domingo, 27 de dezembro de 2009
sábado, 26 de dezembro de 2009
faxina
Logo para começar, a melhor coisa a fazer é varrer toda essa raiva da frente.
A raiva do semelhante, do distinto, do consorte, de nós mesmos. A raiva dos mais queridos, dos desafetos, dos inimigos, dos cretinos, dos boçais, dos corrompidos, dos coitados. Do destino. Do passado. Do presente. Do ausente. Da falta de sorte, da falta de tempo, da falta de estímulo, da falta de grana. Do desgraçado do chefe, do empregado, do salário, da injustiça. Do revés, do obstáculo. Da inércia. Da ausência de horizontes.
A raiva do amor. Da falta do amor. Do desgosto. A raiva do mundo inteiro. E ainda a raiva da raiva, coitada, que não tem culpa de nada, só pratica seu ofício, é apenas sentimento.
É bom espanar com vigor a raiva que pulsa, sobe, explode e vinga. Então, dá-se uma varredura geral naquelas guardadas, cultivadas, conservadas ou escondidas embaixo de algum tapete.
Dito que a raiva cega, assim que ela é afastada pode-se então enxergar mais fundo. É hora de vasculhar as mágoas.
Certamente se encontrarão antiguidades. As mágoas de infância, mesmo as motivadas por tolices, são as mais enraizadas. Arranca-se tudo. Em seguida aparecem as apaixonadas, dos tempos de juventude: invejas, ciúmes, traições, feridas mal cicatrizadas, tudo muito exagerado. Estas têm uma vantagem: muitas são vindas de êxtases, big-bangs adolescentes, foram devidamente expelidas desde quando apareceram, portanto já se desagregaram da alma. O que sobrou é fragmento. Pouco. Resto.
Mas as mágoas mais recentes, as que permanecem alertas e continuam se alastrando, são veneno. Contaminam. Por isso é tão necessário que sejam remexidas com toda cautela possível. Depois de identificadas, todas as mágoas, sem exceção, devem ser exterminadas. Recomenda-se muito fogo para reduzir a cinzas tudo que indevidamente ficou lá atrás, encarcerado.
Antes de dar cabo das frustrações que foram ficando incrustadas na gente, convém organizá-las para devida apreciação. Cada método de organização tem suas vantagens e desvantagens. As frustrações podem ser selecionadas por ordem alfabética, cronológica ou de importância (o critério “importância”, além de ser bastante discutível, também é fadado a alterações circunstanciais, por vezes súbitas). Ou podem ficar misturadas, uma vez que fazem parte do mesmo tipo de sentimento: dor. De uma forma ou de outra, é indicado rever uma a uma. Provavelmente descobriremos que elas já não fazem o menor sentido. Sendo assim, afastamos seus fantasmas.
Chegamos agora às culpas. Terreno perigoso. Cheio de armadilhas. Há muitos tipos de culpa: as parasitas, as vampiras, as moluscas, as gulosas, as teimosas, as dissimuladas. Há aquelas que assumimos sabendo que não são nossas. As que nos submeteram, nos enfiaram goela adentro, e, humildes, incorporamos. Já viraram patrimônio. Estão entranhadas no corpo.
Há as que já nasceram ávidas para nos estragar o dia. Muitos dias. Meses. Anos. São as que nos fazem sentir causa, razão, motivo, estopim, bomba. Ah, como estas atormentam! Visto que culpa é moléstia, neste ponto da faxina é imprescindível uma aniquilação geral e irrestrita, sem possibilidade de anistia alguma.
Deletadas as raivas, mágoas, frustrações e culpas caducas é então que ele surge, com seu jeito impávido: o cerne do sofrimento, origem das amarguras, principal culpado da bagunça – o medo. Como uma pérola dentro da ostra.
O medo de morrer. O medo de viver. O medo de perder. O medo de ganhar. O medo de crescer, agir, sofrer, querer, transformar. O medo de se encontrar.
Ele é o monstro, o demônio, o desterro.
Dá o fora, medo!
Queremos a alma limpa e arrumada.
Dia de Faxina, Adriana Falcão no Estadão
Logo para começar, a melhor coisa a fazer é varrer toda essa raiva da frente.
