quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

Um Dia de Silêncio por Clarice

Ontem foi o dia de Clarice.

Fiquei em silêncio.

O silêncio, de que ela gostava tanto.

Não quero falar muito, portanto.

Clarice está em mim todos os dias.

Não precisamos mais de um dia.

Todos os dias são de Clarice.

Mas me dei de presente o novo livro: Correspondências.

Porque ela escreve...

E a mim, para falar dela... silêncio.



Maravilhosa Clarice...



Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a lua alta. Então ele, o silêncio, aparece.

O coração bate ao reconhecê-lo.

Pode-se depressa pensar no dia que passou. Ou nos amigos que passaram e para sempre se perderam. Mas é inútil esquivar-se: há o silêncio. Mesmo o sofrimento pior, o da amizade perdida, é apenas fuga. Pois se no começo o silêncio parece aguardar uma resposta - como ardemos por ser chamados a responder - cedo se descobre que de ti ele nada exige, talvez apenas o teu silêncio. Quantas horas se perdem na escuridão supondo que o silêncio te julga - como esperamos em vão por ser julgados pelo Deus.



Silêncio, Clarice Lispector






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