quarta-feira, 25 de julho de 2007

As Pensadoras
Nenhuma outra paixão poderia excitar-me agora. Outros buscam prazer na avareza, na ambição, nas demandas e disputas. A mim, só o amor me interessaria. Devolver-me-ia o cuidado com minha pessoa, a vigilância, a jovialidade; faria com que os tristes sestros da velhice não me desfigurassem; e sem dúvida me induziria a estudos úteis e louváveis que me tornariam mais querido; libertaria meu espírito do desespero e da falta de confiança em seus meios; afastarme-ia de mil pensamentos aborrecidos, de mil melancólicos desgostos que a ociosidade e a falta de saúde provocam; e, pelo menos em sonho, aqueceria este sangue que a natureza começa a abandonar, sustentaria esta cabeça que se inclina, distenderia estes nervos e outorgaria um pouco de vigor e alegria de viver a este pobre homem que caminha a grandes passos para a ruína. Compreendo porém muito bem que o amor não se recupera; por fraqueza e experiência nosso gosto se faz mais exigente e requintado; e tanto mais queremos selecionar quanto menos possibilidades temos de ser aceitos. Reconhecendo nossos próprios defeitos, tornamo-nos mais desconfiados e tímidos. Nada pode assegurar-nos que sejamos amados (...) Envergonho-me, mesmo, de sua companhia, pois nada tenho a mostrar-lhe senão a minha miséria.
Michel de Montaigne, Ensaios, Livro Terceiro, Capítulo V

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