sábado, 29 de dezembro de 2007

Simples

E como se a gente, simplesmente, já não pensasse o suficiente sobre tudo, o pensamento quer se expor. Só que tudo já foi dito, então vira uma coisa que não serve mais pra nada. A não ser para aliviar a cabeça do pensante. E alguém escreve, e alguém lê, ou não, e não importa. É que é preciso tirar isso de dentro de cabeça. Já dizia Raquel, a de Queiroz, eu nem gosto de escrever, mas preciso tirar essa coisa da minha cabeça. Fica doendo, querendo sair.

Desta vez eu acho que não vou saber dizer o que é. Mas tem tamanho e forma porque eu sinto alojado no cérebro. Quer sair, mas eu não sei. É mais de uma coisa. Eu as sei, mas... Vou ficar aqui falando falando e não vou conseguir dizer nada. Tempo perdido. Puro.

São umas coisas misturadas que não querem ficar lá dentro. Nem eu quero que fiquem, me atazanando. Mas faz o quê? Tem um pouco de querer saber se naquele dia foi legal, se eu estive lá passeando no dia seguinte, se vai tocar de novo aquele tango. Tem um pouco do que aquele cara contou, da pergunta, da resposta estranha, da dúvida. Tem um pouco também daquela novidade na foto que passamos na tv. Um rosto sem história. E tem ainda dessa lembrança, dessa criança, que eu nem sabia que tinha idade pra lembrar de ninguém. Mas, tia... se você disser que EU estou aqui, pode ajudar, cê não acha? Ah, e tem essa sensação do tempo, que passa e fim.

(Continua...)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

o salto
(antonio prata)

A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.

Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas -- mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.

Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?

Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte -- quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Carta para o Papai-Noel
ou Um bilhete colocado em silêncio por baixo da porta do quarto azul

Neste natal, o primeiro sem presente, eu quero lhe contar o que há em mim de contente.
Eu sou criança, por isso ainda acredito em você.
Não, não é isso. Isso foi só um adendo.
Como eu ia dizendo, bem...
Também pode ser que você já saiba.
Pode ser até que não caiba, mas vou lhe dizer mesmo assim.

Eu não fui uma menina ruim. Fui legal durante o ano. Me comportei.
Fui melhor do que antes. E aí é que estão as coisas importantes: eu mudei.
Você sabe, eu já vinha mudando. Mas quero lhe contar que funcionou, que agora tô aproveitando.
E você me ajudou. Assim... porque se a gente não é bom, o Papai-Noel não vem.
E eu sempre quis que você viesse. Mesmo de fininho, do jeito que acontece...

Hoje eu tô vendo certinho, como o seu caminho me guiou.
Seu carinho me ensinou a ser mais branda.
Aprendi que não importa quem comanda, contanto que seja em paz.
Ninguém precisa mandar demais. No final o objetivo é o mesmo, e a gente já sabia:
felicidade todo dia e no ano que vai chegar.
Ai, chega de devagar.
Mas devagar a gente chega e era isso que eu queria contar.

É um pouco triste quando a gente desiste. De acreditar.
Quando a gente se dá conta de que o conto de fada, com a bela amada, termina, assim, sem segunda chance.
Prepara a gente pra um outro romance, mesmo se a gente quisesse que fosse natal todo dia.
Mesmo se a gente quisesse aquela alegria, aquela, que só o Noel traz.
E quando a gente descobre, a fumaça cobre a chaminé. E vem a fase do tantofaz.
Você não acha que é crueldade, que é coisa das bruxas más,
a gente, nessa idade, ser deixada pra trás?? Ter de seguir sozinha, sem colo, sem naninha?
Você não acha, Papai-Noel? Que a nossa vidinha gostosa devia estar sempre lá?

Tá bom, não precisa explicar. Eu já compreendi.
E não quero falar de coisa triste, não tem nada triste aqui.
Comecei contente, lembra? E nem é um jogo, não. É de coração.
Não sei se fiz bem essa emenda, mas, se fosse uma canção...
seria um dia, então.
25 de dezembro, não.
1º de julho.

Bom, eu queria dizer que já joguei fora o entulho, pra você poder entrar.
Mesmo sabendo que esse ano cê não vem. E que talvez nem venha mais, pra variar.
É que eu já sei tudo sobre você e você já sabe tudo de mim,
e parece que a vida é assim: a gente se desinteressa.
Pelo menos não tenho mais pressa. E essa eu devo a você. À sua paciência.
Nem sei se a essência é o natal, o amor, o invisível.
Mas o que me sobra é real: seu efeito em mim foi in-crível.
(Embora eu creia, ainda, em você.)

Tenho vivido a história ao contrário. Quero contar isso pra terminar.
Tenho estado em seu lugar, não é hilário? Quem poderia imaginar?
Não vou tentar descrever situações, pormenorizando os detalhes.
Mas sei que você sabe, aos milhares, o que eu devo estar tentando dizer.
Ficamos assim, por nos entender, inteindeindo.

Caio da chaminé todo dia quase, está doendo pensar que você já caiu tanto.
Mas volto, sem pranto, ao contente. Porque é caindo que se aprende.
(Se arrepende. Se reacende. Se rende. Se vende. Se ofende. Se defende. Depende.)

Estou feliz, embora sem presente.
Com cada cicatriz, com cada semente.

Obrigada, Papai-Noel. Eu só queria lhe contar.
O importante é tocar. Em frente.

(ah, a música... poderia não ser um dia, mas um estado: este! Tocando em frente.)

sábado, 22 de dezembro de 2007

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Natal

por que será
que quando a gente relê
o que um dia foi
parece que volta a ser
sem ser
e parece que dói de novo
sem doer?

e parece que dói de novo
até morrer?

e parece que dói de novo
e dói de novo
e dói.

por que será que a gente relê?
pra que serve reler?

é natal?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

mais micros
CHICLETE BOTÃO FORMADEGELO ALGODÃO
PORCO MEL JEANS PEDRA CHUVA NARIZ PORTA
DESOBEDIENTE

- Alô, doutora Simone?
Ai, sabe, a coroa caiu...

BOTÕES
- Fecha a camisa, engole essa rosa,
chama logo esse elevador e se manda!

FÔRMINHAS
- Quem pegou os peixinhos congelados?
- As crianças colocaram no suco.

SUAVIDADE NO BORDEL
- E aí, essas putas dão tudo?
- Tudo não, mas algo dão.

DESTINO
Ele nasceu rosa, cresceu, engordô.
O pai pegô o facão e... oinc!

ENCANTADORA DE ABELHAS
Tentei imitar Edgie Threadgoode.
Morri melada com 412 picadas.

