quinta-feira, 14 de maio de 2009

a estranha

- tá tudo muito estranho, ela disse.
eu, concordei.

ali diante daquele rosto que de estranho para mim já não tem nada, concordei.
protegida atrás da penumbra e das minhas omissões convictas, concordei.
concordei sorrindo, ainda que resignada:
- é, tá tudo muito estranho mesmo.

mas concordei pensando na distância enorme e intransponível que há entre o estranho dela e o meu. o dela é ingênuo e passageiro, se resolverá logo. o meu, não. o meu estranho é profundo e vai permanecer. estará lá a cada penumbra e a cada uma das minhas omissões repetidas. será tudo sempre muito estranho enquanto eu não sei exatamente do que ela fala e enquanto eu falo de qualquer coisa para prolongar o tempo, a penumbra e o meu sorriso. será sempre muito estranho enquanto for estranho. para ela, raso e infantil. para mim, um céu, um mar, um absimo.

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