sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

Um amor que me tire do chão

Eu também quero.



LONDRES - Nicole Kidman afirmou à revista Hello que pretende encontrar um amor "que a tire do chão". "Sei que vai acontecer quando eu menos esperar", previu. Ela disse que a separação de Tom Cruise foi a pior coisa por que passou em seus 35 anos de vida: "senti uma tristeza imensa."



Eu também quero um amor que me tire do chão. Eu também senti uma tristeza imensa quando me separei de quem eu amava. E eu também acho que essa separação foi a pior coisa (ou uma das duas piores coisas) por que passei nos meus 28 anos de vida.



Pois voltamos ao mesmo ponto: o ser humano se repete.



Quem é que não quer um amor "que tire do chão"?

Pra que a vida sem amor? Sem um amor que tire do chão?

E há tantos tipos de amor.

Pode ser qualquer um.

Mas tem que tirar do chão.

E tem que estar junto.

No chão ou não, precisa estar junto.



Tem que ser um amor que namore todos os dias.

Um amor que tire do chão no primeiro mês e cinquenta anos depois também.



E que permaneça junto.

Mesmo que a guerra seja declarada.

Mesmo que a fome não seja zero.

Mesmo que o mundo esquarteje a fé.



Mesmo que acabe.



Não, solidão,

hoje não

quero me retocar

nesse salão de tristeza

onde as outras

penteiam mágoas

deixo que as águas

invadam meu rosto

gosto de me ver chorar

finjo que estão me vendo

eu preciso me mostrar

bonita

pra que os olhos

do meu bem

não olhem mais ninguém

quando eu me revelar

da forma mais bonita

pra saber como levar todos

os desejos que tem

ao me ver passar

bonita



Hoje eu arrasei

na casa de espelhos

espalho os meus rostos

e finjo que finjo

que finjo

que não sei



A Mais Bonita, Chico Buarque


quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

Estou antagônica

Sem motivo, apesar de ter.

Apesar de ter, não ter, ter, não ter.

Apesar de.



...hoje eu acordei com uma vontade danada

de mandar flores ao delegado

de bater na porta do vizinho e desejar bom dia

de beijar o português da padaria

Zeca Baleiro




...eu só queria me casar com alguém igual a você

E alguém igual não há de ter

Quando é que você vai sacar

Que o vão que fazem suas mãos

É só porque não está comigo?

Nando Reis


quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

Ela, de novo

Esse mistério...

Faça o que fizer, seja como for, o ciclo da vida não muda.

Um dia a gente morre.



Passei o dia no cemitério,

com a minha amiga mais que querida, a Lô.

Já falei dela aqui.

O pai dela morreu nessa madrugada.

Minha amiga amada, de tantos anos, tantas histórias.

Que hoje é santa, consagrada, distante mas sempre presente.

Tio Américo foi encontrar Tia Lucia, e nós ficamos.

Até quando não sei.

Só sei que tem um ATÉ.

E se o até for amanhã, já valeu?



Pra mim, sim.

A gente tem de estar "quites com a vida" todo dia.



Mas como é tudo tão frágil... tão sei lá.

De repente, acabou.



Como eles, que perderam todos os seis filhos - não consigo esquecer.

"Tem momentos em que vem a dor e eu choro, sim. Eu sou homem, né. Antes de ser cristão, eu sou de carne e osso. E choro"

E choro



É, antes de ser cristã, eu sou mulher, de carne e osso.

Mas eu queria muito ser cristã antes de TUDO.



Ou será que seria uma rima e não uma solução?



Deus?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2003

Reflexos côncavos

Às vezes a comunicação é cheia de ruído.

Não é nada disso.



Não, não me aqueça

Hoje eu quero o frio

O vazio

Que a sorte deixou aqui



Quero sentir a altura do abismo

Pra eu poder subir depois do perigo



Não, não me acalme

com sílabas doces

Hoje eu quero o açoite das palavras rudes

Pra que eu possa me defender em atitudes



Não, por favor hoje não me proteja

Para que eu finalmente veja

O que a vida reservou pra mim



Quero sentir a altura do abismo

Pra eu poder subir depois do perigo...



Depois do perigo, Zélia Duncan e Lucina

sábado, 25 de janeiro de 2003

Separações

Tenho febre, cansaço, dores pelo corpo, muitas dores.

Não sei se porque hoje assisti a Separações e me doeu, ou se porque tem uma gripe querendo entrar aqui.

De qualquer forma, a fragilidade é o que deixa a gripe entrar.