A PRIMEIRA VEZ
Ainda se usava ser virgem
quando ela tirou a calça Lee.

PEDRA
Chutei e fui.

FALTA DE FÉ
Foram à missa rezar para chover,
mas não levaram o guarda-chuva.

PÂNICO
Taxa de natalidade dispara no Líbano.
Falta ar.

FUGA FRUSTRADA
Quando a morte bateu em minha porta,
fugi pela janela. Eu morava no 18º.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

É que a viagem certa não existe mais.
Daí tanto faz.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Quase de volta.
Quase.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Mais

Meias
Prefiro um amor para esquentar meus pés.
Cócegas
Depois dos treze, têm outro nome.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Sempre pra você
Saudade
Não vejo a hora
de rever o meu amor
e acertar os ponteiros.
Parede
Parada.
Parede Amarela
O rato morreu soterrado
depois de roer o engano.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Os Meus Contos Curtos

Café
Quando ela foi,
ele veio.
Cimento Fresco
Pisei sem querer.
Machucou pra sempre.
Gata
A mulher que eu amo é quase um bichano.
Mas quem lambe ela sou eu.
Divórcio Vampiresco
Só porque ele mordeu o pescoço da vizinha.
Ditadura

Ficamos
Assim:
Dezoito
Está
Lindo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

DEZOITO DE OUTUBRO DE DOIS MIL E SETE

domingo, 30 de setembro de 2007

desejo

um dia alguém me cantou isto.
e conseguiu o que queria.
agora eu canto pra você.
e espero conseguir...

ah! como eu queria
te dizer alguma coisa
que te afastasse do peito
toda essa angustia, esse medo
te devolvesse a alegria
te resolvesse os delirios

ah! como eu queria
te alucinar por completo
de tanto amor, tanto afeto
te recobrar a esperança
e te levar lá pra casa
pra eu cuidar de você

ah! como eu queria
te despertar já que o dia
nos deu o sol de presente
e a gente pode sonhar

ah! como eu queria
me esparramar no teu colo
te receber como a areia
recebe as ondas do mar

ah! como eu queria!
ah, como eu queria

Fabio Jr.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Um dia
Caminhávamos, juntos e separados, entre os desvios bruscos da floresta. (...)
Que casas, que deveres, que amores havíamos largado - nós mesmos o não saberíamos dizer. Não éramos, nesse momento, mais que caminhantes entre o que esquecêramos e o que não sabíamos, cavaleiros a pé do ideal abandonado. Mas nisso, como no som constante das folhas pisadas, e no som sempre brusco do veneno incerto, estava a razão de ser da nossa ida, ou da nossa vinda, pois, não sabendo o caminho ou porque o caminho, não sabíamos se partíamos se chegávamos. E sempre, em torno nosso, sem lugar sabido ou queda vista,
o som das folhas que escombravam adormecia de tristeza a floresta.
Nenhum de nós queria saber do outro, porém nenhum de nós sem ele prosseguiria. A companhia que nos fazíamos era uma espécie de sono que cada um de nós tinha. O som dos passos uníssonos ajudava cada um a pensar sem o outro, e os próprios passos solitários tê-lo-iam despertado. A floresta era toda clareiras falsas, como se fosse falsa, ou estivesse acabando, mas nem acabava a falsidade, nem acabava a floresta. Nossos passos uníssonos seguiam constantes, e em torno do que ouvíamos das folhas pisadas ia um som vago de folhas caindo, na floresta tornada tudo, na floresta igual ao universo.
Quem éramos?
Seríamos dois ou duas formas de um? Não o sabíamos nem o perguntávamos. Um sol vago devia existir, pois na floresta não era noite. Um fim vago devia existir, pois caminhávamos. Um mundo qualquer devia existir, pois existia uma floresta. Nós, porém, éramos alheios ao que fosse ou pudesse ser, caminheiros uníssonos e intermináveis sobre folhas mortas, ouvidores anônimos e impossíveis de folhas caindo. Nada mais. Um sussuro, ora brusco ora suave, do vento incógnito, um murmúrio, ora alto ora baixo, das folhas presas, um resquício, uma dúvida, um propósito que findara, uma ilusão que nem fora - a floresta, e dois caminheiros, e eu, eu, que não sei qual deles era, ou se era ou dois, ou nenhum, e assisti, sem ver o fim, à tragédia de não haver nunca mais do que o outono e a floresta, e o vento sempre brusco e incerto, e as folhas sempre caídas ou caindo. E sempre, como se por certo houvesse fora um sol e um dia, via-se claramente, para fim nenhum, no silêncio rumoroso da floresta.
do Desassossego, Fernando Pessoa

terça-feira, 11 de setembro de 2007


DIVA
Dante Ozzetti

Cada palavra que eu não digo
Digo
Digo-lhe tudo pra se parecer comigo
Cada palavra que eu não deva
Digo
Devo-lhe tudo pra me parecer contigo

sábado, 8 de setembro de 2007

Before Sunset

I feel I was never able to forget anyone I've been with.
Because each person have, you know, specific qualities.
You can never replace anyone. What is lost is lost.
Each relationship, when it ends, really damages me. I haven't fully recovered.
(...) I will miss of the person the most mundane things.
Like I'm obsessed with little things. Maybe I'm crazy, but...
When I was a little girl, my mom told me that I was always late to school.
One day she followed me to see why.
I was looking at chestnuts falling from the trees, rolling on the sidewalk...
or ants crossing the road... the way a leaf casts a shadow on a tree trunk...
Little things. I think it's the same with people.
I see in them little details, so specific to each other, that move me,
and that I miss, and... will always miss.
You can never replace anyone, because everyone is made of such beautiful specific details.

Celine, em Antes do Pôr-do-sol
que eu vi hoje depois de Antes do Amanhecer
e antes de Premonições, Como Água Para Chocolate e Indochina

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

independência ou morte

hoje faltei
não tem presente
o passado é um grito
o futuro
mente

(entre mortos e muito feridos
do dia da independência: eu.)

