quinta-feira, 29 de maio de 2003

Das minhas tentativas diárias

Eu tento não pensar mas esta cabeça vazia me trai.

Este você tão presente o dia inteiro.

Um novo som, uma nova cor

Um novo tom, uma nova dor

Outra loucura...



Existe um você novo, que pode se tornar um novo amor.

Mas talvez exista só o meu olhar, sem espelho.



É um esforço constante pra mudar essa rotina que parece não ter fim.

Esse costume de te ter no pensamento todo o tempo.



Eu estou em vários lugares novos, diferentes, interessantes.

E eu olho nos olhos de quem me desperta uma alegria qualquer...



Faço a minha parte. Ou pelo menos o que acho que ela é.

Tenho sido inteira, você sabe. Ou pelo menos tento muito.



Acho que consigo muita coisa. Menos o que eu realmente preciso.

Muita gente me chama, pra muitas coisas. Mas ninguém me chama para si.



Não quero mais o espelho. Nunca quis.

É que em você eu me via melhor.



Então eu só queria pedir a Deus, ou a alguém, que o novo você não seja ilusão.

Ou que pelo menos me abrace uma noite, para termos certeza de que não é.



Ou então que me abrace muito.

Que me faça voltar a fazer planos...

Depois de todos esses anos...

Que me ame.



Se nada acontecer, volto ao começo, desse meio, sem fim.

Se nada acontecer, eu tive você e isso me consola.



Mas que aconteça.

Se você me olhar bem, vai ver.

Talvez, se você me olhar bem, vai me amar.

E se você me amar, eu vou te amar também.



Have faith.

I do.

domingo, 25 de maio de 2003

O Centro do Espelho

Eu tento.

Tento inventar uma nova paixão.

Um novo pensamento, uma empolgação.

Mas não adianta. É você. Só você.



É você

Só você

Que na vida vai comigo agora

Nós dois na floresta e no salão

Nada mais

Deita no meu peito e me devora

Na vida só resta seguir

Um risco, um passo, um gesto rio afora



É você

Só você

Que invadiu o centro do espelho

Nós dois na biblioteca e no saguão

Ninguém mais

Deita no meu leito e se demora

Na vida só resta seguir

um risco, um passo, um gesto rio afora

Na vida só resta seguir

Um ritmo, um pacto e o resto rio afora

É Você, Tribalhistas


sexta-feira, 23 de maio de 2003

Quem não tem pra quem se dar

O dia é igual a noite

Tempo parado no ar, há dias

Calor, insônia... Noite

Quem ama vive a sonhar de dia

Boa Noite, Djavan


quinta-feira, 22 de maio de 2003

Por que me apaixonei por ela

Li este texto há tempos na Revista TPM. Hoje me deparei com ele de novo. E quis guardá-lo aqui. Acho de uma beleza indescritível a capacidade que uma pessoa pode ter, inclusive no momento mais difícil de uma vida em comum, a separação, de mostrar por que foi que a gente se apaixonou por ela um dia. E continua apaixonada.



Eu poderia ter escrito tudo isso. Exatamente assim. Porque ao seu lado, e incentivada por você, cresci, amadureci e fui feliz. Líamos na cama, levávamos os sobrinhos ao cinema, escolhíamos os filmes do fim de semana, o sabor do sorvete, a próxima viagem. Conversávamos sobre a vida, planejávamos o futuro, tentávamos entender o passado e ríamos muito. Ríamos das coisas engraçadas, das coisas tristes, das coisas bobas, das coisas sérias... Você me fez ver o que eu jamais teria visto sem você. Me fez chegar a lugares que eu talvez levasse uma vida para chegar, se chegasse. Me fez ser um tipo de pessoa que eu muito provavelmente nunca conseguiria ter sido. Me fez optar pela estrada certa, mesmo não sendo a mais fácil ou nítida. Você foi embora, mas deixou seu sorriso perfeito, branco, aberto, sincero, sempre apaixonado.



E você me coçava as costas, como se aquilo fosse para mim a maior felicidade do mundo! E era. Esse amor não vai acabar nunca. Eu tenho (ou tive) sorte. De detalhes e de pessoas. Muita sorte.



Quando o amor não acaba

Milly Lacombe



A culpa – porque sempre existe culpa quando se trata dessas coisas do coração – foi de uma calça cor-de-rosa da Levi’s. Uma dessas 501, de cintura baixa, bem baixa. Quando ela entrou na redação usando aquela calça, fiquei maluca. Mas ali não havia muito o que fazer. Ela tinha namorada, era praticamente casada, e eu teria que me contentar com as sempre bem-vindas, mas muitas vezes insuficientes, fantasias. Foi esse meu primeiro contato visual com a Tati, minha mulher e companheira nos últimos dez anos.



