quinta-feira, 5 de junho de 2003

O verbo Querer é intransitivo
Ela chegou em casa naquela madrugada pensando em como seria bom se apaixonar de novo se fosse recíproco. Como seria bom qualquer coisa, se fosse recíproco. Nem precisava ser uma paixão avassaladora, bastava ser bom, e recíproco. Ela pensou em tantas coisas pra dizer e pra fazer... se fosse recíproco. Ela tem um pouco de esperança, mas às vezes acha que é tudo tão racional... Uma grande bobagem, talvez. Talvez nunca saiba ao certo. Mas queria.

Vim no carro escutando músicas que me trazem lembranças, mas pensando nas letras que eu queria pôr pra você ouvir. Pensando nas músicas que eu queria ligar a você e então teríamos a nossa trilha sonora desde o começo. Sem pretenção nem planejamento... só estava pensando e sendo um pouco feliz com a possibilidade da sua presença no banco ao meu lado. Ou a minha presença no banco ao seu lado. Vim cantando pra você algumas coisas, e sorrindo como se você pudesse me ver. Você que, na verdade, poderia ser outra pessoa. Mas é você porque as circunstâncias te trouxeram. Não é ruim pensar assim. Porque não deixa de ser um sentimento sincero e nobre. É você, afinal. Tenho te dado sinais de tudo isso e acho que é tão claro. Nem sei por quê, ou pra quê, afinal não te sinto perto quando estamos perto. E te sinto a milhas quando estamos longe. Auto-orientação, me disse uma amiga. Acho que é isso. Tenho me auto-orientado... Tenho me auto-preenchido. Tenho me auto-convencido. Auto-piedade. Auto-amor. Não sei mais o que fazer pra te mostrar a porta aberta. E sei menos ainda como identificar se a porta aberta te interessa... Portanto, mais uma vez, vou acabar deixando pra lá. Mas não tem problema. Vou dormir e amanhã quase já esqueci.

Ela assistiu a novela que tinha gravado. E pensou em como tem se comovido com aquelas histórias... Já é tão tarde e ela precisa estar de pé, e disposta, daqui a algumas horas. Aquele teatro lotado de crianças vai tirá-la do ar por alguns longos minutos, e ela queria dormir bem pra aproveitar bem esses minutos. Mas já não foi. Cada palavra digitada é um momento a menos de sono. Cada lembrança cheia de saudade é mais uma onda da maré contrária à auto-tentativa de amar de novo. Cada silêncio respirado profundo é mais um lapso de certeza da ilusão que você tem sido. Ela cansa.

Preciso descansar.
Até amanhã.
Tomara que sem Querer.
Ou tomara que Querida.
Preciso.

Nenhum comentário: