domingo, 30 de novembro de 2008

mas então amanheceu

já era tarde quando ela acordou. sentiu-se estranha ao abrir os olhos e sabia que alguma coisa estava diferente. essa é uma das sensações na vida que ela mais teme (e se repete, de tempos em tempos, inevitavelmente): a sensação do amanhecer diferente quando o diferente significa que levaram dela algo de muito importante. mas, então, amanheceu. e o primeiro pensamento de todas as manhãs não estava mais lá. se perdera. se perdera assim, casualmente, como ela se perde de vez em quando por ruas desconhecidas tentando voltar pra casa. foi daquele jeito. acelerando o carro e dobrando as esquinas, tranquila, querendo acreditar que estava no caminho certo. mas não. era para o outro lado. e ela se dá conta tarde, na maioria das vezes. tarde para chegar na hora exata. tarde para dar tempo. tarde para evitar a sensação temida. da perda, enquanto amanhece.

(e aí, ela sabe, não tem outro jeito a não ser respirar fundo, aumentar o som, e tentar achar um retorno. mas o retorno da metáfora nem sempre existe.)

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