quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Traição

Para começar, uma letra do Chico, de CAROS AMIGOS:

Você vai me seguir
Aonde quer que eu vá
Você vai me servir
Você vai se curvar
Você vai resistir
Mas vai se acostumar

Você vai me agredir
Você vai me adorar
Você vai me sorrir
Você vai se enfeitar
E vem me seduzir
Me possuir, me infernizar

Você vai me trair
Você vem me beijar
Você vai me cegar
E eu vou consentir
Você vai conseguir
Enfim, me apunhalar

Você vai me velar
Chorar, vai me cobrir
E me ninar.

Quero falar da traição baixa, feia, suja, e triste. A traição que não deixa chance para desculpas, explicações, justificativas e reconciliações. A traição tramada, pensada, executada com requinte. A traição consentida e sentida. A traição construída em detalhes e cuidados de bandido. A traição com maldade. Traição do amor e da amizade. "Você vai me trair, você vem me beijar". A traição de quem beija traindo. E ri. Até sem saber que ri, ri. Trai e ri. A traição invisível para quem ama e escancarada para quem vê. E todo mundo vê. A não ser o cego. Não da vista, mas da alma. Porque a alma que ama não vê o mal. Traição é desamor. Ainda que digam que não. Em vão.

E o pior de trair não é o que se faz, mas o que não se faz para proteger o amor traído.
Porque até para trair, dá pra ter dignidade. Quem não tem, azar. Fica infeliz. E só.

O preço é caro. Bem caro. Um dia a gente se dá conta. Ou não.

Para terminar, outra letra do Chico, de CALABAR, O ELOGIO DA TRAIÇÃO:

Fortaleza
A minha tristeza não é feita de angústias
A minha tristeza não é feita de angústias
A minha surpresa
A minha surpresa é só feita de fatos
De sangue nos olhos e lama nos sapatos
Minha fortaleza
Minha fortaleza é de um silêncio infame
Bastando a si mesma, retendo o derrame
A minha represa.


Quem tem ouvidos, escute.

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