segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

Filhos

Filhos, filhos...

Ter ou não ter, eis a questão.



Minha irmã-pessoa-melhor-do-mundo-que-não-mora-no-Brasil chegou nesse fim de semana. Com a minha sobrinha-Sofia-linda-maravilhosa-única-e-especial. Meu cunhado argentino também veio. Antes eu não achava ele tão argentino. Agora acho. Ele está quase insuportável, com aquela coisa argentina de "se achar" o-rei-da-cocada-preta, o-pai-mais-lindo-e-perfeito-do-mundo. Um chato, se você quer saber. Fora o ciúme da filha, que de tão exagerado virou palhaçada. E fora, acima de tudo, a extrema dose de preconceito que ele tem em relação às minorias. Às vezes tenho vontade de dizer umas coisas bem ditas pra ele. Mas ele é marido da Dani e isso me controla. Espero, sinceramente, voltar a gostar dele como antes. Espero que ele volte a ser como era. Menos argentino e mais legal. - Bom, e então a família inteira não desgrudou um minuto. Minha irmã mais velha e meus outros sobrinhos, Luca e Nana. Menos meu irmão, que só chega de viagem amanhã, com mais dois pequenos, Duduzinho e Carol. Um bando, afinal. Cinco sobrinhos lindos.



E com tudo isso tenho me perguntado sobre filhos. Eu sempre quis ter. Mas hoje não sei. Não sei mesmo. Amo criança, adoro estar no meio delas, acho que tenho um baita jeito para entretê-las, criá-las, cuidá-las, ensiná-las coisas... Mas daí a ter filhos, já não sei. A começar que não sei se vou me casar, o que já complica ainda mais a questão. Não sei mesmo. Não por nada de especial, não por motivos concretos, ou fortes, ou estáveis. Simplesmente não sei mais. Portanto filhos... filhos... Minha mãe diz que não há nada tão maravilhoso como ter um filho. Ela diz que a emoção de ter um filho não se compara a nada na vida. Eu acredito. E por isso quero de tê-los. Mas então penso na miséria do mundo, na falta de generosidade, no sofrimento da vida, nos tantos casais que vejo tão absolutamente infelizes, com lares desfeitos e filhos tristes, e não sei. Penso em Brás Cubas: Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. E não quero mais tê-los.



Portanto hoje estou assim, não querendo muito. Tenho sobrinhos. Mesmo que não tenha filhos, tenho sobrinhos. E só de ter a Sofia, tão especial como ela é, compensa um pouco a falta da emoção inigualável que deve ser ter um filho. Mas amanhã é outro dia e pode ser que eu não pense nada disso. Hoje, eu olho pras minhas irmãs, vejo filhos lindos e maridos chatíssimos, e acho que prefiro não ter nem uma coisa nem outra. Porque já estou feliz com os filhos lindos delas e com todas as crianças do mundo que cruzam meu caminho. Sei lá.



Filhos...Filhos ?

Melhor não tê-los!

Mas se não os temos

Como sabê-lo ?



Se não os temos

Que de consulta

Quanto silêncio

Como os queremos !



Banho de mar

Diz que é um porrete...

Cônjuge voa

Transpõe o espaço

Engole água

Fica salgada

Se iodifica

Depois, que boa

Que morenaço

Que a esposa fica !

Resultado: filho.



E então começa

A aporrinhação:

Cocô está branco

Cocô está preto

Bebe amoníaco

Comeu botão.



Filhos ? Filhos

Melhor não tê-los

Noites de insônia

Cãs prematuras

Prantos convulsos



Meu Deus, salvai-o !

Filhos são o demo

Melhor não tê-los...

Mas se não os temos

Como sabê-los ?



Como saber

Que macieza

Nos seus cabelos

Que cheiro morno

Na sua carne

Que gosto doce

Na sua boca !

Chupam gilete

Bebem xampu

Ateiam fogo

No quarteirão

Porém, que coisa

Que coisa louca

Que coisa linda

Que os filhos são !



Poema Enjoadinho, Vinicius de Moraes

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