segunda-feira, 18 de maio de 2020

Aquilo que fundamenta e sustenta; base, apoio, estrutura

Sempre existe uma razão para não-quereres. Dá-se voltas, encontra-se brechas, tenta-se desvios, esforços, disfarces para as ausências do sentir, mas sempre há uma razão concreta para o não-querer. É doído, é triste, é, muitas vezes, o fim de um sonho lindo. Pode não ser falta de amor, mas é sempre alguma coisa que falta. E se for de natureza essencial, se for parte dos alicerces, se for coluna ou viga, aí não tem jeito: vai desabar. Qualquer engenheiro sabe. Se a estrutura básica não for consistente, pode usar o melhor tijolo, o melhor cimento, o melhor acabamento... pode até ir trocando as cores, os sabores e os vetores para tentar enfeitar e dar uma iludida no que se vê, mas vai desabar. Então quando, de repente, a razão dos não-quereres aparece e ela está na base de tudo, há duas opções: constrói mesmo assim e espera o desastre a qualquer momento, ou aceita, abandona o projeto fadado ao erro, e começa tudo de novo, onde se possa consertar qualquer problema ou rachadura que surgir porque as estruturas do querer estão lá, firmes.

No caso de uma relação, o alicerce para tudo é admirar quem o outro é. O resto só pode vir depois disso. Ninguém é perfeito e nem se espera que seja, por isso é preciso admirar o jeito de ser do outro para poder enfrentar junto as imperfeições, lidar com elas sem tanto peso, ajudar a corrigir as miopias, QUERER ser parte da caminhada onde é possível melhorar quase tudo junto. Os quereres inabaláveis e que superam pequenas (ou até enormes) diferenças só existem se a admiração básica existir. Senão, é tudo frágil, o desejo fica sujeito a UMA palavra mal colocada, as vontades se perdem em UMA opinião contrária, todos os quereres se dissipam diante de UM tom equivocado. Esse amor é uma ilusão, é aquilo que a gente gostaria muito de sentir, mas não consegue porque não admira a essência do outro.

"Eu não admiro seu jeito de ser" é, talvez, a coisa mais dura e mais triste que já escutei de alguém que eu amo. Principalmente por que, ainda que eu mude tudo em mim, não tenho como refazer quem eu sou. E ainda por cima sou obrigada a conviver diariamente e para sempre com esse meu jeito de ser inadmirável.

Ou talvez, e só talvez, "meu jeito de ser" seja a forma como cada outro escolhe ver.

Sempre há uma razão para não-quereres. E, se quando a razão aparece, a gente se dá conta de que ela está na base de tudo, nenhum querer será suficiente.

Mas tudo isso é talvez, e só talvez, porque faz parte do meu jeito de ser saber que não sou, nunca fui e nunca serei a dona da verdade.

Eu te admiro apesar de. E te amo porque. Talvez, e só talvez, isso seja o alicerce do meu querer. Mas alicerce só de um lado não segura o prédio inteiro; mais cedo ou mais tarde, desaba tudo junto. Ou será que existe outra engenharia? Talvez, só talvez.

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