domingo, 29 de março de 2009

crucificação

o filho morreu na cruz e ela junta livros e ossos para fazer um altar no quarto do sanatório. hospício. instituição para doentes mentais. lá está ela juntando títulos e pedaços. Iesu, filho. há dois vestidos e um contorno de menino estirado no chão. há tinta vermelha, rosas com espinhos, uma coroa dourada e algumas velas. o filho nato e morto repousa em apenas dois retratos: um presépio e um crucifixo. meu filho. a idéia fixa que a trouxe aqui é a de que nada mais importa, o diário em branco. ela cobre as imagens do horror com o vestido imaculado que arranca de si durante a histeria. mas depois o recoloca e se distrai com a ilusão do lindo altar para o filho crucificado e salvador. de repente tem o susto de ver outra vez a verdade. mas quem fez isso, meu Deus? e a cena se repete no ciclo interminável da vida interna. interna. juntando livros, ossos, crimes e castigos. e penitência do que nem sabe. tem uma fé que pisca. Iesu. uma comédia. divina e trágica. de um sofrimento aterrador. o horror do filho na cruz faz dela uma repetição de insanidades. hospício. instituição para doentes mentais. e ossos.

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