, me faz ter um certo medo de ser louca. Louca mesmo, de internar no hospício. De tanto amor.

Fui à abertura da exposição do Grande Teatro Tupi.

Por que não nasci em 1930, meu Deus? Por que não cresci brincando na rua da Fernanda Montenegro, e então seríamos amigas e, juntas, faríamos parte do jovem grupo de atores que começou a dar existência à tv. Fazendo teatro, claro. Por que, afinal, minha família não morou na casa ao lado de onde vivia Manoel Carlos, de quem eu seria inseparável, e com quem passaria tardes e mais tardes na adolescência lendo Machado de Assis e José de Alencar, e mais tarde Dostoiewski, Goethe, Zola... E com quem, aos 20 e poucos anos, eu iria aprender a decorar textos maravilhosos, e a encená-los incansavelmente. E quem, depois, iria me fazer entender como é possível adaptar para o teatro obras como Madame Bovary e Noites Brancas.

Mas por que, mesmo não tendo passado por nada disso, eu tenho a sorte de imaginar, de me emocionar, de desejar que permaneça vivo, que ainda aconteça, que nunca seja esquecido? Porque eu amo o teatro. E isso só quem sabe como é pode entender.

"O Grande Teatro foi o nosso grande laboratório de ofício. Nosso material de trabalho foi formado por uns 400 textos da melhor literatura brasileira e estrangeira. Foram nove anos de aprendizado literário, interpretativo. Foram, talvez, os melhores anos das nossas vidas. (...) nos alimentava do que de melhor um intérprete pode desejar como matéria-prima de ação dramática. O Grande Teatro além de nos formar, comprovadamente formou também, platéias para o teatro e para a literatura."
Fernanda Montenegro

"Tínhamos todos nós pouco mais de 20 anos; alguns, nem tanto; e ninguém com mais de 30. Vivíamos uma radiante juventude e exalávamos uma farta Esperança. Com o tempo, a juventude se foi, mas a Esperança permanece até hoje."
Manoel Carlos

E eu, que tenho pouco mais de 20 anos, não mais de 30, e farta Esperança... qual será o meu Grande Teatro?

terça-feira, 3 de maio de 2005

O Tempo, O Grande, O Pequeno e O Ciclo do Amor

Ele, de novo, o tempo...
Fechando as feridas, amenizando as dores e reavivando as vontades.
Mas será que apaga as seqüelas?
Será que restaura os pedaços de modo que nem se veja as emendas?
Será que transforma as pessoas?
Todas?

O tempo... que faz até a gente crer que é novo.
E, às vezes, de tanto crer, nos renovamos.
Mas, nem sempre. Só o tempo pode dizer.


O grande e o pequeno
(Adriana Falcão)

Todo caso de amor tem sempre um grande e um pequeno.


Alguém um dia falou, em francês, que em todo caso de amor il y a toujours celui qui aime et celui qui laisse aimer. É mais ou menos a mesma coisa. O pequeno ama, o grande se deixa amar. O grande fala, o pequeno ouve. O grande discorda, o pequeno concorda. O pequeno teme, o grande ameaça. O grande se atrasa, o pequeno se antecipa. O grande pede, ou nem precisa pedir, e o pequeno já está fazendo.

Não é uma questão de gênero. Existem homens pequenos e homens grandes, mulheres grandes e mulheres pequenas. O temperamento e as circunstâncias influem, mas não determinam. O grande pode ser o mais bem sucedido dos dois ou não. O pequeno pode ser o mais sensível, mas nem sempre é assim. Muitas vezes o grande é o mais esperto, mas existem pequenos espertíssimos. Depende do caso.

Como ninguém descobriu, até hoje, uma regra que permita determinar qual é o grande e qual é o pequeno, só observando o casal mais atentamente.

Na rua, o que anda distraído quase sempre é o grande.

Quase sempre, no cinema, o grande só decide comprar pipoca depois que os dois já estão acomodados nas poltronas. O pequeno, então, fica esperando, vigiando, tomando conta para o filme não começar antes de o grande voltar, o que, por algum motivo, seria uma tragédia.

