domingo, 10 de fevereiro de 2008

buraco

eu lembro que só podia ouvir a minha própria respiração.
sentia os carinhos
as flores
os cheiros.
via através das pálpebras
as luzes
as gentes
os choros.
mas só podia escutar a minha respiração.
alta, pausada, tranqüila.
era o som que eu tinha da despedida de mim mesma.
a respiração alta e tranqüila do mergulho profundo.

colocaram a tampa.
depois de um arrepio,
passei a ouvir também os passos.
muitos, compassados e lentos.
quase a me ninar
num balanço sem volta.

fim dos passos.
silêncio.
um longo silêncio inacabado.
e a chuva de terra.
o som da chuva de terra
aumentando em tempestade
e silenciando em si todos os outros sons.

súbito, o nada.
pausa.
vácuo.
limbo.
breu.

aqui, nem mesmo a lembrança do que acabei de contar.
nem mesmo a lembrança de haver lembranças.

nada.
pausa.
vácuo.
limbo.
breu.
breu.
breu.
eu.

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