Depois do episódio da Levi’s rosa, como elas – calça e proprietária – não me saíam da cabeça, decidi investir numa improvável amizade e esperar por uma janela de oportunidade. E fui me aproximando, ficando mais íntima, mais amiga, confidente, conselheira, até que, finalmente, já completamente apaixonada, vi uma brecha. No começo, foi um relacionamento tumultuado, cheio de idas e vindas, de traições e culpas. Até que ela resolveu se mandar sozinha para uma temporada na Califórnia e, quatro meses e 11 mil milhas depois, lá estava eu atrás dela, na terra onde o sol sempre brilha. E foi então que minha alma percebeu que havia chegado em casa. Tati era tudo pra mim. Me dava colo, conforto espiritual, me aprumava, me acariciava, me namorava.



Ao lado dela, e incentivada por ela, cresci, amadureci e fui feliz. Tati cuidava da grana, da comida, das burocracias pentelhas do dia-a-dia e, claro, de mim. Eu ficava incumbida de lavar a louça, de fazer ela rir e de dançar devagarinho com ela na sala, à noite, bem tarde, enquanto o mundo dormia. Juntas, fazíamos supermercado, ginástica, líamos na cama, levávamos os sobrinhos ao cinema, escolhíamos os móveis da sala, os filmes do fim de semana, o sabor do sorvete, a próxima viagem. Conversávamos sobre a vida, planejávamos o futuro, tentávamos entender o passado e ríamos muito. Ríamos das coisas engraçadas, das coisas tristes, das coisas bobas, das coisas sérias – em minha memória, existe um arsenal imenso de risadas compartilhadas com minha companheira de cabelos castanhos, pele e olhos cor de mel.



Tati dormia abraçada comigo, me coçava as costas, lia meus textos antes de publicados, fazia correções, sugestões e colocava a cabeça em meu ombro quando falava, sempre com extrema competência e simplicidade, sobre as coisas mais profundas da vida. Levava vinte minutos escovando os dentes antes de deitar porque estava convencida de que assim evitaria futuros problemas na gengiva, passava creme no rosto dando tapinhas leves na testa e na bochecha num ritual delicioso e que todas as noites me fazia rir, dormia sempre de bruços e sempre muito silenciosamente, e, antes de engolir qualquer bebida, “mastigava” o líquido para “fazer com que ele descesse mais quentinho”.



Ela me fez ver o que eu jamais teria visto sem ela. Me fez chegar a lugares que eu talvez levasse uma vida para chegar, se chegasse. Me fez ser um tipo de pessoa que eu muito provavelmente nunca conseguiria ter sido. Tati me fez acreditar que eu podia, que eu devia, que eu precisava ouvir os anseios mais profundos da minha alma. Me fez optar pela estrada certa, mesmo não sendo a mais fácil ou nítida.



Há algumas semanas, Tati e eu decidimos seguir caminhos separados. Depois de passar dez anos respirando o mesmo ar que ela, estou reaprendendo a dar meus passos sem ser amparada, sem ser observada, sem minha maior admiradora e fã. E foi durante o sempre doloroso processo de separação, esse que divide CDs, livros, guarda-roupa (no caso de casais gays, claro) e a alma, que ela me fez ver com clareza exatamente por que me apaixonei perdidamente por ela há dez anos.



Tati é magnânima, delicada, inteligente, doce, sensível, carinhosa, linda e, acima de tudo, me ama com um tipo de desinteresse genuíno que normalmente esperamos receber apenas de nossos pais.



Em minha memória, sobraram fragmentos de imagens apaixonadas, engraçadas, divertidas, inesquecíveis: ela e eu decidindo o jantar daquela noite, fervendo a água para o macarrão, brindando nosso relacionamento com vinho tinto, rindo alto de algum episódio de Friends, fazendo panqueca no café-da-manhã, jogando raquetinha na praia, tênis no clube, comprando pão francês na padaria, o quindim do Pinheiros, correndo na pracinha, conversando na cama antes de dormir, brincando de fazer amor.



Tati me fez mulher, me fez feliz, me fez quem sou. Tati foi embora, mas deixou seu sorriso perfeito, branco, aberto, sincero, sempre apaixonado. E a Levi’s cor-de-rosa, evidentemente. Porque ela sabe que os ciclos da vida são feitos de pequenos e aparentemente insignificantes detalhes – e de pessoas. Pessoas, para os que têm sorte, como a Tati.


