domingo, 29 de setembro de 2002

Não quero ser estanque



é mais fácil cultuar os mortos que os vivos

mais fácil viver de sombras que de sóis

é mais fácil mimeografar o passado

que imprimir o futuro



não quero ser triste

como o poeta que envelhece

lendo Maiakóvski na loja de conveniência

não quero ser alegre

como o cão que sai a passear com o seu dono alegre

sob o sol de domingo

nem quero ser estanque

como quem constrói estradas e não anda

quero no escuro

como um cego tatear estrelas distraídas



minha casa

amoras silvestres no passeio público

amores secretos debaixo dos guarda-chuvas

tempestades que não param

pára-raios quem não tem

mesmo que não venha o trem não posso parar



veja o mundo passar como passa

uma escola de samba que atravessa

pergunto onde estão teus tamborins

pergunto onde estão teus tamborins



sentado na porta de minha casa

a mesma e única casa

a casa onde eu

sempre morei



Minha Casa. Zeca Baleiro

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