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

tribunal

às vezes escrevo só por escrever
não quero dizer nada
nem falo de mim
enfim

e um cachorro fofo
é só um cachorro fofo

parada

caminha
a linha
fina
mina
a dor
o amor

chora
a hora
funda
inunda
a dor
o amor

cede
e pede
colo
esfolo
a dor
o amor

corre
e morre
fraca
aplaca
a dor
o amor

a dor
o amor

não sei mais escrever outra coisa.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

ruínhá

não há trégua, não há.
não há cachoeira.
não há resgate.
não há, simplesmente, ar.
não há segunda chance.
não há o romance ideal.
não há, eu sei, não há.
não há mentira que sustente.
não há memória.
não há presente.
não há perdão, perdão.
não há esperança.
não há.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

o rato
(caio fernando abreu)

Assim: do lado direito, um casal de velhos; do lado esquerdo, uma mulher com duas crianças atrás, dois rapazes de ar indefinido à frente, a toalha vermelha da mesa ampliando-se em perspectiva até a janela aberta para a noite. O ar ressecado estrangula os movimentos, depositado como poeira sobre as faces desfeitas de feições, expressões escorrendo em suor ao calor inesperado sobrevindo depois da chuva. Um rato caminha sobre uma das vigas de sustentação. Ele olha o rato, e o rato não o vê. Olha o rato, mas as outras pessoas não sabem que seu olhar olha o rato. Sozinho naquele bar, naquela rua, em todos os bares em todas as ruas do mundo, no mundo inteiro - sozinho: ele e o rato, natureza cinza equilibrada sobre quatro patas.

-Você prefere lasanha ou ravióli?

-O meu dia só existe porque você existe dentro dele.

-Garçom, por favor .

-Vou-me embora, não suporto mais este bar, este calor, esta mesa. Não suporto mais você.

-Eu quero batatinha frita.

-Hoje existir me dói feito uma bofetada.

-Sem cebola, por favor.

Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás. Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu. Não vê, mas pode sentir o toque áspero da pele recoberta de pêlos em suas mãos que seguram o garfo e a faca, e o toque é quase uma carícia - uma nauseante carícia de bicho à procura de qualquer coisa. (...)

-Não posso comer massa, meu bem, engordo horrores.

-Porque se você não vem é como se o tempo fosse passado em branco, como se as coisas não chegassem a se cumprir porque você não soube delas.

-Infelizmente o camarão acabou.

-Estou completamente cheio.

-Bem molezinha, com bastante sal.

-Mas este prato está sujo, que absurdo!!!


-Tudo dói, e eu já nem sei mais para onde ir nem o que fazer, se ao menos você me amasse um pouco, não estaria aqui e agora. neste bar. sozinho. longe de você e de mim.

O rato, agora, em passos hesitantes, a cauda enroscando-se em madeiras. Esfarela devagar um pedaço de pão, o miolo escorre por entre os dedos, feito água, feito vento, feito todas as coisas que passam e não marcam em nada, em nenhum recanto do corpo físico além de memória. (...) O sexo: ponto de chama entre as pernas. Estende a mão, mas o rato foge num movimento brusco.

-Prefiro carne, ao menos não engorda tanto.

-E se você vem, fica tudo maior, mais amplo, sei lá mas é como se eu existisse dum jeito mais completo, entende?

-Temos peixe. Filé de peixe, serve?

-De repente parece que todo mundo vai começar a morder a gente.

-Feijão não, eu odeio feijão.

-Uma merda, tudo. Uma grande merda.

Súbito escorrega para uma região desconhecida, onde tudo se dilui em sombra, em silêncio. Na sombra e no silêncio, o rato desliza manso, subindo a parede até alcançar novamente a viga que o sustenta. A mulher o encarou ofendida: se você gosta de homem, o problema é seu, meu filho, não tenho nada com isso. Insistiu. O guarda o soltou e ele saiu caminhando de cabeça baixa, depois de ter jogado o cartaz na sarjeta: "O povo passa fome". Jamais olhava para trás, jamais: o que estava feito, estava feito, estava consumado, estava para sempre imutável, inamoldável, fechado em si mesmo, estanque: o tempo. (...) Eu pago, disse. Mas o rato voltou, sem que ninguém o veja.

-Tudo bem, um bife, mas bem pequenininho, bem passado e sem molho, hein?

-Ninguém toma de ninguém esse tipo de coisa, ninguém.

-Temos sopas, também. Madame é quem sabe.

-Me deixa ir embora. Eu não quero mais te ver. Nunca mais.

-Arroz? Mas eu só queria batatinha.

-E a faca? Será que é preciso comer com as mãos?

-Se ao menos dessa revolta, dessa angústia, saísse alguma coisa que prestasse.

Qualquer coisa: eu teria ao menos algo em que me segurar, qualquer coisa. O extremo da revolta seria a coisa feita, pronta para que segurassem nela. Eram vermelhos? Ou seriam azuis? Nunca vira os olhos de um rato bem de perto. Só a cauda, estendendo-se de elo em elo, até o final pontudo, como uma serpente. Não suportaria encarar um animal, qualquer que fosse. (...) A cama vibrava. A noite vibrava. O mundo vibrava. (...) A mão machucada de sustentar o grito do cartaz, os pés sob a revolta, os ombros doídos embaixo da contestação. Foi de repente que começou a correr para longe daquilo, esmagado pela exigência, pelo espanto de estar pedindo alguma coisa que nem para si era. Pedir exigia uma participação íntima que ele não tinha, e seus gritos ressoariam falsos por todas as esquinas, seus ombros curvariam ao peso acumulado, a cabeça baixa, rabo entre as pernas. O susto do rato com a bolinha de pão jogada sobre a cabeça.

-Imagine, ele falou que tinha achado o chapéu detestável.

-Só eu sei que cheguei à humildade máxima que um ser humano pode atingir: confessar a outro ser humano que precisa dele para existir.

-Quem sabe uma feijoada?

-Daqui a pouco vai começar a chover de novo.


-Tá bem, mas só se vier um sorvete depois.

-Quer fazer o favor de me alcançar o copo?

-Mas não sai nada. Nada. Nem uma lágrima.

Aproxima-se. Os olhos agrandaram na procura consumada em encontro, as patas avançaram para o objeto - o cinzento arrastando-se sobre o amarelo dos tapetes.

-Inveja, pura inveja, conheço demais essa gente.

-E no momento em que se confessa a precisão, perde-se tudo, eu sei.

-Não? Quem sabe então um... um... um...

-Não adianta insistir. Agora eu vou.

-De creme, não. Quero de morango.

-E essa coca-cola que não vem?

-Sei lá, vou dormir que é melhor.


Agrandava-se. Senhora dona Cândida, coberta de ouro e prata, descubra o seu rosto, quero ver a sua graça. Descobria-se. Afastava o ouro, a prata, as mãos que escondiam o rosto e dentro, o que havia? Contém-se e começa a contar-se baixinho: Era uma vez: assim: do lado direito, um casal de velhos; do lado esquerdo, uma mulher com duas crianças; atrás, dois rapazes de ar indefinido; à frente, a toalha vermelha da mesa ampliando-se em perspectiva até a janela aberta para a noite". E o rato. Quis gritar, mas era tão tarde, era muito tarde, era sempre tarde. Viu o garçom arrumando os pratos sobre a mesa, a fumaça elevando-se da comida quente. Mas a vidraça ainda não refletia a cor exata dos olhos. Baixou a cabeça para o prato, apoiado nas quatro patas cinzentas, o focinho fino, as pessoas esfarelando pães e jogando-lhe pedaços, espantou-se da delicadeza de suas próprias garras, da leveza de seu próprio corpo, agora apertam sua cauda entre os pés, e ele foge, tenta fugir, mas alguém sopra em seus ouvidos algo parecido com uma canção de ninar. Ou uma canção de guerra, de ódio, de nojo, de sangue, uma cantiga de roda, ou simplesmente um grito estridente, agudo, trêmulo, incompreensível. Um grito humano.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

virou história

hoje me tocou
no rádio
uma saudade

já passou

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Água Viva
Clarice

Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.

