sábado, 5 de outubro de 2002

El poeta

E estas são dele,

um pouco sobre mim,

para você.



Não criei personagens.

Tudo o que escrevo é autobiográfico.

Porém, não expresso minhas emoções diretamente,

mas por meio de fábulas e símbolos.

Nunca fiz confissões.

Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção



...



Também o jogador é prisioneiro

- a sentença é de Omar - de um tabuleiro

de negras noites e de brancos dias.



Deus move o jogador e este a peça.

Que Deus por trás de Deus tudo começa

o pó, o tempo, o sonho, as agonias...?



...



Um dia ou uma noite - entre meus dias e minhas noites que diferença existe? - sonhei que no chão do cárcere havia um grão de areia. Voltei a dormir, indiferente; sonhei que despertava e que havia dois grãos de areia. Voltei a dormir, sonhei que os grãos de areia eram três. Foram, assim, multiplicando-se até encher o cárcere e eu morria sob este hemisfério de areia. Compreendi que estava sonhando; com um enorme esforço, despertei. O despertar foi inútil: a inumerável areia me sufocava. Alguém me disse: "Não despertaste para a vigília, mas para um sonho anterior. Esse sonho está dentro de outro, e assim até o infinito, que é o número dos grãos de areia. O caminho que terás que desandar é interminável e morrerás antes de haver despertado realmente".



Senti-me perdido. A areia me enchia a boca, mas grite: "Nenhuma areia sonhada pode matar-me nem existem sonhos dentro de sonhos". Um resplendor me despertou. Na treva superior abria-se um círculo de luz. Via a face e as mãos do carcereiro, a roldana, o cordel, a carne e os cântaros.

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