sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Te ver e não te querer
É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer
É insuportável, é dor incrível
É como mergulhar num rio e não se molhar / É como não morrer de frio no gelo polar / É ter o estômago vazio e não almoçar / É ver o céu se abrir no estilo e não se animar / É como esperar o prato e não salivar / Sentir apertar o sapato e não descalçar / É ver alguém feliz de fato sem alguém pra amar / É como procurar no mato estrela do mar / É como não sentir calor em Cuiabá / Ou como no Arpoador não ver o mar / É como não morrer de raiva com a política / Ignorar que a tarde vai vadia e mítica / É como ver televisão e não dormir / Ver um bichano pelo chão e não sorrir / É como não provar o nectar de um lindo amor / Depois que o coração detecta a mais fina flor
Te ver, Skank

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Ditadura

Não consigo mais
Por que sou obrigada a ficar aqui?

Não quero mais falar.
Não quero mais ouvir.
Não quero mais ter tempo pra nada.

Que tortura, meu Deus.

Deus?
Por favor.
Faz alguma coisa.

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

É possível estar mal e pensar direito?

Uma das questões mais interessantes da psicologia das últimas décadas é a seguinte: em que medida o sofrimento psíquico de um sujeito deve ser relacionado com um defeito de sua percepção e de seu entendimento do mundo? Obviamente, a pergunta é relevante só quando o sofrimento é uma condição severa e duradoura.

Tomemos, por exemplo, a depressão, um estado patológico que, em princípio, não nos torna delirantes nem alucinados. "Ser" depressivo (diferentemente de "estar" deprimido) significa passar, ao longo da vida, por vários episódios de depressão profunda e sofrer de uma constante dificuldade em encontrar a vontade de viver.

Pois bem, será que ser depressivo implica (como causa ou como efeito) um erro de percepção e de pensamento? Qualquer terapeuta gostaria que fosse assim: bastaria corrigir o erro e, com isso, quem sabe a depressão fosse "curada". Se você é depressivo e enxerga o mundo como a brincadeira sádica de um deus maléfico, talvez você seja vítima dessa visão "errada". Ao corrigi-la com as palavras certas, a gente transformaria seu humor de vez, faria de você outra pessoa. Mas sobra a pergunta: será mesmo que, por você ser depressivo, sua percepção do mundo está errada?

Em 1979, foi publicada uma experiência (Abramson e Alloy, "Journal of Experimental Psychology", vol. 108, nº 4), na qual dois grupos de sujeitos (os deprimidos e os "saudáveis") deviam descobrir se suas ações tinham ou não alguma influência sobre uma lâmpada que, de fato, se acendia e se apagava ao acaso. Os não-deprimidos, apesar dos desacertos, concluíram que suas ações eram eficazes. Os deprimidos concluíram (corretamente) que suas ações não tinham eficácia nenhuma e que não havia como fazer a cabeça da maldita lâmpada.

Para alguns críticos, a experiência demonstrava apenas o pessimismo dos deprimidos. Mas resta que, no caso, a conclusão dos deprimidos foi certeira; portanto caberia salientar o extravagante otimismo que extraviou os não-deprimidos e constatar o realismo dos deprimidos. Aliás, a questão levantada pela experiência de 79 entrou para a história da psicologia como problema do "realismo depressivo" (há novas experiências publicadas no recente vol. 134 do "Journal of Experimental Psychology").

O interesse desse debate não é só clínico. Acaba de sair um livro imperdível, "Lincoln's Melancholy: How Depression Challenged a President and Fueled His Greatness" (A Melancolia de Lincoln: como a depressão desafiou um presidente e alimentou sua grandeza), de Joshua Wolf Shenk. Shenk se baseia nos relatos dos que foram próximos de Abraham Lincoln para confirmar que ele foi clinicamente deprimido durante a vida toda. Logo, o autor se pergunta se essa depressão grave e crônica constituiu um impedimento ou se, ao contrário, foi uma vantagem na conduta do presidente americano durante a Guerra de Secessão. Ora, Shenk argumenta de maneira convincente que a depressão de Lincoln foi responsável por suas qualidades de estadista.

A seguir, alguns exemplos:
1) A depressão clínica é sempre acompanhada por um intenso processo de pensamento: reavaliação contínua da realidade, dúvidas sobre a ação certa, exame constante de consciência e por aí vai. Esse processo leva o sujeito a um conhecimento especial das contradições de sua própria alma e da dos outros. Na vida pública, isso permite negociar sem desprezo pela parte adversa.

2) O deprimido que ultrapassa suas crises sem sucumbir tem, em regra, a coragem e a capacidade de encontrar motivações sem recorrer a grandes princípios (o que pediria um entusiasmo que é impossível na depressão). Lincoln, embora convencido de que a abolição da escravatura fosse moralmente correta, nunca invocou a certeza de que Deus estaria do seu lado, mas alegava (inclusive por escrito) que, quanto a Deus, cada lado podia considerá-lo seu aliado. É uma outra qualidade crucial para a vida pública, a não ser que a gente prefira entregar as rédeas do governo a iluminados e fundamentalistas.

3) A adversidade, para o deprimido, é, por assim dizer, natural (nada existe sem antagonismo). Deparar-se com oposição e derrota é, para ele, uma travessia normal. O resultado é a perse- verança.

Recentemente, uma psiquiatra (Kay Redfield Jamison, "Touched with Fire: Manic Depressive Illness and the Artistic Temperament", Tocados pelo Fogo: a doença maníaco-depressiva e o temperamento artístico) mostrou que uma cura apressada da depressão nos privaria de inúmeros talentos artísticos e literários. Shenk estende o mesmo princípio a uma figura política; ele mostra que, no caso de Lincoln, a depressão não foi "uma falha de caráter que desqualificaria a liderança de um sujeito". Longe de comprometer o pensamento e as decisões do presidente, ela foi o traço de caráter que fez dele o estadista lúcido e necessário num momento sombrio da história de seu país.