Numa festa, o pequeno deve estar ansioso para que a noite seja boa, principalmente se foi ele que sugeriiu o programa. O grande se comportará de maneira indiferente até se deixar embriagar pela música, pela bebida, ou pelo ambiente, quando então ficará muito mais animado do que o pequeno. Mesmo que o pequeno dance bem, o grande sempre dançará melhor. O pequeno evita o silêncio porque tem certeza de que a culpa é dele, por isso sempre tem arquivados na cabeça assuntos que possam ser úteis em todas as ocasiões. A calça nova do pequeno dificilmente lhe cai tão bem quanto a do grande, assim como o cabelo do grande está sempre melhor do que o pequeno, ainda que a festa inteira pense exatamente o contrário. O pequeno geralmente se comove com a lua calado, enquanto o grande aponta, olha só a Lua. No final da festa é sempre o pequeno que quer ir embora, reservando o melhor da sua alegria para o resto da noite, enquanto o grande se despede dos amigos displicentemente.

Mais tarde, o pequeno é macho, é gueixa, é desgraçado, é exclusivo e, se o coração do grande por acaso ouvir seus gritos, que sorte. No dia seguinte o pequeno estará inevitavelmente preocupado: será que eu fiz tudo certo? Acho que eu não devia ter dito aquilo. Por que toda vez sou eu que beijo primeiro? Na dúvida, vai correndo procurar o grande, apesar de ter se prometido que nunca mais faria isso.

O grande e o pequeno podem ser de qualquer espécie, inclusive bichos, com exceção dos gatos, que são todos grandes.

Não necessariamente formam um casal. Não é só nas histórias de amor que existem grandes e pequenos. Havendo mais de um, um par qualquer, dois adversários, dois irmãos, dois amigos, sempre haverá o que quer mais e o que quer menos, o fascinante e o fascinado, o generoso e o pedinte.

Mas como tudo pode acontecer, senão nada disso ia ter graça, a qualquer momento, por alguma razão, geralmente à noite, imprevisivelmente, o grande pode ficar pequeno, e o pequeno ficar grande de repente. Basta um vacilo, um acaso, um cair de tarde, um olhar mais assim, um furacão, uma inspiração, uma imprudência.

Quando isso acontece, é comum o pequeno ficar maior ainda, o que torna automaticamente o grande ainda menor. O ex pequeno, logo que é promovido a grande, pode se vingar do ex grande, se o seu sofrimento tiver boa memória. Aí, coitado do novo pequeno, vai se arrepender de cada não beijo, cada não telefonema, cada não noite de insônia, cada não desespero, cada não entusiasmo, cada não carinho inesperado, indispensável, inevitável, imprescindível, cada não todas as palavras apaixonadas em qualquer língua do mundo. Ele vai se surpreender com a reviravolta, no começo, mas vai se conformar com sua nova condição de pequeno em seguida. E então vai seguir, cuidadoso e desastrado, na quase inútil intenção de conquistar o grande urgentemente.

terça-feira, 19 de abril de 2005

Papa de quem?
Sou cristã. Porque gosto.
Ja fui mais. Já fui mais feliz com isso.
Quero dizer, já tive mais fé.
De qualquer forma, desejo que Deus abençoe este novo papa.
Porque, se a igreja andar ainda mais para trás...

E desejo, também, que não seja tudo mentira.

quarta-feira, 6 de abril de 2005

The L Word
Se você ainda não ouviu falar nesse seriado americano, vai ouvir.

É bem provável que comece a passar na Warner, em agosto. E vai ser um bafafá. Aposto que vai ter gente gritando e se jogando da janela: esse mundo está perdido! Será?

The L Word é centrado em mulheres que amam mulheres. Ou que desejam mulheres. Ou que disputam mulheres. E aí entram mulheres de todos os tipos. Alguns, americanos demais para o nosso coração e nossos valores latinos e caretas - como os meus. Mas, de qualquer forma, a coisa é tão bem-humorada que dá pra digerir numa boa. A gente até chega a achar que aquilo é brincadeira. Mas o caso é que não é. Nada em The L Word é brincadeira. E a grande questão da série, para mim pelo menos, é esta mesmo: cada vez mais aquilo tudo é realidade. E já não acontece só nos guetos e na calada da noite. As mulheres estão se amando - amando mesmo - cada vez mais. Talvez seja um reflexo da incapacidade dos homens de acompanhar o desenvolvimento e a maturidade das mulheres, talvez seja um retrato tardio do que sempre existiu guardado nas profundezas da alma feminina. Talvez seja só o que sempre foi, e que antes só poucas ousavam arriscar. Talvez não seja nada disso, mas muito mais simples. Quem tem essa resposta?