Sei o que estou fazendo aqui: conto os instantes que pingam e são grossos de sangue.

Equilíbrio perigoso, o meu, perigo de morte de alma.

Nós - diante do escândalo da morte.

Vou parar um pouco porque sei que o Deus é o mundo. É o que existe.

Não gosto é quando pingam limão nas minhas profundezas
e fazem com que eu me contorça toda.
Os fatos da vida são o limão na ostra?
Será que a ostra dorme?

O que te escrevo não vem de manso, subindo aos poucos até um auge para depois ir morrendo de manso.
Não: o que te escrevo é de fogo como olhos em brasa.

Recebi uma carta de S. Paulo de pessoa que não conheço.
Carta derradeira de suicida. Telefonei para São Paulo.
O telefone não respondia, tocava e tocava e soava como num apartamento em silêncio.
Morreu ou não morreu. Hoje de manhã telefonei de novo: continuava a não responder.
Morreu, sim. Nunca esquecerei.

Agora - silêncio e leve espanto.
de repente não mais

é sempre assim
de repente
ainda que seja
repetido
o de repente
que nem é
de fato
surpresa
nem de novo
o mesmo
de sempre

não se espera
o que não se quer
se desespera
o querer
qualquer
esperado
sempre
porém nunca
desejado
de repente
é

sempre
de repente
finda
o que nem
ainda
havia se tornado
o repetido
esperado
da vida
alegre
de novo

e segue
embora
a gente
negue
a dor
velha
dos mesmos
erros
cachorros
em qualquer
língua

terça-feira, 21 de agosto de 2007

III
Fato: Acordei Do sEu Lado
Finalmente Arriscamos. Desejo, Excesso, Loucura.
Fizemos Amor, Doentes E Lancinantes.
Ficamos, Assim, Divagando Entre Lambidas.
Festejando A Demais Esperada Liberdade.
Farsa? Ah, Deus... Eu Lamento.
Foda? Ah, Deixa Escorrer Logo.
Finda? Ah, Duvido. Embora Longe.
Falece A Dor Enquanto Lançamos
Falas Agudas De Envolvimento Literário.
Falece A Dúvida Enquanto Ligamos
Fendas, Abraços, Dentes E Línguas.
Finalmente Amantes. Devidamente Entrelaçadas. Longes.

domingo, 12 de agosto de 2007

para não apagar

tua boca riscou
meu contorno

réptil
no corpo morno

quente
ardente
ausente

desenhei teus olhos
no grito

animal
do desejo em atrito

indecente
mente
sente

um gosto te encharca
a palavra

forte
na nuca me crava

o dente
inocente
demente

repete a pintura
do traço

canino
teu abraço

carente
doente
presente

sábado, 11 de agosto de 2007

Meca Clandestina

(...) E, devagarinho, tomou-lhe a mão.
As duas palmas um pouco úmidas, um pouco trêmulas, uniram-se.
A campainha, fora, tocou. Luísa desprendeu a mão, bruscamente.
- É alguém - disse agitada.
Vozes baixas falavam à cancela.
Basílio teve um movimento de ombros contrariado; foi buscar o chapéu.
- Vais-te? - exclamou ela toda desconsolada.
- Pudera! Não posso estar só contigo um momento!
A cancela fechou-se com ruído. Não é ninguém, foi-se - disse Luísa.
Estavam de pé, no meio da sala.
- Não te vás! Basílio!
Os seus olhos profundos tinham uma suplicação doce.

Basílio pousou o chapéu sobre o piano; mordia o bigode um pouco nervoso.
- E para que queres tu estar só comigo? - disse ela. - Que tem que venha gente?

E arrependeu-se logo daquelas palavras.
Mas Basílio, com um movimento brusco, passou-lhe o braço sobre os ombros,

prendeu-lhe a cabeça, e beijou-a na testa, nos olhos, nos cabelos, vorazmente.
Ela soltou-se a tremer, escarlate.
- Perdoa-me - exclamou ele logo, com um ímpeto apaixonado. - Perdoa-me.

Foi sem pensar. Mas é porque te adoro, Luísa!
Tomou-lhe as mãos com domínio, quase com direito.
- Não. Hás de ouvir. Desde o primeiro dia que te tornei a ver estou doido por ti,

como dantes, a mesma coisa. Nunca deixei de me morrer por ti. (...)


(...) e ele quis-lhe ensinar então a verdadeira maneira de beber champanhe.
Talvez ela não soubesse!
- Como é? - perguntou Luísa erguendo o copo.
- Não é com o copo! Horror! Ninguém que se preza bebe champanhe por um copo.

O copo é bom para o Colares...
Tomou um gole de champanhe e num beijo passou-o para a boca dela.

Luísa riu muito, achou "divino"; quis beber mais assim.
Ia-se fazendo vermelha, o olhar luzia-lhe.
Tinham tirado os pratos da cama; e sentada à beira do leito,

os seus pezinhos calçados numa meia cor-de-rosa pendiam,
agitavam-se, enquanto um pouco dobrada sobre si, os cotovelos sobre o regaço,
a cabecinha de lado, tinha em toda a sua pessoa a graça lânguida de uma pomba fatigada.
Basílio achava-a irresistível; quem diria que uma burguesinha podia ter tanto chique,

tanta queda? Ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos;
depois, dizendo muito mal das ligas "tão feias, com fechos de metal",
beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então fez-lhe baixinho um pedido.
Ela corou, sorriu, dizia: "não! não!"
E quando saiu do seu delírio tapou o rosto com as mãos, toda escarlate;
murmurou repreensivamente:
- Oh, Basílio!
Ele torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova; tinha-a na mão!
Só às seis horas se desprendeu dos seus braços.
Luísa fez-lhe jurar que havia de pensar nela toda a noite: - Não queria que ele saísse;
tinha ciúme do Grêmio, do ar, de tudo! E já no patamar voltava, beijava-o, louca, repetia:
- E amanhã mais cedo, sim? Para estarmos todo o dia.
- Não vais ver a D. Felicidade?
- Que me importa a D. Felicidade! Não me importa ninguém! Quero-te a ti! Só a ti!
- Ao meio-dia?
- Ao meio-dia!
Quanto lhe pesou à noite a solidão do seu quarto!