E se o coração tá doente, o corpo nem tem como reagir.

Mas o coração É doente.

Meus olhos fecham.

Eu queria me separar um pouco de mim.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

Onde estou?

Estou ausente de mim.

Embora tão em mim.



Descobri que há amores que, sim, pode ser que a gente leve pra vida inteira. Digo, amores perdidos. Alguém que a gente ama pra sempre, mesmo sem estar junto. Também sei que as nossas certezas se transformam, mas, hoje, é isso o que eu sei. Que quem eu amo eu amo pra sempre. Posso amar outra pessoa, e de verdade, mas a estrada de você vai seguir aqui, paralela à minha vida real - porque às vezes parece que você foi imaginação minha. Te amo e te espero todos os dias. Não se incomode, nem brigue comigo, só saiba. Se você não voltar mais, eu entendo. E quero mesmo que você seja feliz. Eu também queria aquela felicidade assim de novo, mas se não tiver mais, a que tive com você já fez valer a vida. Que bom, né. Não brigue comigo, me entenda também. A gente não escolhe. E eu te amo, que que eu posso fazer? E Deus eu não sei... Um dia Ele vai me explicar. E se eu tiver feito tudo errado, Deus, me perdoe desde já.



Crush, Padre Amaro e Amores Parisienses

Fui ver tudo isso nos cinemas esses dias. Sozinha.

Os três filmes valem a pena. Cada um de um jeito.



Crush tem a terrível tradução do título para O Que Elas Querem. Mas não é uma comedinha boba sobre mulheres que procuram homens. É divertido, e apaixonante, e estimulante, e triste, e bem triste, e engraçado, e feliz, e um monte de coisas. Acho que tem a ver também com a fase de vida de cada um. Talvez em outro momento eu gostasse menos, ou mais, não sei. Mas o caso é que o filme me pegou, em algum ponto, e eu adorei. Chorei rios, mas saí feliz, eu acho. Digamos que é sobre... a solidão feminina. E já que eu estava sozinha mesmo...



O Crime do Padre Amaro é aquela coisa pesada. Quem conhece a história, sabe. Não é pra sair do cinema "ok". É pra sofrer um bocado. E eu sofri mesmo. Mais ainda porque sou uma pessoa bastante religiosa. Sofri muito. E já que eu estava sozinha...



Amores Parisienses é uma brincadeira interessante. Pra quem fala francês e conhece as músicas francesas é muito mais legal. Mas suponho que seja MUUUUUITO mais legal mesmo! Eu gostei porque, sei lá, tem aquela veia teatral que me agrada. É quase cafona, como Oito Mulheres. Mas é gostoso de ver. E dei muita risada. Só não gostei mais porque eu estava com um sono louco e fiz um esforço sobre-humano pra não dormir. Porque eu sabia que valia a pena. E, também, já que eu tava mesmo sozinha...



Non, rien de rien... Non, je ne regrette rien...

Fora isso, mais nada.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

Todos os seis filhos

Estou dilacerada.

Eu tenho tudo. E não tenho nada.

De repente sou invadida de um não-sei-o-quê que me mata de tristeza.



Não consigo parar de chorar desde que vi essa foto, cuja legenda é

Antonio Laurêncio e a mulher, Valdezita,

pais de Felipe, que perderam todos os seis filhos




Eu simplesmente não consigo parar. E me dói.

Como se isso resolvesse alguma coisa.

Como se eu tivesse culpa.

Como se o meu choro aliviasse alguém

Não há alívio possível.

Chove. Chove. Eu chovo.

Como se eu não soubesse que estou fugindo de alguma coisa. E não sei.



Como é que se permite que alguém perca todos os seis filhos, Meu Deus?

Que direito eu tenho de não ser feliz?



Deus?
Só pra registrar...

...essas atrizes maravilhosas!



Meryl Streep, melhor atriz coadjuvante por Adaptação Renee Zellweger - a eterna Bridget Jones - é a melhor atriz de musicais por Chicago

Nicole Kidman, brilhante, melhor atriz por The Hours Jennifer Aniston, melhor atriz de seriado comédia - por Friends, claro!





quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

Meryl Streep A Escolha de Meryl

Eu adoro essa mulher.

Saiu uma entrevista dela na Folha de SP, dia 15.