Quando a história começa a ser contada - e existe uma legião de mulheres brasileiras que já acompanha The L Word desde que começou nos EUA, há uns três anos - Bette (a atriz de Flashdance, imagine!) está casada com Tina há sete anos e querem ter um filho, Alice diz que gosta de homens também, Dana é uma tenista famosinha que tem mil problemas para se aceitar e assumir, Shane é um moleque, não quer compromisso e é desejada por todas as mulheres do mundo, Jenny se separa do namorado depois de descobrir que está apaixonada por Marina, a dona do Café onde elas se encontram, uma francesa meio misteriosa, linda e sedutora. Além delas, temos Kit, meia-irmã de Bette. Kit não é gay. É uma daquelas negras americanas que cantam como ninguém! Ela está saindo da dependência do álcool e tem um papel fundamental na trama, porque permite algumas outras histórias que não girem só em torno das meninas. Mas também vive com elas e é adorada por todas.

Pouco importa, na verdade, quem cada uma é e o que cada uma faz. O grande negócio são as relações. E aí, a verdade é que a vida se repete, a arte repete a vida, a vida copia tudo de novo. E lá estão todas as mulheres. Todas. Até alguém que você já foi um dia, mesmo que não seja mais. Em algum tempo do que se vê na série, você se reconhece. Nos flashbacks da adolescência, nas mães, nas participações especiais em um ou outro episódio. Em algum momento. você se encontra. Ou em vários. Sei lá. Mas que é gostoso de ver, é. E que é tudo verdade, também é.

O seriado já está no oitavo episódio da segunda temporada, a primeira tem 14. E tem tudo aí pela net pra baixar. Passa aos domingos, nos EUA, no canal Showtime. Está super emocionante, apesar de eu achar curtíssimos os episódios para o tipo de trama que se cria a cada dia... Acontece muita coisa em muito pouco tempo e você acaba sendo muito provocada e, de repente, desamparada demais durante o resto da semana. (rs)

Só estou escrevendo tudo isso porque acho importante as pessoas saberem como anda o mundo. Porque, definitivamente, tem gente que vive à margem - e não são mais as mulheres que fazem e que assistem a The L Word. Wake-up!

"Give her flowers and tell her: you hold all the cards. No mather what she says, tell her: you hold all the cards."

"There's only one thing that cuts across all our realities. It's love. The bridge between all our differences."

terça-feira, 5 de abril de 2005

Momentos
Quantas e quantas pessoas já escreveram sobre isso.
Quantos pensadores já discutiram o assunto.
Quantos formadores de opinão já entrevistaram profissionais, estudiosos, filósofos, profetas... Quantos já questionaram, já pesquisaram, já constataram.
E quantos continuam tentando entender se é mesmo assim:
a gente não tem felicidade, apenas momentos felizes.
Eu também acho.

quarta-feira, 30 de março de 2005

Jean, Grazi e o fim do meu reality show

Assistir ao Big Brother tinha se tornado pra mim um motivo de alegria, de expectativa, de emoção. Era como torcer pelo Brasil na Copa do Mundo ou nas Olimpíadas. Como estar conectada com dez milhões de pessoas que pensavam como eu, que acreditavam nos mesmos valores, na importância dos mesmos mínimos e delicados detalhes que tornam alguns mais brilhantes do que os outros. Era uma alegria, uma diversão, um assunto gostoso no dia seguinte. Mas era, principalmente, o sabor de compartilhar mais um desses pequenos prazeres da vida com a pessoa que eu amo. De repente, não tão de repente assim, mas de repente, tudo perdeu quase toda a graça. Diria Vinicius que "do riso fez-se o pranto... E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento... E da paixão fez-se o pressentimento... Fez-se de triste o que se fez amante... E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante. Fez-se da vida uma aventura errante."

Não ter ao meu lado quem sempre esteve, transformou a pequena alegria em enorme tristeza. Ausência, angústia, falta e dor. Também por não saber se poderia ser de outro jeito. Porque, desse jeito, já não há o que fazer. Mas nem por isso é menos dolorido.

Alan e Grazi declararam um amor que eu acompanhava e comparava com o meu. Como todos os amores que comparamos aos nossos. De repente, em um dia tão especial para declarar amores, o momento existia mas eu não o tinha mais. O que era tão bonito e forte, ficou mudo. Senti quase inveja de um amor que começa, com toda a euforia de um amor que começa. Com todos os planos e todo o sorriso de um amor que começa.

