domingo, 9 de junho de 2002

Oscar Wilde
Sábado à noite... Comi no Koi com a Aninha e depois fui assistir ao espetáculo De Profundis. Um pouco de laboratório pra Joana da Gota d'Água que vem aí. Mas que peça linda! Que luz! - a iluminação é maravilhosa e faz metade do espetáculo -, que visual, que cenário... "Clima" - como diriam Os Menestréis. O texto é bem difícil, mas bem bonito.

"O prazer é a beleza do corpo e o sofrimento é a beleza da alma."
"Sempre matamos quem adoramos."


De Profundis: Com a intenção de resgatar alguns dos aspectos fundamentais de De Profundis, uma carta que virou livro, escrita pelo poeta e dramaturgo Oscar Wilde (1856-1900), a companhia Os Satyros aborda neste espetáculo a paixão pela arte, o anarquismo, a sensibilidade e faz uma reflexão sobre a existência. O enredo conta a história de Wilde, que usa a imaginação e as lembranças para suportar as terríveis condições da prisão. Apesar das críticas severas a Lord Alfred, seu amante, ele alimenta o amor dentro de si para sobreviver. O personagem se vê às voltas com três prisões: a do corpo, a da alma e a da beleza. Os espectadores são enclausurados junto com o personagem em uma cela.

(...) apareceram as provas (muitas delas forjadas por Queensberry - pai do amante de Oscar) de que Wilde era um verdadeiro sondomita: camareiros de hotel testemunharam, cartas de amor foram reveladas, a arte de Wilde foi considerada pervertida pelo juiz que, em maio daquele ano, resolveu sentenciar raivoso: "É inútil dirigir-me ao senhor. Pessoas capazes de fazer essas coisas devem ser insensíveis a qualquer sentimento de vergonha... A sentença deste tribunal é que o senhor seja encarcerado e mantido sob trabalhos forçados por dois anos".

Na prisão de Reading, onde cumpriu a maior parte da pena, Wilde foi privado de tudo que qualquer ser humano pudesse desejar. Na cela não tinha sequer uma latrina, o sol nascia e se punha num quadrado. Papel e caneta, ele recebeu somente no final de sua pena. "Não há prisão no mundo onde o amor não possa forçar a sua entrada." Imbuído de paixão, ressequido pela condenação, Wilde não arrefeceu em sua arte. Foi no ambiente infecto da prisão que escreveu De Profundis, uma carta apaixonada e, em alguns momentos furibunda, para Lord Alfred Douglas, transmitindo-lhe o que aprendera na dor da experiência de confinamento, versando sobre estética, Cristo, amor e devoção, hipocrisia e crueldade. Do lado de fora das grades, o nome Oscar Wilde era retirado dos cartazes dos espetáculos, seus livros sumiam das prateleiras, a esposa retirara o sobrenome Wilde de seus dois filhos. Wilde morreu em 30 de novembro de 1900. Seu enterro teve mais flores do que gente.

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