Olha o que ela disse, sou eu:



ATRIZ E JORNALISTA - "Vejo semelhanças nas duas profissões, e acho que é por isso que fiquei tão intrigada com a personagem de "Adaptação". Ela fica de fora da vida das pessoas, observando, investigando, e é assim que se sente confortável. Atores fazem a mesma coisa, se emprestam para contar a vida de outras pessoas. Você pode ficar obcecada por algo, depois se encher e procurar outra coisa. Eu toquei violino obsessivamente, cinco horas por dia, durante cinco meses para fazer "Música do Coração" (1999). Desde então, nunca mais encostei no instrumento."



Quem ainda não viu As Pontes de Madison, pelamordedeus, veja!



Temos



Li na Nanda e me lembrei de tanto ter lido e ler: Clarice.

E de tanto ser o que sempre me lembro de ter lido, e ler, Clarice.



(...) Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregues a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. (...) Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida mais possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indeferença é angústia disfarçada.

Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos o que realmente importa. (...)

Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, Clarice Lispector




quarta-feira, 15 de janeiro de 2003

Amigos são a família que a gente escolhe

Eu acho isso muito bonito e uma muito verdade.

E eu sou muito orgulhosa da "família que escolhi".

(E da que não escolhi também).

Escolhi maravilhosamente bem os meus amigos.

Ou eles me escolheram, não sei.

Mas estamos juntos, incondicionalmente, e isso vale a vida, no mínimo.



Falei com a Fafá e, graças a Deus, ela me disse tudo que eu já sabia:

"Pelo amor de Deus, Ju! Vai ficar angustiada por causa dessa besteira."

E ainda disse que o Nandão mandou dizer pra eu largar de ser ridícula.

Que ótimo.

Meus amigos não são loucos.

Nem eu.



Não quero ter limites pra amar.

Por favor, pessoas que nem me conhecem mais, não me encham!

Obrigada.



Caricatos

Ai, foi ótima a leitura hoje.

O elenco é todo bom, todo legal, todo divertido.

Vai ser um oásis no meio das minhas manhãs áridas. (!?)



E que saudade da Sofia e da minha irmã!







O Dedinho Mindinho do Pé

Hoje começam os ensaios de Amídalas.

Era só essa a espera. Uma boa espera.



Daniela, Diego, Fafá e jeitos de amar

Ontem eu tive uma longa conversa com a Dani.

Eles já sabiam. Eu já sabia que eles já sabiam, anyway.

Mas sempre é bom trocar a imaginação pelos fatos, nesses casos.

Só lamento a história da Fafá. Que bobagem, Santo Deus!

Minha amada e idolatrada amiga, afilhada de casamento, tão especial.

Mais especial mesmo do que quase todo mundo. Minha irmã.



E essas meninas... de tantos anos de escola juntas...

Tadinhas, elas não entendem tantas coisas sobre amar.

As pessoas não são capazes de amar assim, desinteressadamente, meu Deus!

E por isso não entendem. Tadinhas, né...

Ainda bem que Fabiana é melhor do que todas elas.

Tá vendo, gente, por que a Fafá é a Fafá. Por essas coisas mesmo.

Mas eu sempre acredito que as pessoas podem melhorar, não desanimem.

Beijo pro Nandão.

Beijo pro Lucas.

Aliás, devo um conto pro Lucas depois que ele nasceu.

Virá.



Tem gente tão boba nesse mundo.



PS: Mas eu fiquei um pouco angustiada, sim.

terça-feira, 14 de janeiro de 2003

A Espera

Sabe aqueles dias em que você está só esperando?

Estou neles.



Joana D'Arc

Li sobre a ministra das Minas e Energia, na Veja e na Época (só deu ela esta semana).

E tenho a sensação de que eu seria guerrilheira se vivesse na ditadura.

Ou fui, se vivi - apesar de não acreditar muito em vidas passadas, sei lá...

Tenho lembranças que não sei de onde vem.

domingo, 12 de janeiro de 2003

Urgente e Ausente



Hoje estou com muita saudade.



Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Saudade, Clarice Lispector




Sempre estou com saudade.

Porque nunca tenho nem a presença.



Te amo ainda.

Acho.

Lula e Clarice

Foi uma brincadeira dizer que Lula lê Clarice.

Mas Clarice não é brincadeira.

Em setembro de 1967 ela escreveu, no Jornal do Brasil:



Daqui a Vinte e Cinco Anos

Perguntaram-me uma vez se eu saberia calcular o Brasil daqui a vinte e cinco anos. Nem daqui a vinte e cinco minutos, quanto mais vinte e cinco anos. Mas a impressão-desejo é a de que num futuro não muito remoto talvez compreendamos que os movimentos caóticos atuais já eram os primeiros passos afinando-se e orquestrando-se para uma situação econômica mais digina de um homem, de uma mulher, de uma criança. E isso porque o povo já tem dado mostras de maior maturidade política do que a grande maioria dos políticos, e é quem um dia terminará liderando os líderes. Daqui a vinte e cinco anos o povo terá falado muito mais.