E o amor que termina não tem mais nada disso. Talvez tenha na memória. Mas, um dia, nem a memória sobrevive. Nem as palavras. A vida se repete de novo. É pleonasmo mas é verdade. Quando será que isso acaba? E onde? Talvez nunca. Mas a gente nem sabe. Estamos aqui como pode ser que já tenhamos estado tantas outras vezes. E a gente nem sabe.

O que nos resta é, mesmo, a ressurreição. Porque se for tudo só sofrimento não tem sentido. Não faz o menor sentido.

Jean ganhou um milhão de reais. Mas quem realmente acha que é isso o que importa, precisa ter umas aulas com ele. "Gente é pra brilhar. Gente é muito bom. Tem de se cuidar, de se respeitar o bom. Está certo dizer que estrelas estão no olhar de alguém que o amor te elegeu pra amar. Gente tem que ser feliz. Gente quer respirar ar pelo nariz. Não, meu nego, não traia nunca essa força, não. Essa força que mora em seu coração. Se as estrelas são tantas, só mesmo o amor."

Uma etapa que se encerra em tantas casas. Gente que eu nem conheço. Só sei de mim. Mas mesmo sem saber, sei que somos tantos. De repente, não mais que de repente. Mas é um querer que já nem sabemos bem como é. E, por isso, não vamos mentir. Nem tentar. O que a gente já não sabe mais se quer. Mesmo querendo tanto.

Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde
Nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou
E me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando me encontrar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Traição

Para começar, uma letra do Chico, de CAROS AMIGOS:

Você vai me seguir
Aonde quer que eu vá
Você vai me servir
Você vai se curvar
Você vai resistir
Mas vai se acostumar

Você vai me agredir
Você vai me adorar
Você vai me sorrir
Você vai se enfeitar
E vem me seduzir
Me possuir, me infernizar

Você vai me trair
Você vem me beijar
Você vai me cegar
E eu vou consentir
Você vai conseguir
Enfim, me apunhalar

Você vai me velar
Chorar, vai me cobrir
E me ninar.

Quero falar da traição baixa, feia, suja, e triste. A traição que não deixa chance para desculpas, explicações, justificativas e reconciliações. A traição tramada, pensada, executada com requinte. A traição consentida e sentida. A traição construída em detalhes e cuidados de bandido. A traição com maldade. Traição do amor e da amizade. "Você vai me trair, você vem me beijar". A traição de quem beija traindo. E ri. Até sem saber que ri, ri. Trai e ri. A traição invisível para quem ama e escancarada para quem vê. E todo mundo vê. A não ser o cego. Não da vista, mas da alma. Porque a alma que ama não vê o mal. Traição é desamor. Ainda que digam que não. Em vão.

E o pior de trair não é o que se faz, mas o que não se faz para proteger o amor traído.
Porque até para trair, dá pra ter dignidade. Quem não tem, azar. Fica infeliz. E só.

O preço é caro. Bem caro. Um dia a gente se dá conta. Ou não.

Para terminar, outra letra do Chico, de CALABAR, O ELOGIO DA TRAIÇÃO:

Fortaleza
A minha tristeza não é feita de angústias
A minha tristeza não é feita de angústias
A minha surpresa
A minha surpresa é só feita de fatos
De sangue nos olhos e lama nos sapatos
Minha fortaleza
Minha fortaleza é de um silêncio infame
Bastando a si mesma, retendo o derrame
A minha represa.


Quem tem ouvidos, escute.

sábado, 19 de fevereiro de 2005


Mar adentro,
mar adentro.

Y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo,
es como penetrar al centro del universo.

El abrazo más pueril
y el más puro de los besos
hasta vernos reducidos
en un único deseo.

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras
'más adentro', 'más adentro'
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto,
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.

Ramón Sampedro

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Falta
Às vezes sinto falta. Falta de nada. Ou do que não sei. Se sei, não quero saber. Sinto um estado de querer estar onde já estive, mas que fosse um lugar novo, com gente que já tive, mas gente nova. Sinto falta às vezes da certeza de que o caminho vai para algum lugar. Uma falta de não saber. Falta de saber. Quanto sei? Nem sei. Sinto falta de alguém que não conheço, ou que já conheci e esqueci. Sinto falta do que esqueço. Esqueci de querer coisas que eu não devia. Que eu não devia ter. Falta do que eu não devia ter. O que será? Será que faz algum sentido? Falta de sentido. Deve ser isso. Falta de sentido no que sinto. Falta de sentir. Mas se tenho, como falta? Eu sinto. Como posso sentir falta? Presente.