Em suma, muitas aventuras dolorosas da mente são partes da subjetividade de quem sofre e, às vezes, partes irrenunciáveis, cuja "cura" deixaria o mundo mais pobre e mais estúpido.


Contardo Calligaris, Ilustrada, Folha de S.Paulo, 29 de setembro de 2005

terça-feira, 18 de outubro de 2005

em quanto

eu me entrego
de novo
a isso que não sei o nome
mas que sabe o meu

mar não é
mas é sal
sol não é
mas é mal

vem de um bem que foi embora
e demora
demora
demora a passar

eu me entrego
de novo
a todo sofrimento
de todo o sentimento

é quase uma indecência
de tanta desvontade
saudade sempre é
saudade

eu me nego
a gastar a voz em vão
no chão
minhas palavras dormem

dorme comigo
dor
dor
dor

dorme e cansa
antes que eu canse
Essa Dor

É uma dor que mata.
Mata um tanto de mim que não volta.
Mata e volta pra matar de novo.

Como foi que eu deixei essa dor voltar?

É uma dor do corpo inteiro
Por dentro da cabeça
Por dentro lá de dentro
Por dentro.

E fora não sobra nada
Uma cara esforçada
Uma voz machucada
Nenhuma estrada.

Como foi que eu deixei?

Serve pra nada esse monte de estudo
Esse monte de escudo
Esse monte de espada
Serve pra nada esse tempo de vida
Tanto amor, serve nada.

Se acaba assim mesmo a alegria
Nem com todo o abraço
Nem com todo laço
Basta a ventania
Pedaço.

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

New Play in LA

another break-up song
another break-up song
this one is mine
the most pathetic its kind
this one is for the girl who's left behind

another break-up song
you breath and sing alone
if you've heard this one before
love is there and then it's gone

(...)
she is moving on

and I'm still flipping in this fresh war

(...)
the door has been opened
you don't just shut it
you simply walk away
something is always gonna stay

(a try to write down) Another Break-up Song, from Lori Scarlett
in The Break-up Notebook


"On stage at the Center gala, while we all held in our tummies beneath our body shapers and enjoyed our traditional formal gala dinner of chicken and wild rice, we were treated to a preview of the rock musical, The Break Up Notebook, adapted from playwright Patricia Cotter's hilarious, poignant play about the emotional aftermath of a girl's divorce. When I saw the play two years ago, it struck a cord with me as I watched the leads, one played by Jane Lynch, known to most of us as the manipulative lawyer and seductress of pregnant Tina on The L Word, act out the histrionics, heartache and recovery following the two-and-a-half-year life cycle of a girl's relationship. The scenes were all too familiar to those in my own life, as I had just experienced my own romantic split, after two-and-a-half-years."

domingo, 16 de outubro de 2005

Vai, vê se me esquece
tira meu nome da lista de telefone
vai ver que o mundo anda tão bem
mesmo eu sem você
você sem ninguém
Eu vou por aí
vai se livra de mim
vai ver que é mesmo assim
Não tem nada de mágoa
o caminho da água também é cheio de pedras
E o rio não pára
mas não tem nada de rio, de água, de pedra
Não tem explicação
não tem nada não
Eu vou por aí
vai se livra de mim
vai ver que é mesmo assim
Eu vou seguir a luz dos faróis, que me lembram seus olhos
Vai ver que eles podem me ajudar a ver
que não há de ser nada
que não há de ser nada
Eu vou por aí, eu vou por aí
Pior de tudo é que a gente ainda vai se ver
ando em ruas que não sei o nome pra me perder
Pior de tudo é que a gente ainda vai se ver
ando em ruas que não sei o nome
pra me perder
Vê Se Me Esquece, Ana Carolina
Voltou.

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Uma idéia de morte.
Passou.
Pode voltar.

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

nada de novo

um vazio na cabeça
um universo pra percorrer
um espaço indefinido
e é tudo uma questão de tempo
mil vontades
mil faltas
mil coisas impossíveis
por enquanto
certas palavras que já não dizem nada
certos gestos que já não existem
certos erros
que se repetem
quem vai?
quem vem?
quem fica parado?
quem?

é como não existir mais porque tanto faz. os poucos que lembram, lembram pouco. os outros morrem. os que vivem nem sabem pra quê. a não ser aqueles que têm filhos. ou, por outra, aquelas. para essas é claro. claro que eu digo é de luz. deram à luz. e então elas têm mais razão, sabe. eu não tenho. não terei. ás vezes penso: que pena. às vezes, que bom. afinal, para quê? ah, pra ter motivo do resto do tempo não vale. então nem quero mais tempo. não faço questão. cansei de fazer questão só. só que eu digo é de solidão mesmo. não de gente. gente há. mas de razão. não é que eu não tenha. é que não há. a não ser... bem... já falei sobre os filhos.

fora isso, estou rodeada de livros. muitos ainda me falta ler. mas mesmo que eu leia. e daí? talvez eu prefira não fazê-lo, não lê-lo, não pensá-lo, não nada. ainda não sei bem. só talvez.

fora isso, estou rodeada de tédio. muito me faltava fazer, mas já nem ligo. é que pouco importa, sabe. porque não se chega a lugar nenhum mesmo. é só uma questão de tempo. e de como ele passa. se bem, bem. se mal, chato.

então vá ao teatro.
vá ao cinema.
vá fazer o que é bom pra você.

eu sei lá.

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Vai acabar! Corra!!