Mas se não sei prever posso pelo menos desejar. Posso intensamente desejar que o problema mais urgente se resolva: o da fome. Muitíssimo mais depressa, porém, do que em vinte e cinco anos, porque não há mais tempo de esperar: milhares de homens, mulheres e crianças são verdadeiros moribundos ambulantes que tecnicamente deviam estar internados em hospitais para subnutridos. Tal é a miséria que se justificaria ser decretado estado de prontidão, como diante de calamidade pública. Só que é pior: a fome é a nossa endemia, já está fazendo parte orgânica do corpo e da alma. E, na maioria das vezes, quando se descrevem as características físicas, morais e mentais de um brasileiro, não se nota que na verdade se estão descrevendo os sintomas físicos, morais e mentais da fome. Os líderes que tiverem como meta a solução econômica do problema da comida serão tão abençoados por nós como, em comparação, o mundo abençoará os que descobrirem a cura do câncer.




Essa é Clarice.

E espero que Lula também não seja brincadeira.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2003

Tantas Palavras... Certas Palavras...



Primeiro: A Despedida

Foi difícil deixar Sofia, e a minha irma.

Como amo minha irma!!

E como amo Sofia!

Em março elas vao pro Brasil.

Meus milagres.

Obrigada, Deus.



Segundo: A Fernandona

Encontrei com a diva da minha arte: Fernanda Montenegro.

Claro que o meu coraçao disparou e eu parecia uma adolescente daquelas que a gente acha exageradamente bobas quando estao diante do ídolo. Eu a vi no lobby do Alvear, um hotel maravilhoso aqui de Bs As. Claro que na primeira vez eu a perdi. Fiquei tao nervosa que a perdi. Fui ali dizer pro meu pai "olha quem está aqui", daquele jeito afobado, sem norte, meio ridículo... e ela se foi, para o elevador fatal. Sumiu. Quase chorei, juro. Me senti a mais idiota dos idiotas. Como perdi aquele momento? Como, meu Deus? Bom, saímos do hotel e eu fiquei desolada o resto do dia. Nao vou nem comentar o fato de minha mae ter saído do banheiro - sem ter visto nada - e nao ter dado a menor importância à minha frustraçao com o que tinha passado: "Grande coisa!", ela disse. Minha mae é super companheira pra essas coisas, como se vê. Bom, como dizia, passei o dia inconformada. No final da tarde eu implorei para irmos "tomar um café" no lobby do hotel, porque eu merecia uma segunda chance. A vida tinha que me dar uma segunda chance. E ia, eu sabia. Entao fomos. Agora veja só se nao foi a segunda chance que a vida me deu. Estávamos havia cinco minutos sentados no bar do hotel e eis que aquela mulher me entra pela porta colossal do Alvear... e ela também gigante - como é. Entrou e, sem olhar para os lados, foi caminhando para o elevador, de novo, o meu inimigo. Mas nao, desta vez nao. Sei agarrar as segundas chances. Confesso que o meu pai deu uma ajudinha e se levantou comigo. Pegamos a atriz-mito quando a porta do elevador a engolia. E, num instante: tudo! Meu pai se apresentou, ficou falando um monte de coisa... Mas, olha, a verdade é que eu tremia tanto que nem ouvi muito o que ela respondeu e queria acabar logo com aquilo - eu tenho sempre essa terrível sensaçao de estar incomodando muito quem nao quer ser incomodado. Mas já estava lá, e eu estava muito feliz, isto sim. Pedi pra tirarmos uma foto e ela concordou, simpática, e sóbria, e rápida. Os óculos de sempre. O brilho ímpar. Única. Era ela. A foto ainda nao vi. Mas a lembrança viva está em mim. Talvez seja mesmo uma bobagem - como está lá minha mae para lembrar - mas e se nao é de "bobagens" que é feita a vida e os prazeres, de quê, entao? Ora, ainda bem que fico feliz com pouco (foi pouco?)! Tem custado tanto ter felicidades em mim!... E tive esta. Obrigada, Deus. Eu gostaria muito que Fernanda fosse da minha família.

Ainda bem que Dani e Sofia sao.



Terceiro: A Volta

Amanha vou pro Brasil.

E a luta continua, companheiros.

Tenho algumas expectativas. Mas tenho, principalmente, esperança.

