quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

Cara Clarice,



escrevo para dizer que lamento muito não poder ir até a sua casa trocar um dedo de prosa. Bem, eu lamento é não saber onde você mora, senão eu iria. Iria mesmo. Tenho umas coisas aí pra lhe perguntar, umas outras pra lhe contar, e mais um bocado de opiniões que quero lhe pedir. Não queria falar da morte hoje, mas, afinal, ela sempre está presente porque um dia vem. Hoje eu queria falar de amor. Não desse amor bobo que anda por aí pelos bares, pelos clubes, pelos hotéis de luxo. Queria falar de amor mesmo, desse que a gente sente uma vez, por uma pessoa, e fica a vida inteira tentando sentir outro igual. Ou, quando Deus é bom, a gente fica a vida inteira sentindo esse amor mesmo, com a pessoa-espelho, a que nos ama-igual, ao lado. Sabe, o que eu queria te contar é que acho que perdi minha chance. É. Bom, talvez ela volte mas, por enquanto, perdi. Porque eu já amei assim. Ah, sim, amei. E foi tão bom. Mas um dia eu não estava mais distraída e... perdi. Não tenho pensado muito nisso ultimamente, mas hoje me veio. Hoje senti. Hoje senti muitas saudades. Hoje senti muita vontade daqueles anos, daqueles dias, daqueles instantes de profunda alegria... Hoje senti, sim senhora. Ah, mas você não tem nada com isso. Deixa pra lá. Me manda seu endereço. Qualquer dia apareço.



Um abraço,

J.

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