Tinha uma impaciência que a impelia a prolongar a excitação da tarde, agitar-se.
Ainda quis ler, mas bem depressa arremessou o livro;
as duas velas acesas sobre o toucador pareciam-lhe lúgubres;
foi ver a noite; estava tépida e serena.
Chamou Juliana (...)

O Primo Basílio, Eça de Queirós
Mentirinha

Olhe aqui, olhos de azeviche
Vamos acertar as contas
porque é no dia de hoje
que cê vai embora daqui...
Mas antes, por obséquio:
Quer me devolver o equilíbrio?
Quer me dizer por que cê sumiu?
Quer me devolver o sono meu doril?
Quer se tocar e botar meu marcapasso pra consertar?
Quer me deixar na minha?
Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha?
Olhe aqui, olhos de azeviche:
Quer parar de torcer pro meu fim
dentro do meu próprio estádio?
Quer parar de saxdoer no meu próprio rádio?
Vem cá, não vai sair assim...
Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho?
Assim: agora fica de joelhos
e comece a cuspir todos os meus beijos.
Isso. Agora recolhe!
Engole a farta coreografia destas línguas
Varre com a língua esses anseios
Não haverá mais filho
pulsações e instintos animais.
Hoje eu me suicido ingerindo
sete caixas de anticoncepcionais.
Trata-se de um despejo
Dedetize essa chateação que a gente chamou de desejo.
Pronto: última revista
Leve também essa bobagem
que você chamou
de amor à primeira vista.
Olhos de azeviche, vem cá:
Apague esse gosto de pescoço da minha boca!
E leve esses presentes que você me deu:
essa cara de pau, essa textura de verniz.
Tire também esse sentimento de penetração
esse modo com que você me quis
esses ensaios de idas e voltas
essa esfregação
esse bob wilson erotizado
que a gente chamou de tesão.
Pronto. Olhos de azeviche, pode partir!
Estou calma. Quero ficar sozinha
eu co'a minha alma. Agora pode ir.
Gente! Cadê minha alma que estava aqui?


Texto para uma separação, Elisa Lucinda

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A Arte de Perder
(from my beloved teacher of poetry)

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

Elizabeth Bishop, One art

terça-feira, 7 de agosto de 2007

cort-a-zar

o punhal ficara morno junto a seu peito,
e debaixo batia a liberdade escondida.

ela, então, meteu-lhe o punhal no estômago,
aquele mesmo estômago que dóia quando se falavam,
e acabou com a tortura, assim, de uma vez,
com um punhal sangrando a alma e a clandestinidade.
cortou-lhe
da vida.

o punhal ficara morno junto a seu peito,
e debaixo batia a liberdade, escondida.
Your never gonna break my Faith
Bobby's soundtrack

domingo, 5 de agosto de 2007

Pequenos Milagres
(...)
Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave,
surda-muda, foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça
(...)
Adelia

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Nãos

Faz frio
Faz calor
Chove
Não chove
Não há vento
Nem sol
Nem céu
Nem noite
Nem manhã
Nem dia

Há nãos e determinações
Escolhas opostas e desinteresse
Há escuridão de manhã
Cansaço no fim da claridade
Há saudade de nada e de tudo

Há nãos e decisões contrárias
Vontades arbitrárias e medos
Há escuridão de manhã
Cansaço no fim da tarde
Há saudade de tudo e de nada

Faz tempo
Faz espaço
Sonhe
Não sonhe
Não há alento
Nem ar
Nem chão
Nem hoje
Nem amanhã
Nem havia

segunda-feira, 30 de julho de 2007

medrosa

eu sou muito medrosa
cínica covarde
sonsa injusta

eu não sei fazer justiça
não sei como faz justiça
eu não tenho coragem de enfrentar nada

tenho que enfrentar a violência e a grosseria
e ir à luta pelo pão de cada dia
sou advogada de defesa e salva-vidas

eu não tenho coragem de enfrentar nada
eu não tenho coragem de enfrentar nada
eu não tenho coragem de enfrentar nada

Entrevista com Stela do Patrocínio

sábado, 28 de julho de 2007

vinte e sete do sete de dois mil e sete

meu dia passou
nunca passado

meu amor acabou
nunca acabado

26 de julho de 2007


quarta-feira, 25 de julho de 2007

As Pensadoras
Nenhuma outra paixão poderia excitar-me agora. Outros buscam prazer na avareza, na ambição, nas demandas e disputas. A mim, só o amor me interessaria. Devolver-me-ia o cuidado com minha pessoa, a vigilância, a jovialidade; faria com que os tristes sestros da velhice não me desfigurassem; e sem dúvida me induziria a estudos úteis e louváveis que me tornariam mais querido; libertaria meu espírito do desespero e da falta de confiança em seus meios; afastarme-ia de mil pensamentos aborrecidos, de mil melancólicos desgostos que a ociosidade e a falta de saúde provocam; e, pelo menos em sonho, aqueceria este sangue que a natureza começa a abandonar, sustentaria esta cabeça que se inclina, distenderia estes nervos e outorgaria um pouco de vigor e alegria de viver a este pobre homem que caminha a grandes passos para a ruína. Compreendo porém muito bem que o amor não se recupera; por fraqueza e experiência nosso gosto se faz mais exigente e requintado; e tanto mais queremos selecionar quanto menos possibilidades temos de ser aceitos. Reconhecendo nossos próprios defeitos, tornamo-nos mais desconfiados e tímidos. Nada pode assegurar-nos que sejamos amados (...) Envergonho-me, mesmo, de sua companhia, pois nada tenho a mostrar-lhe senão a minha miséria.
Michel de Montaigne, Ensaios, Livro Terceiro, Capítulo V

terça-feira, 24 de julho de 2007

quem sabe o fim da história
lágrimas e chuva
molham o vidro da janela
mas ninguém me vê
kid abelha
vou, vou feliz!
não sei, não dá, certo é que não está.
e olhe bem que aquilo é muito mulher!
Corina

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Capítulo 7

Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.

Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua.


Rayuela, Julio Cortázar
PS: Cortázar escribió una novela, Rayuela, que se podía leer de dos maneras. Si se colocaban los capítulos en el orden fijado por la numeración tradicional, salía un historia. Y salía otra si se seguía un itinerario alternativo.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

a fragilidade da vida

uma chuva
uma gota de água
um segundo

uma escolha
um dia do mês
um vôo

um deslocamento
uma hora do dia
uma derrapada

um susto
uma lista de amores
uma certeza

uma tristeza
um sentimento de impotência
um choro

um fogo
um medo de verdade
uma dor

vida
pisca
morte

terça-feira, 17 de julho de 2007

amor ela não outra não ela amor

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.