Passado.
Futuro.
Distante.

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca.

Não é fácil.

Quem não quer ver malucos, deve quebrar os espelhos.

Onde é que vai dar esta estrada?
Onde é que vai dar esta estrada?
Onde é que vai dar esta estrada?
Onde é que vai dar esta estrada?

Estou gostando muito desta música:

Sabe o que eu queria agora, meu bem?
Sair, chegar lá fora e encontrar alguém
Que não me dissesse nada
Não me perguntasse nada também
Que me oferecesse um colo, um ombro
Onde eu desaguasse todo o desengano
Mas a vida anda louca
As pessoas andam tristes
Meus amigos são amigos de ninguém
Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do interior
Pra entender por que se agridem
Se empurram pr'um abismo
Se debatem, se combatem sem saber
Meu amor... Deixa eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir
Minha dor... Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber
Me deixe aqui, pode sair... Adeus

Onde Deus possa me ouvir (Vander Lee)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

Procura, Procura, Procura, Criatura.
Procurei um poema de amor.
Não achei. Porque o amor está dentro de mim.

Certa vez entrevistei uma senhorada periferia que disse:
"Fia, cabeça vazia é a morada do demo".
Eu sei que não foi ela que disse isso pela primeira vez.
Mas foi a primeira vez que ouvi.
Nunca mais esqueci.
E agora estou preocupada.
Porque minha cabeça começa a ficar vazia.
Não bem a cabeça, mas os dias.
E aí, mais dia, menos dia, a cabeça "esvazeia", minha filha, e o demo entra nela.
Eu, hein, nem sei se esse cabra existe.
Mas é melhor não arriscar, né memo?!

Procuro um texto de comédia.
Não acho. Não acho. Não acho.
E nem é um textão.
É um textinho bem inho, de um minutinho e talvez mais meinho.
E não acho nem meio-texto.
Tantos livros e nada serve.
Hoje comprei mais um.
E acho que também não vai servir.
Que difícil dar um passo.

E o Oscar? (The Oscar)
Ray? Comovente. Comoventérrimo.
The Aviator? Bacana. Bacanérrimo. Mas compridiiiiinho...
Sideways... óóóóótimo. Tim-tim.
Menina de Ouro. Ai... lindo, mas tão dolorido.
Em Busca da Terra do Nunca... (Suspiro...)

Mas como Sharom Warren (mãe do Ray no filme) e C.J. Sanders (Ray criança) não concorrem ao Oscar, eu realmente não sei. Eles são a alma do filme.

Preciso procurar melhor.
Muitas coisas.
Menos alguém para amar, que isso já tenho e tenho bem.

Keep walking.
Drink water.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

O Grande Irmão, O Grande Pai, A Grande Dúvida



Sempre achei que Maria Madalena teve sua história deturpada. Não sei por quem. Mas aquela mulher pintada aos pés de Jesus na cruz sempre me pareceu muito mais iluminada do que me faziam crer que ela era - ou não era. Não sei até que ponto acredito em toda a teoria desenvolvida no Código da Vinci, mas pensar em Maria Madalena como a força feminina e o sagrado feminino ao lado de Jesus é tão lindo que me faz querer ter fé nessa possibilidade.



E, afinal, será que podemos estar sendo enganados a respeito de tudo o que acreditamos? Ou a respeito da única coisa que nunca questionei: a divindade de Jesus Cristo. Nunca saberemos. Mas, divino ou não, com Maria Madalena ao seu lado ou não, filho ou não, pai ou não, Jesus existiu e ninguém questiona a beleza da sua existência. Se puder seguí-lo sempre, eu vou. E sou feliz por ir.



Principalmente quando existe amor na vida da gente, o exemplo de Jesus está lá.



Na minha vida está, então. Tanto.



Meu amor vai bem. Depois de quase não ir mais, vai de novo. E como é bom ir bem! É comer no japa todo dia, é se encher de chocolate e não engordar, é filé de frango à milanesa, é um texto bem escrito, é um conto de Clarice Lispector e uma peça de Gero Camilo. Arararira, meu amor.



E hoje descobri que crase antes de pronome possessivo é facultativo. Pode?

É uma das coisas mais estranhas que já vi!

"Em relação às suas expectativas" pode ser "em relação as suas expectativas".

Tá bom, já entendi que pode. Mas acho HORRÍVEL!



Só por isso, vou embora!



E bom carnaval!

www.globo.com/carnaval2005