A raiva do semelhante, do distinto, do consorte, de nós mesmos. A raiva dos mais queridos, dos desafetos, dos inimigos, dos cretinos, dos boçais, dos corrompidos, dos coitados. Do destino. Do passado. Do presente. Do ausente. Da falta de sorte, da falta de tempo, da falta de estímulo, da falta de grana. Do desgraçado do chefe, do empregado, do salário, da injustiça. Do revés, do obstáculo. Da inércia. Da ausência de horizontes.
A raiva do amor. Da falta do amor. Do desgosto. A raiva do mundo inteiro. E ainda a raiva da raiva, coitada, que não tem culpa de nada, só pratica seu ofício, é apenas sentimento.
É bom espanar com vigor a raiva que pulsa, sobe, explode e vinga. Então, dá-se uma varredura geral naquelas guardadas, cultivadas, conservadas ou escondidas embaixo de algum tapete.
Dito que a raiva cega, assim que ela é afastada pode-se então enxergar mais fundo. É hora de vasculhar as mágoas.
Certamente se encontrarão antiguidades. As mágoas de infância, mesmo as motivadas por tolices, são as mais enraizadas. Arranca-se tudo. Em seguida aparecem as apaixonadas, dos tempos de juventude: invejas, ciúmes, traições, feridas mal cicatrizadas, tudo muito exagerado. Estas têm uma vantagem: muitas são vindas de êxtases, big-bangs adolescentes, foram devidamente expelidas desde quando apareceram, portanto já se desagregaram da alma. O que sobrou é fragmento. Pouco. Resto.
Mas as mágoas mais recentes, as que permanecem alertas e continuam se alastrando, são veneno. Contaminam. Por isso é tão necessário que sejam remexidas com toda cautela possível. Depois de identificadas, todas as mágoas, sem exceção, devem ser exterminadas. Recomenda-se muito fogo para reduzir a cinzas tudo que indevidamente ficou lá atrás, encarcerado.
Antes de dar cabo das frustrações que foram ficando incrustadas na gente, convém organizá-las para devida apreciação. Cada método de organização tem suas vantagens e desvantagens. As frustrações podem ser selecionadas por ordem alfabética, cronológica ou de importância (o critério “importância”, além de ser bastante discutível, também é fadado a alterações circunstanciais, por vezes súbitas). Ou podem ficar misturadas, uma vez que fazem parte do mesmo tipo de sentimento: dor. De uma forma ou de outra, é indicado rever uma a uma. Provavelmente descobriremos que elas já não fazem o menor sentido. Sendo assim, afastamos seus fantasmas.
Chegamos agora às culpas. Terreno perigoso. Cheio de armadilhas. Há muitos tipos de culpa: as parasitas, as vampiras, as moluscas, as gulosas, as teimosas, as dissimuladas. Há aquelas que assumimos sabendo que não são nossas. As que nos submeteram, nos enfiaram goela adentro, e, humildes, incorporamos. Já viraram patrimônio. Estão entranhadas no corpo.
Há as que já nasceram ávidas para nos estragar o dia. Muitos dias. Meses. Anos. São as que nos fazem sentir causa, razão, motivo, estopim, bomba. Ah, como estas atormentam! Visto que culpa é moléstia, neste ponto da faxina é imprescindível uma aniquilação geral e irrestrita, sem possibilidade de anistia alguma.
Deletadas as raivas, mágoas, frustrações e culpas caducas é então que ele surge, com seu jeito impávido: o cerne do sofrimento, origem das amarguras, principal culpado da bagunça – o medo. Como uma pérola dentro da ostra.
O medo de morrer. O medo de viver. O medo de perder. O medo de ganhar. O medo de crescer, agir, sofrer, querer, transformar. O medo de se encontrar.
Ele é o monstro, o demônio, o desterro.
Dá o fora, medo!
Queremos a alma limpa e arrumada.
Dia de Faxina, Adriana Falcão no Estadão
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
FIVE in the EIGHT
Looks like we made it Look how far we've come my baby We might took the long way We knew we'd get there someday They said, "I'll bet they'll never make it" But just look at us holding on We're still together, still going strong
Ain't nothing better We beat the odds together I'm glad we didn't listen Look at what we would be missin' They said, "I'll bet they'll never make it" But just look at us holding on We're still together, still going strong
I'm so glad we made it Look how far we've come my baby.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
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