Desencanto
O que me encantava desencantou.
Desencantei.
Por quê, não sei.
Desencantei.
Assim, sem mais.
Em paz.
Em mim.
Assim.
Se é bom ou ruim.
De novo não seii.
Mas desencantei.
Despaixão
Desapaixonei.
E agora quem?
E agora quando?
Queria logo.
Mas queria bem.
Queria brando.
Em paz.
Em mim.
Em nós.
Que nós?
Sós.
Sóis.
Descanção
É você
Só você
Que na vida vai comigo agora...
Não é ninguém.
É solidão.
A música toca mas não há ninguém, não.
Desesperança
Ano que vem vai ser um ano bom.
Um ano de bom tom.
De silêncio e som.
Mais som.
Silêncio é o resto.
Na verdade sou eu, mas queria citar Hamlet.
Envenenar-me.
E morrer.
Mas depois.
Porque ano que vem vai ser um ano bom.
Desprendimento
Não penso mais em você como antes. Não acordo mais com a sua imagem nos olhos, apesar do porta-retrato aqui, insistente. Minto se disser que o dia vai inteiro sem você, mas quase. Quase quase. Minto se disser que escuto música impunemente. Isso talvez nunca. Nem quase. Mas a sensação de acordar sem dor tem uma melodia boa. Ainda é tudo muito vazio portanto é difícil avaliar o estrago, avaliar a recuperação, avaliar as melhoras. Ainda é tudo muito confuso portanto é difícil. Mas é livre. Ainda que a solidão seja a pior das grades.
Desalento
Começo a precisar
de dedos nas costas de noite
de abraço na madrugada.
de pernas enroscadas
de sorriso de manhã
de beijo de café
de bala de hortelã
de oi
de tchau
de saudade
de carinhos sem ter fim.
Deus...?
Alguém...?
Se fosse um filme seria tão mais fácil.
Mas é teatro.
Ano que vem vai ser bom.
Seremos felizes para sempre.
Estou dilacerada.
Outro dia uma amiga me disse: "você é uma pessoa que ama".
Pois desamei.
Desisti.
Deixa.
Passa.
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