segunda-feira, 9 de março de 2009

como o copo de leite

há dois dias eu choro. dessa tristeza calma, mas tão profunda que fica lá, latente. nada me distrai. há dois dias, dois anos inteiros de ausências irreparáveis me pesam no coração. e nada mais existe. por enquanto nada mais existe depois do que eu perdi há dois dias. porque a gente às vezes pensa que já deu o grande passo, antes de ter dado de verdade. e aí vem a surpresa amarga que derruba: lá estamos nós, ainda - sem estar. há dois dias a força se perdeu em fragilidade absoluta. desprotegida de um abandono sem cura, choro. ferida da exclusão do instante mágico, completo e sem possível repetição. despertencida. retirada do que havia de mais sublime no amor mais amado da união mais guardada na vida mais misturada quase de ter nascido junto na mesma família - e com o mesmo nome. despertencida. indesejada. recusada. há dois dias eu choro como jamais imaginei, depois de tanto tempo. porque depois de tanto tempo acho que ainda te ofereço, toda noite, aquilo que você não quer. e, há dois dias, pra mim não houve noite: fiquei lá, com um presente todo embrulhado em papel enfeitado nas mãos e não tive a quem dizer: tome, é seu, abra-o! des-per-ten-ci. há dois dias. e toda noite.

(como o copo de leite...)

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