Nao estou falando do governo, nao.

Estou falando de amor.

E por falar nisso, acho que Lula lê Clarice.

Depois conto por quê. Está em A Descoberta do Mundo.

Aliás está lá também uma carta de Fernanda Montenegro para ela, linda.

Depois.

Amanha...

Deus?



Quarto: O oito de janeiro

Um dia especial.

Mas irreparavelmente incompleto.

Talvez bastasse um sorriso...

Talvez nao. Nao sei bem o que ainda sinto.

Acho que só saudade. Tomara.

Mas um sorriso seria bom, de qualquer forma.



Um ser chamado Regina

(Clarice Lispector)

Regina tem 82 anos de idade, e mora sozinha no seu minúsculo apartamento. Ninguém a chama de Dona Regina, nem crianças, nem adultos, nem velhos: é Regina mesmo. Vai diariamente à beira da praia, e num banco se senta para tomar sol e ar livre. Apesar de ser um passarinho, tem dias que acorda de mau humor. Um dia desses estava sentada no banco e Alfredo, um menino amigo dela, convidou-a: "Regina, vamos brincar?" nao respondeu. O menino repetiu o convite. Entao ela, com a voz débil de quem ainda nao falou com ninguém naquele dia, resmungou qualquer coisa bem baixinho. Alfredo virou-se para a mae, que estava perto, e disse, desolado: "Mamae, Regina hoje está com as pilhas fracas!"

De vez em quando Regina escreve numa folha de papel alguma coisa, sem intuito de divulgaçao ou laivos de publicaçao. Mantém um diário.

Certa manha uma vizinha do mesmo edifício passeava pela calçada da praia, empurrando o seu carrinho de bebê. O olhar da moça se cruzou um instante com o de Regina, e a moça lhe sorriu. Regina lhe deu de volta um levíssmo sorriso.

Quando a moça voltou para casa, encontrou, passada pela soleira da porta de seu apartamento, uma folha de papel.

Era um bilhete. Que assim dizia: "Obrigada pelo sorriso. Regina."




Quinto:

Esqueci.









segunda-feira, 6 de janeiro de 2003

O bebê mais lindo do mundo

Eu estou numa fazenda em San Jorge, - Santa Fe, Argentina -, onde mora minha irma favorita, a Dani.

Conheci a minha sobrinha Sofia, que nasceu há dois meses.

Sofia é a coisa mais linda que eu já vi na vida.

E nao, nao é modo de dizer. Ela é REALMENTE o nenê mais lindo que existe.

Ela nao chora. Só ri, sorri, olha, abraça, conversa, mama e dorme.

E hoje deu a primeira gargalhada. Nao dá pra descrever.

Eu estou feliz aqui com ela.

A vida é um milagre.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2003

O Novo

O novo ano.

O novo presidente.

Hoje tenho que falar dele.

Nao sei se foi ele ou a minha sensibilidade à flor da pele no primeiro dia de um novo ano - talvez as duas coisas -, mas chorei bastante durante a transmissao da posse. Que coisa... Aquele homem nao é demagogia. Ele REALMENTE nasceu onde nasceu, viveu como viveu, conquistou o que conquistou nesses anos todos, e é presidente do Brasil. Como é que nao se chora quando esse homem diz que ele está lá pra provar que "é possível fazer mais"? Como é que eu posso ficar reclamando da minha vida, meu Deus? E como é que nao se chora quando esse homem se vira pro lado no final do discurso, pega na mao da esposa, e diz que quer fazer uma homenagem a ela, porque é ela que sempre está - e sempre esteve - ao lado dele em todos os momentos, principalmente os difíceis. Porque - e ele disse muito bem dito - quando alguém perde, - e ele perdeu durante anos e anos-, quase nunca tem um amigo que telefona pra dizer "companheiro, a luta continua", entao muitas vezes apenas eles dois, ali, sozinhos, disseram um ao outro "a luta continua". Como é que nao se chora?

Eu choro mesmo.

E ainda mais porque eu nao tenho com quem dividir esse momento histórico e nem vou ter alguém que vai se lembrar desse dia comigo... Porque quem eu tinha pra lembrar de tantas coisas vividas junto nao ta mais do meu lado, nao me dá a mao no fim do discurso, nem me telefona pra dizer "a luta continua"...

Entao eu choro.

Mas depois passa. Sempre passa.

Tenho o consolo de ter votado nele. E de acreditar que este país vai melhorar - pra quem precisa.

E que a esperança SEMPRE vença o medo.

O medo...



Ouviu?