sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

de prazos, desejos e sabedoria

um dia você vai ler isto e vai saber que estou falando pra você. (sic)

Triste não é mudar de idéia. Triste é não ter idéia para mudar.

o caso é que de uns oito anos pra cá, desde que consegui o emprego com que eu sonhava e depois que tomei a primeira e talvez maior rasteira da vida (a separação da primeira pessoa que mais amei), desde então, passei a não conseguir, ou nem querer, fazer planos a longo prazo. fatalmente parei de pensar nisso. desanimei. em quase tudo. é verdade que voltei a planejar uma história longa e projetos eternos por um tempo (quando conheci a segunda pessoa que mais amei na vida), mas então passou. e pronto. a idéia ou a preocupação com qualquer coisa que fosse acontecer no próximo mês já não fazia parte dos meus pensamentos diários. era hoje, amanhã, semana que vem no máximo. afinal, eu posso morrer na próxima hora, atropelada por carro ou por tiro. ou de uma súbita doença fatal. então, pra que planejar? sem planos para o próximo verão. sem estoque de suprimentos para o próximo inverno. sem norte, eu diria. mas tudo bem. sem traumas também.

então, um dia, você com a sua sabedoria de meses à frente diz pra mim uma coisa que me faz pensar: daqui a dez anos - caso eu ainda esteja viva - terei chegado lá sem nada OU com alguma coisa. esses dez anos vão passar de qualquer jeito: comigo ou sem mim. quero dizer, se eu andar para algum lugar ou ficar parada, se construir alguma coisa ou não, os dez anos terão passado. filosofia de botequim? talvez. mas me incomodou. e está aí o primeiro passo pra mudar um ciclo inútil. então pensei numa gaveta com as mesmas coisas de sempre ou então cheia de faixas coloridas. pensei em não saber nada ou numa arte aprendida, em metas constantemente buscadas e alcançadas. em maratonas corridas, em novas línguas faladas, no som de um instrumento saindo das próprias mãos, em uns lugares novos visitados. numa prateleira com mais coisas lidas do que só compradas. um filho feito, um livro escrito.

na sequência (até o trema mudou), não consegui evitar o auto-questionamento fatídico: mas pra quê? no entanto, desta vez, eu respondo para minha própria surpresa: porque sim. porque de repente faz sentido. porque eu devo estar ficando mais inteligente. porque eu não tenho nenhuma idéia melhor ou maior. e porque vai passar comigo ou sem mim. e eu quero que seja comigo.

e lá vou eu, e faço um absolutamente gigantesco plano incial de semanas, e então de meses a fio, que serão anos, e finalmente uma vida inteira. agora gosto de pensar nisso (ainda que um dia eu bata a cabeça e esqueça). gosto de pensar nisto: o enorme, desafiador e delicioso plano a longo (ou infinito) prazo.

simplesmente porque agora eu preciso que os dias passem, em vez de precisar passá-los.
eu preciso ir até lá, em vez de poder ir ou não.
eu preciso porque eu quero, em vez de tanto faz.

meu prazo de tanto faz venceu. graças a Deus.
e a você. portanto, obrigada.
PS: mas corra, senão vai comer pó.

Somente os muito sábios e os muito tolos não se modificam.

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