sábado, 22 de novembro de 2008

bem aventurados os anjos que amam (ou que sonham)

- é ela, disse a moça de olhos ainda pintados, apresentando a sua menina dos olhos.

todas as outras que olhavam puderam ver que o sorriso da moça ao dizer é ela se abriu escancarado como girassóis ao sol. ela esperara por aquele momento como quem espera um filho, tamanha a alegria que lhe invadia quando imaginava a possibilidade.

sim, ela esperava por aquele momento, e já não podia mentir para si mesma como se o amor fosse inventado. não era. pelo menos o que ela sentia não era mesmo inventado. era uma das coisas mais lindas que já sentira na vida inteira. e estava ali. o coração batia disparado e agora um monte de outros olhos viam. não era uma ilusão. embora pudesse ser ainda - e ela sabia - apenas um desejo profundo que jamais se tornaria realidade. mas existia.

ela estava ali e todos a viam com a sensação contida da descoberta de um mito, de uma miragem, de um grande amor anunciado e até então sem rosto, sem cheiro, sem gosto, sem a noção real do tamanho do brilho daquele rosto. e a moça sentiu um prazer tão indescritível e sublime em tê-la ali no seu mundo, que quis congelar aquele momento e viver nele para sempre - quase se esquecendo de que quer e precisa de mais do que só aquilo.

e, então, depois de ver quem ela é, todas compreenderam o amor avassalador.
e também a amaram.

pois desta vez eu quero o poema um pouco ao contrário: que eu possa tocar o que fique.

(...)

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão

drummond

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