Corridinho, Adélia Prado

domingo, 15 de julho de 2007

Um dia eu te disse como ia ser e foi

Ela vinha pensando
Todos os dias
Em como a vida pode ser
Extraordinária

Não pelos fatos
Mas pelos desejos
Pelas incríveis vontades
Que acontecem

Ela vinha sentindo
Todos os dias
O gosto sensível
De se conseguir o que se quer

Não pelos fatos
Mas pelos desejos
Pelas incríveis vontades
Que enlouquecem

sexta-feira, 13 de julho de 2007

II
Folclore: A Diva Está Lá
Fazia, Assim, Décadas... Era Lenda.
Ficava Anos Distante... Era Lenda.
Faltava Achar Direção E Lugar.
Fiz A Diabólica Escalada. Ludibriei.
Fui Assassina, Digamos. E Leviana.
Fui Arrogante, Dissimulada E Literal.
Foi Assustador Demais. Extremo. Lacônico.
Foi Ação Divina, Esclareço Logo.
Fiquei Atônita, Desnorteada, Enlouquecida. Levitei.
Fingi. Admito. Desviei Enquanto Levava...
Fingi, Admito. Devo Estar Louca.
Façamos Amor. Definitivamente Estou Louca.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Mágica

um dia mágico.
outro dia mágico.

mágica.

como é que eu te explico?
não explico.

mágica.

não sei o que é que tem aqui dentro.
não sei o que é que tem aqui dentro.
não sei o que é que tem aqui dentro.
não sei o que é que tem aqui dentro.

luz.

eu tava tomando
claridade e luz.

quando o sol penetra no dia
dá um dia de sol muito belo.

obrigada.
eu tenho que te agradecer por esses dias.
e por todos os dias antes desses quando eu nem sabia deles.

obrigada pela chegada.
por cada instante.
obrigada por cada detalhe.
por cada pessoa.
obrigada pela família.
obrigada pela luz.
obrigada um dia.
obrigada outro dia.

quando no escuro fizeram poça pra pegar a luz.

pois.
pois.
pois.
pois.

e a claridade.

eu de tantas palavras hoje não tenho.
ontem não tive.
hoje não tenho.
amanhã, depois, nunca terei as palavras.

mas o olhar.
cada olhar.
obrigada por cada olhar.

pelo chão a gente não pode ficar.
claridade e luz.

obrigada por cada acontecimento.
e por cada não-acontecimento.
obrigada porque a gente é luz.
claridade e luz.

o futuro eu queria ser feliz.

entende?
pois.

obrigada pela mágica.

um dia mágico.
outro dia mágico.

como é que a gente dorme depois disso?
me diz.

eu não sei como é que pode formar uma cabeça.
não sei o que é que tem aqui dentro.
mas é mágica.

mágica.

terça-feira, 10 de julho de 2007

A manhã

Amanheci sem dia
Como se amanhecer fosse noite
Amanheço ainda noite
Quase sempre

Amanheci tardia
Como se demorar fosse sorte
Amanheço pouco ainda
Quase nada

Amanhecemos longe
Como se o espaço fosse enorme
Amanheçamos mais
Amanhã cedo

Amanhecer sem medo
Como se a saída fosse essa
Amanhecerá talvez sempre
De amanhã em diante

domingo, 1 de julho de 2007

All

so i think it's all over
i guess i'm perfectly covered
there is al

if it's possible
as soon as possible

when i'm crying at night
here comes al

he will look into my eyes
he will say i'm beautiful
he will say i'm the one
i'm the only one

if it's possible
please as soon as possible

al, estela cassilatti
Est...

...ela chorava
e eu
não podia fazer nada

...ela chorava
ali na minha frente
e eu...

...ela chorava
e me partia o coração
mas eu não podia fazer nada

...ela chorava
e nem sabia
que eu, ali...

...ela chorava
e me doía profundamente
mas eu não podia... nada

...ela chorava
tanto
e eu...

...ela chorava
e eu morria por dentro
tão impotente diante de tudo

...ela chorava
mas
por quê?

...ela chorava
e eu nem sabia por quê
e eu nem sei

...ela chorava
e é horrível
não ser ninguém nessa hora

...ela chorava
e eu não sou ninguém
e eu nem sei por quê

...ela chorava
e eu permanecia calada
na minha insignificância

...ela chorava
e talvez
eu pudesse ajudar

...ela chorava
mas
eu nem sei onde ela está agora

...ela chorava
e chorava
e chorava

...ela chorava
e me pediu desculpas
desculpa eu, por te amar e não poder fazer nada.

sábado, 30 de junho de 2007

Quer dizer que prostituta merece apanhar?

Eles disseram que bateram na moça porque acharam que ela era prostituta.
Então quer dizer que prostituta merece apanhar?
E tudo bem?

Eu apanho e tudo bem.

Apanho das pessoas que amo.
E tudo bem.

Apanho da vida,
do dia,
da noite.
Apanho do sono e tudo bem.

Eu apanho no trabalho,
apanho no ensaio,
apanho no restaurante
e tudo bem.

Eu apanho das pessoas que amo.
E tudo bem.

Eu apanho em casa,
apanho na rua,
apanho por bilhete
e tudo bem.

Eu apanho quando me levanto,
apanho quando caio,
apanho quando espero...
e tudo bem.

Eu apanho das pessoas que amo.
E tudo bem.

Eu apanho porque existo.
Apanho porque quero.
Apanho porque não quero.
Eu apanho porque tudo bem.

Eu apanho das pessoas que amo,
por engano.

E tudo bem.

terça-feira, 26 de junho de 2007

De como a vida pode pregar peças ou brincar com a gente em uma data
vinteeseisdejunho
dedoismileseis - ou sete?
A
M A
R
E L
I
N H
A
vinteeseisdejunho
dedoismilesete - ou seis?

sábado, 23 de junho de 2007

Poema de sexta
(a tati, minha instrutora literária, que mandou, aqui pro meu quarto)

Tu me deixas aqui ou partes comigo?
Estou dentro de ti ou é que me chamas?
Vives única em mim ou encontro o mundo em ti,
contigo?

A ordem das coisas em que te amo,
onde começa ou acaba?
Agora está o silêncio aposentado
na rosa do ar
e uma árvore perto trina entre os pássaros
para sombrear teu sonho ou é meu sonho?

É esta uma prisão ou acaso o vasto céu
começa aqui onde teus pés
tocam juntos a terra, ou é a lua?