...

Too lonely to write.

Too lonely to read.

To lonely to think.

Too lonely to live, sometimes...

terça-feira, 20 de maio de 2003

Sentidos Invisíveis

Frases soltas fazem o sentido que quer quem as lê.

Without a Trace é simplesmente um seriado que passa na WB.

Que vi outro dia. E de onde roubei falas...

Incrível como fazem um sentido pra mim.

E, então, pra você talvez o mesmo, talvez outro, talvez nada.

O olhar de cada um é uma ilha de edição.




segunda-feira, 19 de maio de 2003

Without a Trace

Ela tem as histórias dela e eu faço justiça.

Seu segredo está seguro comigo.



Tomando grandes decisões?

Respire fundo. Não posso adivinhar as coisas. Conte.

Desculpe, mas... eu não te conheço.

Desculpe, mas não vai querer me conhecer.

Não se lamente. Só cuide disso, ok?!



A fonte.

O advogado.

Obrigado por vir.

Vou me retirar.

Sente-se. Eu mando aqui.

Estou sendo acusada de algo?



Qual é o próximo passo?

Atiçar o fogo.



Quem é?

A última obssessão dela.

Vai contar do que se trata?

Sinto muito.

Ouça...

Vá.

Vai dar tudo certo.



Chegou a sua hora.

O que está havendo?

Não sei... How the hell should I know?

É o seu dia de sorte.



Acabou.

Você está bem?

Estou.



Acha que ela está morta?

Sim.







domingo, 18 de maio de 2003

Mil dias antes de te conhecer



Tempo, tempo

Mano velho

Falta um tanto ainda, eu sei

Pra você correr macio...

Tempo, tempo, tempo, mano velho

Vai, vai, vai, vai, vai, vai...

Tempo amigo

Seja legal

Conto contigo

Pela madrugada

Só me derrube no final...




Mas às vezes demora pra curar.

O tempo passa, mas demora.

Já faz tanto e parece que foi hoje cedo!

Parece que foi hoje, mas faz tanto...

Há oito te conheci.

Há três não conheço mais.

Há 28 sinto sua falta.

Serão cem?




quarta-feira, 14 de maio de 2003

Parece que foi hoje

Parece que foi hoje cedo...

Parece que foi hoje que a gente se conheceu.

Que fomos ao cinema e esquecemos da hora.

Que erramos o caminho e ninguém ligou.

Parece que foi hoje que te vi andar e decorei como era.

Parece que senti hoje o cheiro daquele perfume que é você.

E parece que foi hoje que comecei a usá-lo também.

Parece que hoje foi o dia em que você dirigiu meu carro.

Parece que foi hoje que dormimos todos na sua casa...

Embriagados, depois de amanhecer, sem saber bem onde estávamos.

Parece que foi hoje que a sua casa virou meu lugar favorito.

Que hoje eu faltei no trabalho pra passar a tarde com você.

Que eu parei o carro no cruzamento e nos abraçamos por mais de uma hora.

Parece que foi hoje que a gente cantou no carro aos berros.

E que eu decorei a chapa do seu Tipo preto.

Parece que foi hoje que tudo o que eu vejo quero comprar pra você.

Parece que hoje eu chorei de saudade porque você foi viajar sem mim.

Parece que foi hoje que a gente tentou se separar e não conseguiu.

Parece que hoje a gente comprou as passagens pra Salvador.

E parece que foi hoje que você, por mim, topou ir no Crocodilo todos os anos.

Parece que foi hoje que eu te agradeci mil vezes por você existir.

Parece que hoje eu me senti a pessoa mais amada do mundo.

E tive aquela certeza de querer passar a vida inteira com você.

Hoje parece que você chegou aqui com sanduíche do Mc e acendemos a lareira.

E parece que foi hoje que eu te ensinei a gostar de comida japonesa.

Parece que foi hoje que a gente se fantasiou de catchup e mostarda.

E que andei com você, cheia de orgulho, por aquela festa à fantasia.

E parece que foi hoje o casamento da Pati.

E nós naquela mesa, os casais mais lindos do Leopoldo!

Parece que foi hoje que você me acalmou.

E me fez parar de chorar, e me melhorou.

Parece que hoje você me disse eu te amo com a carinha mais linda do mundo.

Parece que foi hoje que a gente imitou criança.

E que depois do escuro cê tava cá má ropinha.

E parece que hoje cê me falou: fiz arte!

Parece que foi hoje que a gente chegou no Arraial d'Ajuda.

