segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A FAVORITA

foi quando ela apareceu. pegou assim a minha mão, como quem pega displiscentemente uma lata de cerveja em cima do balcão. de passagem, nem olhando pra mim, me puxou sem me dar escolha. porque eu estava distraída. eu teria olhado pra ela tarde demais, depois que alguém já tivesse chegado primeiro. mas, sim, eu a escolheria também. e então ela foi andando com uma urgência deliciosa, me levando. me arrastou entre as pessoas e, no meio da multidão, parou, sem nunca me soltar as mãos. olhou bem pra mim, cruzou os dedos nos meus, enroscou a minha cintura com os braços entrelaçados aos meus, e me beijou. muito.

já naquele momento, extasiada, eu pensei em tudo que viria depois.

abri os olhos na manhã seguinte e a vi, dormindo ao meu lado com um rosto que já era pra mim o mais bonito do mundo. como por telepatia, ela acordou no instante em que eu ensaiava um sorriso, e sorrimos juntas. sabendo que aquilo ia durar. muito.

e os dias foram assim, um atrás do outro. com sorrisos pela manhã. e risos noite adentro.
(e muitos risos noite adentro.)

e vieram os cinemas, os teatros, os jantares, os amigos, as festas. os vinhos, as comidas, os chocolates. os presentes, as músicas, os cheiros. as descobertas, os riscos, as viagens. as bebedeiras, as bobagens. os oscars, as novelas, as novas temporadas. as estréias. as mudanças, as compras, as idéias, as roupas, os espelhos do banheiro. as alegrias, as tristezas, os abraços sem fim. as saudades, as vaidades, as compreensões, as cumplicidades. as portas, os quartos, as janelas, as bicicletas. as implicâncias, as alianças. as fraquezas, as certezas, a felicidade.

e a cidade inteira ficou feliz. muito.

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