De pronto entro na luz que já habito
e meus olhos se encontram com tua testa.
Busco sair de ti e te levo dentro
de mim, sem encontrar-te.
Sem como, onde ou quando.

Cego na luz com meu olhar aberto
a tanta multidão de ti que ando
extraviado na noite na metade do dia.

Issac Felipe Azofeifa, o maior poeta da Costa Rica

domingo, 17 de junho de 2007

Poema de domingo
(a nana, minha sobrinha, que fez, aqui no meu quarto)

Macacos
Macaquinhos
Bem temperadinhos
Um pra cá
Outro pra lá
Um amarelo
Outro no chinelo

sábado, 16 de junho de 2007

I
Fantasia: As Duas Escolas Literárias
Foi Assim, Divino, Encantado, Lindo.
Faz Anos Do Encontro, Lembra?
Ficou Ali, Dentro E Longe.
Ficou Aqui, Distante E Leal.
Ficou Aconchegado Direitinho. E Lacrado.
Foi Assim, Dantesco, Ecumênico, Literal.
Filhas, Amigas, Doentes E Loucas.
Faz Amar, De Estranha Longevidade.
(Faz Amor, De Estonteante Luxúria.)
Falamos, Andamos, Dividimos Estórias Livres.
Ficamos Acordadas, Doces, Efêmeras, Leves.
Finalmente A Dor Encontra Lacuna.

terça-feira, 12 de junho de 2007

notas do dia
do meu pai para a minha mãe, no cartãozinho do presente:
"Com todo o meu amôr (sic)
para a minha velha e eterna namorada"
da carolina:
"felish douze do seish"
do lex luthor:
"não tente ferir aquilo que não pode matar"

sábado, 9 de junho de 2007

em entrevista a clarice
se me pedissem um quadro da solidão,
eu escolheria a fotografia de um teatro vazio
bibi

Emudecedor
Em visita a Clarice, no Museu da Lígua Portuguesa,
descobri que, de tudo, o que ela mais gostava era de ser a mãe de Paulo e de Pedro.
Em visita a mim mesma, no silêncio do palco - um dos quartos da minha casa -
descobri que o que eu mais gostaria de ser não serei.
Em visita à noite, no frio do espaço entre o nada e o que vem depois,
descobri que tudo pode piorar. Muito.
Portanto, não espere a minha visita.
Entreviste o espelho.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Não Por Acaso
Devolva-me os laços, meu amor.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Dos cem-menores-contos do século
Do momento-menor-menina da minha vida
De sentir-me-menos
QUATRO LETRAS
Nada
Raimundo Carrero
Quando acordou,
o dinossauro ainda estava lá.
Augusto Moterroso
Ali, deitada, divagou:
se fosse eu,
teria escolhido lírios.
Adriana Falcão
FIM
Corpos se separam.
Ofegantes ainda.
E distantes para sempre.
Alberto Guzik
PODE
Você pode morrer
a qualquer momento.
André Sant'Anna
- Morreu de quê?
- Gastou-se.
Eugênia Menezes
ÁPICE
Diz que é pueril!
Mas depois tudo foi morrendo.
João Paulo Cuenca
ATRIZ NO DIVÃ
- Doutor, o senhor
já me viu representar?
- Fora daqui?
Livia Garcia-Roza
- Mulher, como estás gorda!
- É... tô comendo o pão
que o Diabo amassou.
Maria Pereira de Albuquerque
LAST BLUES
Não espalho,
mas ando triste pra caralho.
Mário Bortolotto
Quando dei por mim,
já havia esse cárcere.
Ronaldo Cagiano
CONFISSÃO
- Fui me confessar ao mar.
- O que ele disse?
- Nada.
Lygia Fagundes Telles
ADEUS
Então disse:
- Viver era isso?
E fechou lentamente os olhos.
Miguel Sanches Neto

domingo, 27 de maio de 2007

A Revolução e A Borboleta

Quanto mais longe
mais longe
O tempo se bifurca

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Uma experiência

Talvez seja uma das experiências humanas e animais mais importantes. A de pedir socorro e, por pura bondade e compreensão do outro, o socorro ser dado. Talvez valha a pena ter nascido para que um dia mudamente se implore e mudamente se receba. Eu já pedi socorro. E não me foi negado.

Senti-me então como se eu fosse um tigre perigoso com uma flecha cravada na carne, e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem lhe tiraria a dor. E então uma pessoa tivesse sentido que um tigre ferido é apenas tão perigoso como uma criança. E aproximando-se da fera, sem medo de tocá-la, tivesse arrancado com cuidado a flecha fincada.

E o tigre? Não, certas coisas nem pessoas nem animais podem agradecer. Então eu, o tigre, dei umas voltas vagarosas em frente à pessoa, hesitei, lambi uma das patas e depois, como não é a palavra o que tem importância, afastei-me silenciosamente.

Clarice

quarta-feira, 23 de maio de 2007

A importância de High School Musical e o começo de algo novo

As crianças gritavam, choravam, esperneavam, abraçavam os pais com uma mistura de desespero e alegria. Qualquer insinuação - mesmo que singela - da presença deles nas redondezas era motivo para histeria generalizada. Coisa que eu, particularmente, não via desde o show do Menudo, nos anos 80, ou desde a adoração setentina por John Travolta e Olivia Newton-John, em Grease. Coisa que se parece com o fascínio histérico nos vídeos antigos de fãs dos Beatles. Fanáticos, apaixonados, loucos, delirantes. Foi lindo. E assim, o show do mais novo fenômeno da Disney me mostrou, na platéia, o começo de algo novo – the start of something new.

“Eles não tinham ídolos da geração deles”, me disse uma mãe que acompanhava a filha de 12 anos ao show. “As crianças adoravam Shakira, Latino, funk carioca. Já estava na hora de ter alguém que dissesse algo de bom para os nossos filhos.”

Nada contra Shakira, Latino ou funk, mas as cinquenta mil pessoas que lotaram o estádio do Morumbi parecem concordar que Troy, Gabriella, Ryan e Sharpay – a mais adorada entre os personagens do musical – têm mais coisas boas a dizer do que os outros. “No High School eles cantam letras sem bobagem, dançam, estudam, fazem esporte, fazem arte, se divertem, namoram, convivem com a família... tudo que a gente quer que nossos filhos façam”, disse outra mãe. Tudo que eu quero que meus sobrinhos sejam.

Ter ídolos é importante em qualquer momento da vida. Mais ainda na infância e na adolescência, quando a gente está criando identidade, descobrindo onde se encaixa. O ídolo é um espelho ou um objetivo. É o caso de amor, o ideal, o sonho que motiva, que inspira, que dá exemplo e, às vezes, que dá razão para a vida em uma fase de tantas dúvidas e questionamentos.

