quarta-feira, 30 de março de 2005

Jean, Grazi e o fim do meu reality show

Assistir ao Big Brother tinha se tornado pra mim um motivo de alegria, de expectativa, de emoção. Era como torcer pelo Brasil na Copa do Mundo ou nas Olimpíadas. Como estar conectada com dez milhões de pessoas que pensavam como eu, que acreditavam nos mesmos valores, na importância dos mesmos mínimos e delicados detalhes que tornam alguns mais brilhantes do que os outros. Era uma alegria, uma diversão, um assunto gostoso no dia seguinte. Mas era, principalmente, o sabor de compartilhar mais um desses pequenos prazeres da vida com a pessoa que eu amo. De repente, não tão de repente assim, mas de repente, tudo perdeu quase toda a graça. Diria Vinicius que "do riso fez-se o pranto... E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento... E da paixão fez-se o pressentimento... Fez-se de triste o que se fez amante... E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante. Fez-se da vida uma aventura errante."

Não ter ao meu lado quem sempre esteve, transformou a pequena alegria em enorme tristeza. Ausência, angústia, falta e dor. Também por não saber se poderia ser de outro jeito. Porque, desse jeito, já não há o que fazer. Mas nem por isso é menos dolorido.

Alan e Grazi declararam um amor que eu acompanhava e comparava com o meu. Como todos os amores que comparamos aos nossos. De repente, em um dia tão especial para declarar amores, o momento existia mas eu não o tinha mais. O que era tão bonito e forte, ficou mudo. Senti quase inveja de um amor que começa, com toda a euforia de um amor que começa. Com todos os planos e todo o sorriso de um amor que começa.

E o amor que termina não tem mais nada disso. Talvez tenha na memória. Mas, um dia, nem a memória sobrevive. Nem as palavras. A vida se repete de novo. É pleonasmo mas é verdade. Quando será que isso acaba? E onde? Talvez nunca. Mas a gente nem sabe. Estamos aqui como pode ser que já tenhamos estado tantas outras vezes. E a gente nem sabe.

O que nos resta é, mesmo, a ressurreição. Porque se for tudo só sofrimento não tem sentido. Não faz o menor sentido.

Jean ganhou um milhão de reais. Mas quem realmente acha que é isso o que importa, precisa ter umas aulas com ele. "Gente é pra brilhar. Gente é muito bom. Tem de se cuidar, de se respeitar o bom. Está certo dizer que estrelas estão no olhar de alguém que o amor te elegeu pra amar. Gente tem que ser feliz. Gente quer respirar ar pelo nariz. Não, meu nego, não traia nunca essa força, não. Essa força que mora em seu coração. Se as estrelas são tantas, só mesmo o amor."

Uma etapa que se encerra em tantas casas. Gente que eu nem conheço. Só sei de mim. Mas mesmo sem saber, sei que somos tantos. De repente, não mais que de repente. Mas é um querer que já nem sabemos bem como é. E, por isso, não vamos mentir. Nem tentar. O que a gente já não sabe mais se quer. Mesmo querendo tanto.

Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde
Nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou
E me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando me encontrar.