segunda-feira, 30 de junho de 2003

Uma Vida Estranha

Cadê você...?

Que nunca mais apareceu aqui...


Nem sei cadê eu. Tô aqui mas é tudo tão estranho.

É uma ausência em mim de tudo e um esgotamento.

Coisas que eu não deveria sentir... Infelicidade que não me pertence.

Toma. Isso não é meu! Leva! Me deixa! Como é que entrou aqui?

E cadê, meu Deus, cadê eu? Será que eu era aquela, e voltei?

Será que os planos e a alegria eram da outra e a outra eu inventei ser eu?

A outra que nem era por si mas pelo amor, daquela, pelo sonho que acabou...?

Sei lá. Que estranha essa sensação de estranheza e sozinhês.

Quero inventar palavras pra ver se me explico para mimdentro.

Estou compliquinhada e desamparinhofaltada. Estou abandonadristinha.

Ou senão, nada disso estou... só me faltamplanmotivrazões e amortodamor.

Um motor de genteleza e essas coisinboas que embelegram a vida.

Há uma estação onde o trem tem que parar

Tô na contramão, te esperando pra voltar

Pra poder seguir, sem limites pra sonhar

Pois é só assim que se pode inventar o amor


Que loucura tanta coisa que aconteceu e nem parece.

Tanto ensaio, tanta dor, tanto tempo depois e revela-se uma fotografia.

Aí a gente pega e guarda no álbum... deixa lá. Até lembrar um dia de ver.

Imagina... Quem é que tranca na gaveta uma coisa dessas?

E o meu sofrimento ainda existe mas há uma anestesia geral, sei lá.

Pai, Mãe... essa gente que teve a gente sem a gente nem pedir.

E que a gente ama sem saber por quê... e que às vezes ficam lá no alto da torre.

Pai, Mãe... meus dois pedaços em partes tão diferentes de mim esses dias, esses tempos.

Sempre, eu acho. Mas hoje mais. E nunca mais vão se cruzar. Apesar de juntos toda a vida.

Nunca mais se cruzarão em mim. Há agora um abiiiismo que os separa em mim.

Que talvez só aumente. Bom? Ruim? Não, nada. Pelo menos por enquanto. Nada.

Ruim é meu pai pesar em mim. E minha mãe sofrer por mim.

Ruim é que não consigo convencê-los de que pode ser leve. Tudo. Leve.

Ou, então, se me levassem... resolvia de uma vez. Levezaída.

E eu estou sem. Sem muita coisa. E Sem Saída.

É tão difícil ficar sem você

O teu amor é gostoso demais

Teu cheiro me dá prazer

E quando estou com você

Estou nos braços da paz


A música toca, o rádio me cumplicia... nem sei de quê.

Mas o que me toca é um ar de que, se a vida segue, para algum lugar tem de ir.

Se eu quero? Na verdade não muito mais... Mas vou, estou, não tenho saída outra.

E quem não vem, não vem. Pode ser que esteja tudo aqui e eu não vejo.

Tanta poesia nesse mundo. Minha vida é uma gota e nem sei pra quê.

A gota dos Barbatuques sai da minha boca maior que a minha vida.

Que migalha, meu Deus! Que migalha cada um. Cada dois já não!

Dois não é gota. É mar, é oceano. É oito.

Num apartamento

Perdido na cidade

Alguém está tentando acreditar

Que as coisas vão melhorar... ultimamente

A gente não consegue

Ficar indiferente

Debaixo desse céu


E eu moro em casa, olha que coisa! Numa casa enorme, linda, cheia de amor.

Mas é um amor tão moldado. Um amor que se não tiver essa forma não serve.

É melhor do que amor nenhum, eu sei. Melhor do que família nenhuma.

Melhor do que muita coisa. É muito bom, na verdade. É sublime.

Mas que podia ser mais simples, ah, podia. A talevêzdequefaleilemcima.

E na medida do possível vai dando pra se viver.

Só não entendo como tenho coragem de dizer tudo isso.

De reclamar ou de sofrer, seja o que for...

Com tanto sofrimento devastador no mundo.

Eu não posso, meu Deus. Não posso sofrer. Reclamar nem um fiapo eu posso.

Peço perdão. Que possam me perdoar os semnada, os semnada, os semnada.

E que me perdoem osqueuamotanto.

Eu...

Sei que me disseram por aí,

E foi pessoa séria quem falou,

Que você tava com saudade

De me ver passar por aí...

Eu...

Sei que você disse por aí

Que não tava muito bem seu novo amor,

Que você tava mais querendo

Era me ver passar por aí...

Pois é... Esse samba é pra você, ô meu amor.

Esse samba é pra você

Que me fez sorrir,

Que me fez chorar,

Que me fez sonhar,

Que me fez feliz,

Que me fez amar...


E que os sonhos da gente continuem existindo.

E que a gente sonhe como quem tem fé em Deus.

Ou como quem não sabe fazer de outro jeito.

Que a gente sonhe pra não desistir da vida.

E que a gente ame no sonho do sonho do amor que se ama em sonho.

Já que sonhar é preciso, e viver não é. Navegar também é preciso...

Toca o barco. Me deixa dormir e sonhar. Me deixa um pouco em paz.

Eu sonho acordada também. Se não for assim, não tem jeito.

O sonho é sempre o mesmo, a vida também. O barco, não.

Que seja eterno enqüanto dure esse amor

Que dure para sempre

Que venha abençoado por Deus

Que seja diferente

Que tenha alegria

Que ponha fogo em mim

Quem é que não quer um amor assim


E de querer muito cantar pra espantar os males, fez-se o milagre.

E de acreditar tanto, pára de chover e nada se perdeu.

E de qualquer coisa, precisa acontecer o susto.

Aparece...

Quem acredita

Sempre alcança


Mas a realidade mata o sonho.

E eu preciso ir dormir.

Porque meu pai esmurra a minha porta às sete da manhã.

Porque esmurram a minha vida assim que o sol nasce.

E o sol sempre nasce.

Ainda bem que é luz.

Mesmo sem saída, a luz é sempre uma possibilidade.



Boa noite.

Bom dia.

Bom sol.

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