quarta-feira, 4 de setembro de 2002

da janela
Que surpresa feliz.
Hoje fui , como de costume, porque adoro olhar por aquela janela. E ele me deixou ao sol uma das maravilhosas coisas que escreve. Li, reli, não canso de ler e reler... Mas de pensar, me canso demais às vezes, ainda sem querer. E ele me fez, me faz pensar sempre. Dele não me canso nunca, por isso continuo pensando, sim, no que escreveu, ainda que um pouco com cada face do espelho, para descansar... Obrigada.

Um trecho do que vi hoje da janela:

Alegórica mulher, a Prudência tem duas faces. Mirando-a, encontramos uma corriqueira face humana. Uma, apenas. O alegorista, que a esta dama nos faz ver, por um significativo artifício, escondeu seu segundo rosto na face de um espelho. Quase ingênua, um tanto alheia, esta senhora Prudência olha a si, à sua outra face, que se posta sobre a externa face de vidro. Enfeitiçada ou perdida parece esta mulher, imersa que está na grandiosa tarefa que este atributo, seguro em sua mão esquerda, lhe parece ditar: ?examine seus defeitos?, ?conheça a si própria?.

Ora, sua face oculta, a outra face, nada mais é que a primeira, em imagem especular. Invertida, mas não menos real que a outra ? pois quem poderia afirmar, com toda certeza, qual rosto mira a qual? Não é a segunda face a da beleza, com a qual tendemos nos ver: é a dos defeitos, nosso renegado rosto sombrio.

Mas, perigo, há: o de ver nossa outra face: conhecer a si próprio não é tarefa que se cumpre impunemente. (...)

de René Boli

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