quinta-feira, 9 de janeiro de 2003

Tantas Palavras... Certas Palavras...



Primeiro: A Despedida

Foi difícil deixar Sofia, e a minha irma.

Como amo minha irma!!

E como amo Sofia!

Em março elas vao pro Brasil.

Meus milagres.

Obrigada, Deus.



Segundo: A Fernandona

Encontrei com a diva da minha arte: Fernanda Montenegro.

Claro que o meu coraçao disparou e eu parecia uma adolescente daquelas que a gente acha exageradamente bobas quando estao diante do ídolo. Eu a vi no lobby do Alvear, um hotel maravilhoso aqui de Bs As. Claro que na primeira vez eu a perdi. Fiquei tao nervosa que a perdi. Fui ali dizer pro meu pai "olha quem está aqui", daquele jeito afobado, sem norte, meio ridículo... e ela se foi, para o elevador fatal. Sumiu. Quase chorei, juro. Me senti a mais idiota dos idiotas. Como perdi aquele momento? Como, meu Deus? Bom, saímos do hotel e eu fiquei desolada o resto do dia. Nao vou nem comentar o fato de minha mae ter saído do banheiro - sem ter visto nada - e nao ter dado a menor importância à minha frustraçao com o que tinha passado: "Grande coisa!", ela disse. Minha mae é super companheira pra essas coisas, como se vê. Bom, como dizia, passei o dia inconformada. No final da tarde eu implorei para irmos "tomar um café" no lobby do hotel, porque eu merecia uma segunda chance. A vida tinha que me dar uma segunda chance. E ia, eu sabia. Entao fomos. Agora veja só se nao foi a segunda chance que a vida me deu. Estávamos havia cinco minutos sentados no bar do hotel e eis que aquela mulher me entra pela porta colossal do Alvear... e ela também gigante - como é. Entrou e, sem olhar para os lados, foi caminhando para o elevador, de novo, o meu inimigo. Mas nao, desta vez nao. Sei agarrar as segundas chances. Confesso que o meu pai deu uma ajudinha e se levantou comigo. Pegamos a atriz-mito quando a porta do elevador a engolia. E, num instante: tudo! Meu pai se apresentou, ficou falando um monte de coisa... Mas, olha, a verdade é que eu tremia tanto que nem ouvi muito o que ela respondeu e queria acabar logo com aquilo - eu tenho sempre essa terrível sensaçao de estar incomodando muito quem nao quer ser incomodado. Mas já estava lá, e eu estava muito feliz, isto sim. Pedi pra tirarmos uma foto e ela concordou, simpática, e sóbria, e rápida. Os óculos de sempre. O brilho ímpar. Única. Era ela. A foto ainda nao vi. Mas a lembrança viva está em mim. Talvez seja mesmo uma bobagem - como está lá minha mae para lembrar - mas e se nao é de "bobagens" que é feita a vida e os prazeres, de quê, entao? Ora, ainda bem que fico feliz com pouco (foi pouco?)! Tem custado tanto ter felicidades em mim!... E tive esta. Obrigada, Deus. Eu gostaria muito que Fernanda fosse da minha família.

Ainda bem que Dani e Sofia sao.



Terceiro: A Volta

Amanha vou pro Brasil.

E a luta continua, companheiros.

Tenho algumas expectativas. Mas tenho, principalmente, esperança.

Nao estou falando do governo, nao.

Estou falando de amor.

E por falar nisso, acho que Lula lê Clarice.

Depois conto por quê. Está em A Descoberta do Mundo.

Aliás está lá também uma carta de Fernanda Montenegro para ela, linda.

Depois.

Amanha...

Deus?



Quarto: O oito de janeiro

Um dia especial.

Mas irreparavelmente incompleto.

Talvez bastasse um sorriso...

Talvez nao. Nao sei bem o que ainda sinto.

Acho que só saudade. Tomara.

Mas um sorriso seria bom, de qualquer forma.



Um ser chamado Regina

(Clarice Lispector)

Regina tem 82 anos de idade, e mora sozinha no seu minúsculo apartamento. Ninguém a chama de Dona Regina, nem crianças, nem adultos, nem velhos: é Regina mesmo. Vai diariamente à beira da praia, e num banco se senta para tomar sol e ar livre. Apesar de ser um passarinho, tem dias que acorda de mau humor. Um dia desses estava sentada no banco e Alfredo, um menino amigo dela, convidou-a: "Regina, vamos brincar?" nao respondeu. O menino repetiu o convite. Entao ela, com a voz débil de quem ainda nao falou com ninguém naquele dia, resmungou qualquer coisa bem baixinho. Alfredo virou-se para a mae, que estava perto, e disse, desolado: "Mamae, Regina hoje está com as pilhas fracas!"

De vez em quando Regina escreve numa folha de papel alguma coisa, sem intuito de divulgaçao ou laivos de publicaçao. Mantém um diário.

Certa manha uma vizinha do mesmo edifício passeava pela calçada da praia, empurrando o seu carrinho de bebê. O olhar da moça se cruzou um instante com o de Regina, e a moça lhe sorriu. Regina lhe deu de volta um levíssmo sorriso.

Quando a moça voltou para casa, encontrou, passada pela soleira da porta de seu apartamento, uma folha de papel.

Era um bilhete. Que assim dizia: "Obrigada pelo sorriso. Regina."




Quinto:

Esqueci.









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