terça-feira, 26 de julho de 2005

Mãe,

tem sido tão difícil. Queria que você pudesse entender o quanto me dói tudo isso. Eu acredito que você entenda um pouco mas não sei se sabe como eu realmente me sinto, e como é difícil pra mim. Eu sei que não posso te pedir mais do que você pode me dar, mas às vezes eu penso que é tão pouco... Perto do amor que eu tenho por você e da importância que você tem pra mim, é tão pouco te pedir pra simplesmente conviver comigo, na minha diferença, uma, duas vezes por ano. Que será isso? Quanto? Vinte, quarenta dias na sua vida inteira? Por que não pode ser?

É meu aniversário é é tão triste não poder ter todas as pessoas que eu amo juntas. Todas as pessoas importantes pra mim. Pra que ficar aqui... nesse acorda, trabalha, come, dorme, se no fim o mais importante não posso mais ter, que é todo mundo junto. Eu não quero, mãe, ficar um pouco aqui e um pouco lá. Não quero. Porque isso é chato, é triste. Eu detesto ficar longe de você, e tenho me esforçado demais pra diminuir a nossa distância... mas como é que eu vou conseguir isso? Não posso fazer do jeito que você quer... simplesmente não consigo, não acontece, não tem funcionado pra mim... Mas viver longe de você tanto tempo também não funciona.

O que é que a gente vai fazer, hein? Sempre é você que me dá as respostas e se você não tem resposta pra tudo isso, o que é que eu faço?

Eu tô triste, não consigo parar de chorar. Só porque chorar é o que a gente faz quando sente dor. Fico pensando em quantos anos mais ainda vou te ter ao meu lado e é tão insuportável imaginar quanto desse tempo eu te perco porque você não me entende e eu não consigo te fazer entender. Talvez entenda, mas neste caso entender não basta, não é?

Ai, mãe, o que é que a gente faz?

Pra que aniversário? Eu, que gostava tanto... Desde que te contei tudo isso, nunca mais tive esse dia feliz. Porque aniversário é com a mãe que a gente faz. É com a mãe que a gente combina, organiza, convida as pessoas queridas. Pelo menos pra mim, é só assim que vale. Mas eu não posso mais fazer isso com você. Tenho que me dividir, tenho que ficar pela metade. E assim eu não quero, não gosto, não me importa...

Mãe, eu sou metade todos esses anos que você não me quer mais inteira. Essa minha vida dividida é tão chata, tão triste. Não me importa que a gente consiga levar as coisas assim, dividas. Porque eu não posso ser feliz assim. Eu sei que talvez você também não possa ser feliz nem assim nem do jeito que eu te peço. Mas, então, meu Deus, o que é que a gente faz?

Será que é mesmo tão difícil pra você? Será que não poderia ser mais simples se você, pelo menos, tentasse. Tenta, por favor. Um dia, uma tarde, uma hora... Tenta, mãe. Eu te juro que é simples. Nós somos pessoas, pessoas comuns, iguais a todo mundo. Não é difícil conviver com a gente. Eu continuo sendo eu, sejá lá quem esteja ao meu lado. Por que é tão insuportável pra você? Tanta psicologia, mãe, e não dá pra conviver com isso? Por favor, fica feliz e me deixa ser feliz perto de você. Porque longe eu não vou conseguir ser feliz nunca. Longe eu estou partida, quebrada, dilacerada, tão infeliz. Você não vê? Eu sei que vê. Eu também te vejo. Por isso te peço: tenta.

Eu vou, eu volto, eu tento me convencer de que tudo bem, de que eu posso ir levando, mas eu não posso.

Tenta, por favor. Eu não aguento mais viver assim. Não vale a pena, sabe.
Não vale a pena.

Infeliz aniversário pra mim. Mais uma vez, mais um ano...
Até quando?

Ai, que triste que é isso, meu Deus.

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