quinta-feira, 20 de agosto de 2009

pequena

hoje eu escrevo pra você, que eu sei que me lê, porque chove muito lá fora e acho que você chora sozinha no seu quarto. então lhe faço companhia. você que hoje representa tantas noites que já foram minhas. o papel que tantas vezes foi meu. e ainda é também. e será tanto ainda, embora eu tente. você que talvez seja pequena demais para uma dor tão grande. frágil embora forte. nessa dor da chuva tão cruel que às vezes nenhuma força suporta (além do tempo). muita gente nem sabe. se soubesse não entenderia. a dor. encharcada de falta e vazio e ausência e frio, quem sabe. muita gente não compreenderá jamais. a dor da chuva. mas eu sei e compreendo porque já estive lá. por isso lhe escrevo. você não está sozinha na chuva. ela é nossa. quem já passou por essa tempestade se torna cúmplice para sempre de todos os outros. quem já passou por essa tempestade detém este segredo inacreditável para quem está bem no meio dela: ela passa. mas enquanto é só segredo e você não sabe, eu escrevo pra você. porque chove e você provavelmente chora sozinha no seu quarto. eu lhe escrevo, sozinha no meu. e então estamos juntas e a vida segue com algum conforto. ainda que pequeno, pequena.

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