segunda-feira, 17 de março de 2008

de livros, de tristezas, de partidas e reencontros, de paixão, de amor

"Não sou mais um escritor. Estou cego. Para escrever, preciso ver. Não leio, não consigo escrever também. Sou um ex-escritor. A literatura perdeu completamente o sentido para mim. Não me lembro mais de nenhum poema meu."
João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

Por ele, leiamos. Inesgotavelmente. Por amor.

Simone e Jean Paul partem, vivendo ainda e para sempre comigo.
As Avós me roubam uma madrugada insone e deixam muitas outras por pensar, em nós.

Volta à minha casa a morte, desta vez decidida a me contar tudo. Tudo sobre a menina que Correu o dorso da mão pela primeira prateleira, ouvindo o arrastar de suas unhas deslizar pela espinha dorsal de cada livro. Soava como um instrumento, ou como as notas de pés em correria. Ela usou as duas mãos. Passou-as correndo. Uma estante encostada à outra. E riu. Sua voz se espalhava, aguçada na garganta, e quando ela enfim parou e ficou postada no meio do cômodo, passou vários minutos olhando das estantes para os dedos, e de novo para as prateleiras. Em quantos livros tinha tocado? Quantos havia sentido? Andou até o começo e fez tudo de novo, dessa vez muito mais devagar, com a mão virada para frente, deixando a palma sentir o pequeno obstáculo de cada livro. Parecia magia, parecia beleza, enquanto as linhas vivas de luz brilhavam de um lustre. Em vários momentos, Liesel quase puxou um título do lugar, mas não se atreveu a perturbá-los. Eram perfeitos demais. A roubadora de livros, que está me enlouquecendo de amor. Não sei como pude deixá-la um dia. Mas amores que não acabam, acabam voltando para casa.

Tenho ainda já em meus braços e aos pedaços em mim as Histórias para ler sem pressa.
E Rufo, em meu melhor abraço, que não me larga até que eu aprenda sobre os laços, todos.

Não sei até quando terei olhos.
Ou paz.

PS: mas te ver, assim, todo dia é a melhor das histórias que tenho por contar. por amor.

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