quarta-feira, 16 de outubro de 2002

Metades pra sempre

Ontem fiquei pensando em como mudou meu discurso.

Tentei descobrir se foi só o discurso ou se eu também mudei. Não. Mudar não é o verbo correto. Tentei descobrir se estou mesmo curada. E não sei. Não sei, porque ainda me dói. Você ainda está no meu dia, na minha noite, no meu sono, no meu porta-retrato. Fiquei te olhando um pouco para ver se te entendo um pouco mais, se te amo um pouco menos. Nem um pouco. Porque é que não te tiro de lá? Não responda. Não quero motivos, nem explicações. Não quero psicologias nem conselhos. Não vou te tirar de lá. E, por favor, só entre neste quarto quem puder conviver com a sua foto em mim. Não é falta de amor. Não entenda assim. Não é agressão, não é atraso de vida. É uma foto. Uma foto pela metade.




Não pensa mais nada

No final dá tudo certo de algum jeito

Eu me acerto, eu tropeço

E não passo do chão



Pode ir que eu aguento

Eu suporto a colisão

Da verdade na contra-mão

Eu sobrevivo

E atinjo algum ponto

Eu me apronto pro dia seguinte



Escovo os dentes

Abro a porta da frente

Evito a foto sobre a mesa

E ninguém aqui vai notar

Que eu jamais serei a mesma.



Escovo os dentes

Abro a porta da frente

Evito a foto sobre a mesa

E ninguém aqui vai notar

Que eu jamais serei a mesma.



Eu Me Acerto, Zélia Duncan





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