Na platéia de High School Musical ninguém questionava nada. Para quê? Aquele era o único momento da vida inteira. Não estou exagerando. Aquelas crianças fariam qualquer coisa para estar lá. Qualquer coisa. Grandes, pequenas, ricas, pobres, educadas ou não, lindas ou apenas bonitas – porque criança feia não há -, simpáticas e desinibidas ou tímidas e recatadas, todas no auge da paixão: aquelas crianças fariam qualquer coisa para estar lá.

As mães, elegantes ou não, jovens ou nem tanto, satisfeitas ou mal-humoradas com a aglomeração de gente, sabiam que os filhos morreriam se perdessem aquilo. Por isso levaram os pequenos, sem reclamar e também sem fazer perguntas. E pais, e tias, e tios, primas, irmãos, até avôs e avós - todos em um turbilhão coletivo, a magia que se cria quando algo de bom está por vir. É romântico, mas é preciso ser assim. É disso que precisam as crianças, os adolescentes, os adultos. De romance, de mágica, de menos chatice e rigidez, de novidade boa.

Essa é a importância de High School Musical. Trazer algo de novo – ainda que seja velho. Trazer o velho que se perdeu e que, por isso, é novo de novo. Transformar o futuro. Transformar as crianças que se tornam adultos antes do tempo em crianças outra vez. Eles não tinham ídolos deles, agora têm. E a importância desses ídolos, difícil de acreditar para quem é rebelde, é muito maior do que o próprio sucesso. As crianças que amam, gritam e choram, sabem.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

O verbo perdido no câncer

Existe um câncer dentro de mim.
Dentro do câncer, nada.

Uma camada é de alívio.
A outra é de solidão.

Existe uma emoção
inacabada.

Existe um câncer dentro do nada.
É uma facada, e um carinho.

Um caminho no meio da pedra.
Petra, Joana, Fedra.

Existe um câncer dentro do sonho.
Um cisto medonho, de morte.

Existe um câncer na sorte.
Um jogo vendido.

Existe um soldado rendido.
Uma guerra em que eu não vou entrar.

Depois do câncer,
existe um lugar.

Existe um câncer dentro de mim.
E ainda não sei o que fazer com ele.

Talvez amar.

sábado, 5 de maio de 2007

qual queres

qualquer coisa que eu escreva vai ser a mesma
qualquer sentimento que eu tenha vai ser o mesmo
qualquer escritora que eu ame... não! vai ser a mesma

qualquer mês
qualquer caneta
qualquer repetição

qualquer macaco
qualquer cansaço
qualquer canção

qualquer pessoa que eu ame vai ser a mesma

qualquer destino que eu tenha
qualquer alegria que venha
qualquer solidão

qualquer desejo que falte vai ser o mesmo
qualquer vontade que bate vai ser a mesma
qualquer saudade que mate vai ser a mesma

qualquer cachorro que late
qualquer dia que eu espere
qualquer palavra que fere

qualqueres

qualquer noite que eu esqueça vai ser a mesma
qualquer novidade que eu conheça vai ser a mesma
qualquer segunda que amanheça
qualquer terça
qualquer quarto
qualquer oitava que eu alcance
qualquer melodia que eu dance

qualquer casa que eu avance
vai ser a mesma

a rainha está perdida
Toda idéia é válida

tive uma
te dar um beijo

uma idéia
uma vontade
um impulso
um desejo

uma melodia que vai colar na sua cabeça
não esqueça
não esqueça
deixa

domingo, 15 de abril de 2007

IT'S OVER

Lay a whisper On my pillow, Leave the winter On the ground.
I wake up lonely, There's air of silence In the bedroom And all around.
Touch me now, I close my eyes And dream away.

It must have been love
But it's over now.
It must have been good
But I lost it somehow.

It must have been love But it's over now.
From the moment we touched 'Til the time had run out.

Make-believing We're together, That I'm sheltered By your heart.
But in and outside I've turned to water Like a teardrop In your palm.
And it's a hard Winter's day, I dream away.

It must have been love
But it's over now.
It was all that I wanted
Now I'm living without.

It must have been love But it's over now,
It's where the water flows, It's where the wind blows.
It must have been love But it's over now.
It must have been good But I lost it somehow.
It must have been love But it's over now.
From the moment we touched 'Til the time had run out.
It must have been love But it's over now.
It was all that I wanted, Now I'm living without.
It must have been love But it's over now.
I's where the water flows, It's where the wind blows.
It must have been love But it’s over now
It must have bee love But it’s over now.

Roxette, It must have been love

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Só Pra Contrariar

eu canto
Vai amor e faça tudo o que tiver na cabeça
Eu só te peço, por favor não me esqueça
Quando cansar de tudo pode voltar
Vai amor a vida é dura e você tem o direito
Eu vou ficar sozinho aqui e me ajeito
E quem sou eu, amor, pra te censurar, pode ir
Resolve sonhos do seu coração
Esgote o seu estoque de emoção
E quando acabar essa ilusão
Volta pra mim
Volta meu amor
Volta pra me ver

Volta pra saber como a vida é bonita sem você
Volta só pra ver como eu sou feliz
De repente outro amor
Bem melhor vai querer o que você não quis


tu cantas
To fazendo amor
Com outra pessoa
Mas meu coração
Vai ser pra sempre teu

O que o corpo faz
A alma perdoa
Tanta solidão
Quase me enlouqueceu

Vou falar que é amor
Vou jurar que é paixão
E dizer o que eu sinto
Com todo o carinho
Pensando em você
Vou fazer o que for
E com toda a emoção
A verdade é que eu minto
que eu vivo sozinho e não sei te esquecer

E depois acabou
Ilusão que eu criei
A emoção foi embora e a gente só pede pro tempo correr
Já não sei quem amou
Que será que eu falei
Dá pra ver nessa hora o amor só se mede depois do prazer

Fica dentro do meu peito sempre uma saudade...
Só pensado no teu jeito eu amo de verdade
E quando o desejo vem é teu nome que eu chamo
Posso até gostar de alguém, mas é você que eu amo



nós cantamos

Não larga do meu pé
Me chama de meu rei
Me cobre de amor e paz
Mata meu desejo

A vida é viver,
viver nos teus braços
Foi tudo o que eu mais sonhei
Meu bem, me amarrei

Parece a corda e a caçamba
O Brasil e o samba
Eu e ela

Um amor assim desse jeito
Chega e satisfaz
Enche de prazer
Faz enlouquecer

Hum, hum, é bom demais

a vida é bonita sem voce, depois do prazer, é bom demais - só pra contrariar