Naquela pousada linda, naquele lugar só nosso.

Parece que hoje eu te olhei e tive medo de te perder um dia.

Parece que hoje eu te olhei e tive medo de te perder pra sempre.

Ai, parece que foi hoje que larguei tudo só pra te ver por um minuto.

E que a gente furou os dois pneus do carro na 9 de julho.

E parece que foi hoje que a sua irmã chegou em casa de surpresa.

E que a gente quase morreu do coração!

Parece que foi hoje que você me fez gostar de praia.

E que eu te convenci a mergulhar só um pouquinho.

Parece que hoje eu acordei com você e passamos o domingo à toa vendo TV.

Parece que foi hoje que pensei que minha vida com você não tinha fim.

Parece que foi hoje que a gente pediu comida no América.

E que depois chegamos tão tarde na festa da ESPM!

Parece que hoje a gente chegou em Valle Nevado e eu pensei que era um sonho.

Parece que foi hoje que você me ensinou a beber vinho tinto.

E que você aguentou meu mau humor e que me fez querer mudar.

Parece que foi hoje que a gente preencheu a ficha pro programa de trainees.

E que você foi me buscar depois da dinâmica e ficou me ouvindo contar.

Parece que foi hoje que passamos a noite em claro terminando o PCM.

Parece tanto que foi hoje que a gente chorou porque não queria ir embora.

Parece que foi hoje que eu quase morri quando decidimos terminar.

E parece que foi hoje que a gente não aguentou e voltou atrás.

Parece que foi hoje que eu me dei conta de que é você que eu amo.

Parece que hoje eu descobri que amar é só a alegria que tenho ao seu lado.

Parece que foi hoje que nos encontramos no aeroporto por 30 segundos.

E parece que foi hoje que deixei bilhete no seu carro e presente na portaria.

Parece que foi hoje que armei pra te mandar a cesta de café-da-manhã.

E que hoje passamos tanto medo de que alguma coisa tivesse acontecido.

Parece que foi hoje que você chorou e me deu todas as cartas pra eu guardar.

Parece que eu dormi com dor no braço só pra não largar sua mão.

E que eu passei frio porque não quis te acordar pra puxar o cobertor.

Mas parece que foi hoje que eu acordei e chorei de emoção só de te ver ali.

Parece que foi hoje que pegamos a estrada e fomos pro haras pela primeira vez!

E que nos prometemos ser fiéis, e que decidimos ser felizes de qualquer jeito.

Parece que foi hoje que conversamos sobre tudo e dividimos segredos.

Que eu escrevi no meu diário que não podia mais viver sem você.

Que eu escrevi no meu diário que nunca tinha sido feliz assim...

Parece que foi hoje que eu te dei uma caixa amarela lotada.

E que você disse que tinha encontrado tudo o que procurava.

E que você escreveu: todo meu prédio já sabe que eu tenho um amor.

Parece que foi hoje que eu te implorei para não ir embora.

Parece que foi hoje que você me deu uma das cartas mais lindas que já li.

Parece que foi hoje que assisti seu jogo e senti o maior orgulho dos seus gols.

E parece que hoje foi o dia em que virei sua fã pra sempre.

Parece que foi hoje que compramos meu bolo de aniversário aí na frente.

Parece que foi hoje que você me ensinou tudo o que eu sei.

Parece que hoje você me ajudou na cena pro meu teste.

E parece que foi hoje que você disse que eu era a sua atriz favorita.

E parece que hoje eu morri de orgulho te assistindo no final da peça.

E morri de rir te vendo cantar Se essa rua fosse minha...

Parece que hoje eu peguei as nossas fotos e fiquei te olhando sem fim!

E hoje eu te liguei de longe e te disse que sem você nada tinha graça.

E parece que foi hoje que te cantei em italiano Senza Te.

E que cantamos tão bem La Solitune e Alma Gêmea no karaokê...

E chorei de saudade e de alegria por ter você ao meu lado.

Parece que foi hoje que olhei pra minha vida e ela me bastava.

Parece que foi hoje que eu fiz planos e quis viver cem anos, com você.

Parece que foi hoje cedo.



Parece que essa dor não vai passar nem se existir outra vida.

domingo, 11 de maio de 2003

Mãe

Já me ensinaram que Dia da Mãe é todo dia.

Mas já que inventaram que é hoje, aproveito pra falar umas linhas da minha.

Eu amo muito a minha mãe. Temos muitas coisas em comum.

Damos MUITA risada às vezes e eu amo quando isso acontece.

