Água Viva
Clarice
Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.
Sei o que estou fazendo aqui: conto os instantes que pingam e são grossos de sangue.
Equilíbrio perigoso, o meu, perigo de morte de alma.
Nós - diante do escândalo da morte.
Vou parar um pouco porque sei que o Deus é o mundo. É o que existe.
Não gosto é quando pingam limão nas minhas profundezas
Clarice
Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.
Sei o que estou fazendo aqui: conto os instantes que pingam e são grossos de sangue.
Equilíbrio perigoso, o meu, perigo de morte de alma.
Nós - diante do escândalo da morte.
Vou parar um pouco porque sei que o Deus é o mundo. É o que existe.
Não gosto é quando pingam limão nas minhas profundezas
e fazem com que eu me contorça toda.
Os fatos da vida são o limão na ostra?
Será que a ostra dorme?
O que te escrevo não vem de manso, subindo aos poucos até um auge para depois ir morrendo de manso.
O que te escrevo não vem de manso, subindo aos poucos até um auge para depois ir morrendo de manso.
Não: o que te escrevo é de fogo como olhos em brasa.
Recebi uma carta de S. Paulo de pessoa que não conheço.
Recebi uma carta de S. Paulo de pessoa que não conheço.
Carta derradeira de suicida. Telefonei para São Paulo.
O telefone não respondia, tocava e tocava e soava como num apartamento em silêncio.
Morreu ou não morreu. Hoje de manhã telefonei de novo: continuava a não responder.
Morreu, sim. Nunca esquecerei.
Agora - silêncio e leve espanto.
Agora - silêncio e leve espanto.
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