Só com ela consigo compartilhar de verdade algumas coisas:

literatura que amamos, minhas filosofias, meus questionamentos sobre tudo...

histórias de família que adoro, as saudades da minha tia Dila...

Mas, temos muitas frustrações uma com a outra.

Algumas faladas, outras sentidas, outras ainda escondidas.

No fundo a gente sempre sabe. Mas pra quê se agredir, não é?

E como não dá pra trocar de mãe, nem de filha, nos amamos quando dá.

E eu continuo tentando fazer com que a gente tenha mais momentos bons.

Porque os nossos momentos bons são muito bons.

E quando a gente se ama é TÃO legal...

Sinto que com o tempo nada mais pode piorar.

Portanto, dias melhores virão.

E hoje foi bom. Rimos bastante.

Sabe, ela é bem engraçada de vez em quando...



Eu adoro a minha família, apesar de toooodos os pesares.

E estou MORRENDO de saudade da minha irmã querida, que teve hoje o primeiro dia das mães com a Sofia-mais-linda-desse-mundo-que-eu-amo-muito-e-não-vejo-a-hora-de-abraçar-e-esmagar... MEU AMOR!!!!!

quinta-feira, 8 de maio de 2003

Mulheres Apaixonadas

Não consigo acompanhar uma novela inteira há anos.

Mas sempre passo pela sala e sempre sei o que se passa.

Muito raramente alguma coisa me comove.

Mas hoje, eu confesso, estou chorando um choro fundo...

Por causa de uma cena de novela.

Porque eu vivi aquilo. E sei exatamente que dor é.

Porque eu queria tanto que tivesse sido diferente.

Porque eu não me conformo.

Ai, se dependesse só de mim...



Porque eu tenho tanta, mas tanta saudade...



E o mais incrível é que essa música já me dói há muito tempo.

Entre tantas músicas, esta. Que eu canto tanto desde então.

Às vezes parece que é de propósito.

Mas com que propósito, meu Deus?



Me encantaria te amar menos.

Mas como é que faz?



segunda-feira, 5 de maio de 2003

O QUE É ANGÚSTIA

Um rapaz fez-me essa pergunta difícil de ser respondida. Pois depende do angustiado. Para alguns incautos, inclusive, é palavra de que se orgulham de pronunciar como se com ela subissem de categoria - o que também é uma forma de angústia.



Angústia pode ser não ter esperança na esperança. Ou conformar-se sem se resignar. ou não se confessar nem a si próprio, ou não ser o que realmente se é, e nunca se é. Angústia pode ser o desamparo de estar vivo. Pode ser também não ter coragem de ter angústia - e a fuga é outra angústia. Mas angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai.



Esse mesmo rapaz perguntou-me: você não acha que há um vazio sinistro em tudo?

Há sim. Enquanto se espera que o coração entenda.



Clarice Lispector, em A Descoberta do Mundo




sexta-feira, 2 de maio de 2003

Lego com defeito

Há coisas que simplesmente não se encaixam.

A gente realmente não se encaixa em algumas situações.

Eu, definitivamente, não me encaixo em alguns ambientes.

Claro que a pessoa tenta, vai, olha, pensa, repensa, se questiona, se esforça... Mas não rola. N-ã-o-r-o-l-a!!

E então é hora de entender e aceitar que não encaixa e pronto.

Não adianta ficar nessa de forçar a peça redonda no buraco quadrado. Não vai...

Nem o formato da peça, nem o do buraco, vão mudar de uma hora pra outra.

E se, de tanto forçar, a peça se entortar e entrar, bela droga, você terá para sempre uma peça estragada.

A coisa é esta e está bem claro: Não me encaixo.

E quer saber, acho bom não me encaixar porque nada daquilo me agrada muito.



Agora eu só quero ter alguém comigo.

Penso no resto depois... Ou nem penso.

quinta-feira, 1 de maio de 2003

Mais um dia

Ainda é assim. Por mais que eu tente não ser.

Hoje quando comecei a despertar, com os barulhos do dia misturados no sonho, pensei em você.

Você me vem à cabeça sem eu te dar licença, sem eu te chamar, sem eu querer. Você vem.

Ainda nem abri os olhos, não virei o corpo na cama, e você já está aqui, essa sensação de não ter.

A primeira vontade é aquela vontade terrível de não acordar. Mas passei dessa fase faz tempo.

A segunda vontade é a vontade improvável de fazer alguma coisa e te achar, e você aparecer.

A terceira vontade é a impossível de o telefone tocar, de você voltar atrás, de nós, de novo.

Mas aí eu levanto, e pronto. É só mais um dia nessa vida...